A notícia de que o tradicional Bar Balcão poderia fechar as portas, que começou a circular no final de junho, deixou em polvorosa uma turma descolada que tem o bar como uma extensão de suas casas. Resultado direto do novo plano diretor da cidade, o bar daria lugar a mais um empreendimento imobiliário.
Depois de uma movimentação nas redes sociais, com a criação de um abaixo assinado e divulgação da hashtag #salveobarbalcao, uma cliente decidiu ir além, e entrou com um pedido de tombamento cultural e material no Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).
Francisco Millan, um dos sócios do Balcão, afirma que alguns detalhes construtivos podem ser relevantes. “O que há, até o momento, é a promessa de um depoimento, de cunho pessoal e memorialista, de quando o galpão do Balcão abrigava uma garagem ainda, coisa dos anos 1940”, diz Millan. “É uma tentativa. Tivemos clientes que sugeriram o tombamento, e são eles que estão levando em frente a iniciativa.”
A proprietária do imóvel, localizado na esquina da rua Dr. Melo Alves com a alameda Tietê, nos Jardins, assinou um compromisso de compra e venda com uma incorporadora, sem oferta de preferência de compra para o bar.
“O Balcão é uma praça de encontro de pessoas e grupos dos mais variados. Um lugar de conversa aonde a trama social é tecida”.
Francisco Millan, sócio
“Estamos conversando também com o próprio fundo imobiliário, tentando achar uma solução”, diz Millan. Uma das ideias seria reservar o espaço do bar, e incorporá-lo ao novo prédio.
Requisitos não faltam para transformar o Balcão em patrimônio: do projeto arquitetônico à importância do bar para a cidade.
Três décadas –ou quase– de história
O Balcão é um dos estabelecimentos mais icônicos de São Paulo, com seu balcão sinuoso de 25 metros, criado para favorecer a interação entre os clientes, uma fauna formata principalmente por arquitetos, jornalistas, artistas plásticos, atores e escritores – interação responsável pela formação de vários casais que lá se conheceram ou engataram um romance.
Várias dessas histórias foram descritas no livro “Balcão”, publicado em 2004, em comemoração aos seus 10 anos de vida. A edição, um presente para seus clientes assíduos, teve colaborações espontâneas e exclusivas de nomes ilustres, gente do calibre de Paulo Mendes da Rocha, Peter Pál Pelbart, Guto Lacaz, Deborah Bloch, Glória Kalil, Paulo Miklos, Arthur Lesher e muitos outros.
Para Milan, independentemente do desfecho do imbróglio, o importante é manter vivo o espírito do bar: “Que continuemos trabalhando e que o Balcão continue a ser o que sempre foi: um lugar de encontro”.