A Escola-fazenda Canuanã, localizada em Formoso do Araguaia, no Tocantins, às margens do rio Javaés e em frente à Ilha do Bananal, é uma iniciativa da Fundação Bradesco, fundada em 1973. Situada a cerca de 300 km de Palmas, a capital do estado, a escola oferece educação gratuita para cerca de 800 crianças e adolescentes de 6 a 18 anos, filhos de agricultores e trabalhadores rurais da região centro-norte do Brasil. Além das disciplinas tradicionais, a instituição também se destaca pelo ensino técnico, onde os alunos convivem com atividades produtivas da fazenda, como o manejo de animais e a produção de alimentos, preparando-os para o mercado de trabalho local.
O refeitório antigo, embora funcional, apresentava problemas relacionados ao conforto térmico, tanto no salão quanto na cozinha. Em resposta a isso, foi desenvolvido um novo projeto que reflete a integração entre o espaço, o alimento e o convívio social. O novo refeitório não é apenas um espaço de refeições, mas um ambiente que convida à ritualização do ato de comer, com foco em acolhimento e interação. A arquitetura incorpora uma dimensão pedagógica ao processo, estimulando os alunos a vivenciar esse momento de forma especial.
O acesso principal ao refeitório se dá por uma praça sombreada, que promove a interação social antes e depois das refeições. A praça inclui um espaço de convivência escavado no solo e um núcleo de apoio com sanitários e lavatórios, decorados com um painel do artista amazonense Denilson Baniwa, cujas cores urucum e jenipapo em cerâmica fazem referência à cosmologia Javaé. O refeitório acomoda até 300 pessoas simultaneamente e foi dividido em pequenos núcleos de mesas dispostas em salas ao redor de jardins internos. Esses jardins são compostos por vegetação nativa e filtram a luz natural que entra pelas grandes aberturas no teto, criando um ambiente de calma e harmonia.
A arquitetura do novo refeitório também foi projetada para enfrentar as condições climáticas extremas da região, como calor intenso, exposição ao sol e ventos que trazem terra. Sem o uso de climatização artificial, o edifício tira proveito da ventilação natural proporcionada por telas mosqueteiras e brises feitos de tijolos de solo-cimento, fabricados no próprio canteiro da fazenda com a terra local. Esses tijolos, além de serem sustentáveis, contribuem para o conforto térmico do ambiente.
O refeitório está estrategicamente localizado entre os núcleos administrativo e pedagógico da escola e também abriga a escola rural, uma unidade de aprendizagem integrada à cozinha industrial. A cozinha é responsável por preparar oito mil refeições diárias e foi concebida com uma infraestrutura robusta que inclui espaços para armazenamento, preparo, uma padaria, um açougue e áreas de aula. O projeto considera a gestão eficiente de insumos, o tratamento de resíduos e o pré-preparo dos alimentos, garantindo um ambiente de trabalho adequado para uma equipe numerosa, composta em parte por ex-alunos da escola.
A união entre o espaço pedagógico e a cozinha industrial visa proporcionar uma formação técnica completa aos estudantes, preparando-os para atuar na produção de carnes, laticínios e pães, integrando o aprendizado ao dia a dia da fazenda-escola. Mais do que um simples refeitório, o espaço se transforma em um ambiente de aprendizado, onde a arquitetura acolhedora e a relação com o entorno natural permitem uma experiência que vai além do ato de se alimentar, promovendo bem-estar e integração social.