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Natalia Timerman
Foto: Renato Parada

Psiquiatra, escritora e doutoranda em literatura pela Universidade de São Paulo, Natalia Timerman é a nova colunista do GLMRM. Autora dos livros “Copo Vazio”, “Rachaduras” (finalista do prêmio Jabuti) e “Desterros”, a paulistana de 40 anos se surpreende com a repercussão de “Copo Vazio”, seu livro mais recente que investiga como as mulheres contemporâneas lidam com o abandono amoroso. “Quando escrevemos nunca esperamos o sucesso e tem sido uma surpresa. O livro continua reverberando porque ousa falar de sentimentos quase que proibidos pela chamada positividade tóxica”, comenta ela em papo com GLMRM.

“É como se a obra, de alguma forma, fizesse com que as pessoas sintam um certo alívio de não estarem erradas justamente por sentir”

Natalia Timerman

Segundo a autora, “Copo Vazio” não tinha o intuito de falar sobre relacionamentos. “Escrevi com muita verdade. Talvez, por isso, ele tenha reverberado desse modo. Por exemplo, descobri só depois do lançamento do livro o que era ‘ghosting’ (termo usado para designar o término repentino de um relacionamento sem deixar explicações). Foi tudo um grande aprendizado para mim.”

Renato Parada/Divulgação

Natália acredita que há uma certa culpa em relação aos sentimentos em pleno século XXI. “Na era do superar, do descartável, das redes sociais e dos aplicativos de relacionamentos há tanta gente disponível. Os elementos do sofrimento são a culpa e a vergonha por sentir e sofrer”, comenta ela.

De alguma forma, a pandemia intensificou essa confusão do amor ‘online’ e ‘offline’. “A gente ainda está tentando entender essa transformação, tanto da internet como da pandemia. Parece que algumas coisas atrofiaram por falta de uso, como estar com as pessoas. Acredito que vamos retornar, mas a vida offline será importante. São muitas adaptações, tivemos que passar do presencial para o virtual e agora temos que fazer o esforço contrário. A pandemia ainda pede cuidados, mas é algo que temos que ir dosando.”

A escritora diz que alguns dos novos comportamentos, como falta de responsabilidade amorosa seria uma forma de medir poder: “Performar indiferença dentro do relacionamento seria um modo de garantir poder inconcientemente. Se você quer se relacionar precisa ser verdadeiro. Não só isso, mas descobrir o que está sentindo. Isso não é necessariamente fácil. Neste tempo, em que somos constantemente bombardeados por imagens, é quase como se a gente não soubesse mais o que quer genuinamente”, comenta Natalia.

Existe um jeito certo de se relacionar em tempos de redes sociais? A paulista acredita que a maneira mais saudável é escutar os próprios silêncios. “Não ocupar todos os seus vazios é importante. Tem um escritor que amo, o Gaston Bachelard, que diz que é na solidão que as paixões cozinham.”

“A gente precisa estar sozinho para estar com os outros e até para entender o que estamos sentindo. As respostas podem estar nessa dinâmica do recolhimento e disponibilidade.”

Natalia Timerma

De acordo com ela, nenhum assunto é pequeno e inferior e tudo pode ser escrito: “Eu recebo mensagens de pessoas dizendo que querem escrever como eu, penso que é isso que elas querem dizer, escrever sobre o cotidiano, o banal. A literatura não é necessariamente o elevado”, afirma Natalia, que elege “Grande Sertões Veredas”, de Guimarães Rosa, “A Amiga Genial”, de Elena Ferrante, e “O Olho Mais Azul”, de Toni Morrison, como os três livros que marcaram sua vida.

Gostou do assunto? Então prepare-se que em sua coluna de estreia, Natalia reflete sobre as quatro “Natalias” que definem a sua vida atual e que representa a maioria das mulheres. Ela também promete explorar outros temas. “Terá um pouco de literatura e da vida como ela é, ou como gostaríamos que ela fosse (risos).”

Renato Parada/Divulgação

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