Por Flávia Meirelles
GLMRM conversou com o Dr. Daniel Herchenhorn, Coordenador Científico da Oncologia D’Or, Professor de Oncologia na University of California San Diego e Doutor em Oncologia pela USP, sobre o câncer de próstata e a importância do Novembro Azul, mês de conscientização e combate a essa doença.
O câncer de próstata: uma doença do envelhecimento ou genética?
O câncer de próstata é o câncer mais comum em homens depois do câncer de pele e pode chegar a acometer, dependendo do país, um a cada oito homens. É mais frequente após os 50 anos e sabemos que quanto mais velhos ficamos, maior a chance de encontrarmos a doença, mesmo que em homens assintomáticos.
Mas o câncer também é uma doença com importante base genética. Pessoas que têm histórico na família de câncer podem ter o risco aumentado para desenvolvê-lo. O câncer hereditário de próstata possui a mesma mutação genética que a encontrada em câncer de mama e ovário (alterações no gene BRCA), e é responsável por 5% a 10% dos casos. Além disso, mutações genéticas que lembram as alterações hereditárias, podem ser encontradas em até 20% dos pacientes com doença já em estágio avançado. É importante que o diagnóstico seja personalizado e que seja feita, quando possível, a testagem genética, seja para descobrir fatores hereditários ou identificar o melhor tratamento para cada paciente. Idealmente, pacientes devem ser manejados por equipes multi-disciplinares, que tenham uro-oncologistas, urologistas, rádio-oncologistas especializados, para a melhor tomada de decisões.
Quais são os fatores de risco e os principais sintomas?
Os principais fatores de risco são a idade, o histórico familiar de câncer de próstata (parentes de 1o grau com a doença), a obesidade (o excesso de peso pode contribuir para o desenvolvimento desse tumor) e etnia (homens de pele negra sofrem maior incidência deste tipo de câncer).
Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e, quando alguns sinais começam a aparecer, podem simular sintomas comuns a hiperplasia prostática, como dificuldade ou urgência para urinar. Infelizmente, quando a doença já apresenta sintomas, pode ser mais avançada, dificultando a cura. Em casos de metástases ósseas, sintomas podem ser relacionados a perda de peso ou dor óssea.
Existe uma idade ideal para se começar a fazer os exames preventivos?
Pacientes com histórico familiar importante devem começar a fazer o acompanhamento com um urologista mesmo antes dos 50 anos, com o exame de toque retal e dosagem sanguínea de PSA. Uma vez identificadas alterações nos exames, o ideal é lançar mão da ressonância magnética (ressonância multiparamétrica da próstata), capaz de identificar lesões bastante pequenas e direcionar com maior precisão a realização das biópsias, caso haja necessidade. Os demais devem fazer o acompanhamento anual com o exame de toque retal e o PSA a partir dos 50 anos. O que tem sido discutido na literatura científica por especialistas do mundo todo é até que idade deve-se manter a prevenção, pois acima dos 75 anos podemos acabar diagnosticando câncer de próstata em boa parte dos homens e nem sempre há necessidade de tratamento, dada a lentidão de crescimento de muitos tumores. A partir dessa idade, o cuidado deve ser feito para só identificar e tratar pessoas que realmente vão se beneficiar com o exame e tratamento. Alguns homens, com doença inicial considerada de baixo risco, podem ser manejados sem que seja necessário um tratamento imediato, através de acompanhamento, chamado também de vigilância ativa.
Quais são os principais tratamentos disponíveis hoje?
Uma vez identificada a doença, o arsenal terapêutico está cada vez mais amplo, menos invasivo, e mais individualizado, atuando basicamente em duas frentes, a dos tratamentos localizados e sistêmicos. Os tratamentos localizados são recomendáveis para o estágio inicial da doença, quando ela ainda se encontra na próstata e, no máximo, nos linfonodos adjacentes. Enquanto que os tratamentos sistêmicos são recomendáveis para os estágios avançados da doença, quando há metástase, ou associados a radioterapia. No âmbito dos tratamentos localizados estão a radioterapia e a cirurgia. Ambas passaram por grande evolução, graças a tecnologia que permite realizar radioterapia em menor tempo e com mais precisão, além de cirurgias robóticas, em que o paciente permanece menos de 48 horas internado e com pós-operatório muito mais tranquilo. No campo dos tratamentos sistêmicos, quando a doença já alcançou outros órgãos, o crescente conhecimento sobre o comportamento molecular dos diferentes tumores permite uma sintonia cada vez mais fina dos procedimentos a serem adotados. A análise das características genéticas de cada paciente possibilita atendimentos cada vez mais personalizados. O surgimento de diversas novas drogas nos últimos anos, permitiu controlar o surgimento de resistência e dobrar a sobrevida dos pacientes.