Lisa Gomes, repórter vítima de transfobia, fala de suas dores, desafios e planos para o futuro

Reprodução/Instagram

Há poucos dias do Dia Internacional Contra à LGBTQIA+fobia (17 de maio), criado em 1990 para relembrar os números alarmantes de violência envolvendo esse grupo de pessoas, um caso de transfobia ganhou espaço na mídia. O cantor Bruno, da dupla sertaneja Bruno&Marrone, amado por uma legião de fãs, teve uma lamentável atitude transfóbica e agora está tendo que lidar com as consequências e críticas de todos os lados. A vítima também é conhecida do público: a repórter do TV Fama, Lisa Gomes, mulher trans que trabalha na emissora há 10 anos. Aliás, a primeira repórter trans da TV aberta no Brasil. Para piorar, tudo aconteceu (Bruno perguntou, sem mais nem menos, “Você tem pau?”) enquanto a jornalista estava fazendo seu trabalho, nos bastidores de um show, em meio a outras pessoas. E hoje, Lisa desponta como um exemplo contundente das dificuldades e desafios que as pessoas LGBTIA+ encontram durante a vida.

“Na hora fiquei em choque. Estava cercada de pessoas da equipe dele, da TV. Apenas terminei a entrevista e fui para o carro chorando. Estou péssima com essa confusão toda em torno do meu nome. Não queria ter minha intimidade exposta desse jeito. Sempre tive muito problema com a exposição, porque não me sinto confortável com meu corpo. Foi assim desde sempre. Vivemos no corpo errado e isso machuca todas as vezes que nos olhamos”, desabafa Lisa, ainda bastante abalada com tudo o que está acontecendo.

Nascida em Pernambuco, Lisa mora em São Paulo há 20 anos. “Vim aos 19 anos para estudar teatro. Só que logo deixei o teatro e comecei no jornalismo. Meu processo de transição aconteceu pouco depois que cheguei a São Paulo. Antes disso não me aceitava como transexual. Quem ajudou a me aceitar foi minha mãe. Ela não tinha informação sobre nada disso. Um dia assistiu um programa sobre crianças transgêneras, me ligou e falou ‘quero pedir perdão porque sempre tratei você como menino e não enxerguei que você é uma mulher trans’. Me senti liberta naquela hora, porque receber o apoio da família é muito importante. A transição acontece na verdade na nossa cabeça. Ainda não fiz o processo de redesignação, cirurgia… tenho muita vontade, mas ainda não tive coragem”.

Casada há cinco anos com Paulo Roberto, analista de sistemas, Lisa faz planos para o futuro. “Paulo é uma pessoa incrível, mudou completamente minha vida. Ele já tem três filhos e queremos adotar uma criança em breve”, revela ela, que foi acolhida por muita gente bacana no episódio de transfobia da semana passada. “Fiquei feliz de ver o vídeo que o Carmo Dalla Vechia postou e viralizou. Não tenho amizade com ele, nunca vi, nunca entrevistei, mas estou louca para dar um abraço e agradecer por esse carinho. Vários artistas me apoiaram também. Tanta gente bacana. Vi que eu não tava errada”.

E para finalizar, Lisa dá a letra: “No Dia Internacional de Combate à Homofobia quero dizer que não podemos nos calar. Hoje temos uma arma poderosa que é a internet, alguém vai ouvir e compartilhar nossa dor. Quero dizer para as minhas amigas transexuais, mulheres trans, que a transfobia não é opinião, é crime, e a gente precisa fazer com que os criminosos paguem pelo que fizeram. E quero dizer que elas não estão sozinhas. Estamos todas juntas”.

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