o mês de agosto, todas as atenções se voltam para a comunidade lésbica, celebrando suas histórias, desafios e conquistas. Ao final de 2022, os resultados do primeiro LesboCenso Nacional: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil foram revelados, mostrando que 79% das 22 mil mulheres entrevistadas já experimentaram algum tipo de lesbofobia.
Para além da visibilidade lésbica, este mês também é uma oportunidade ímpar para reconhecer e aplaudir o inspirador trabalho dos projetos “lesbian chic”, que englobam um leque diversificado de áreas, desde a arte até a ação social e o meio ambiente. Esses projetos não apenas amplificam as vozes da comunidade lésbica, mas exercem um papel vital na promoção da igualdade, diversidade e consciência em toda a amplitude da sociedade. GLMRM destaca oito projetos “lesbian chic” que estão fazendo a diferença e fomentando a igualdade de gênero.
Jade Marra na SP-Arte
A artista, mineira e lésbica, que atualmente reside em São Paulo, é representada pela Galeria Celma Albuquerque – que estará presente na SP-Arte. Suas criações retratam cenas aparentemente comuns do cotidiano entre namoradas, porém destacam-se pelo afeto e intimidade que singularizam cada obra. As composições não se perdem em detalhes, optando por focar em poucos elementos que, mesmo sem revelar a narrativa completa, provocam um tom de mistério que instiga nossa curiosidade.
Magix Café
Criado pela médica ginecologista e digital influencer Marcela Mc Gowan, o Magix Cafe, é um espaço em São Paulo com enfoque no prazer feminino. Inaugurado em maio deste ano, fica localizado na zona oeste da cidade e combina uma sex shop com um café bar, oferecendo um ambiente acolhedor para mulheres explorarem e discutirem sua sexualidade. Sob a marca Magix, que foi introduzida por Marcela em 2022 como Ludix.
Sauna Lésbica na 35ª Bienal de São Paulo
A criação colaborativa de Malu Avelar, juntamente com Ana Paula Mathias, Anna Turra, Bárbara Esmenia e Marta Supernova, constitui um projeto que visa transformar uma instalação artística em um espaço coreografado pelos participantes, oferecendo um refúgio seguro e uma celebração para corpos dissidentes. Com o título “Sauna Lésbica”, essa obra interdisciplinar e participativa reúne as contribuições das artistas mencionadas, concentrando-se na diversidade de vivências lésbicas. O projeto foi selecionado para a 35ª Bienal de São Paulo, com abertura ao público agendada para 6 de setembro.
Espetáculo “A Inquilina”
“A Inquilina” é uma peça que narra a história de duas mulheres, ambas com mais de 50 anos, que se encontram e se identificam apesar de suas vidas distintas – uma vivendo no interior e outra na cidade grande. Compartilhando a solidão e as experiências dessa fase da vida sem as obrigações de casamento ou filhos, elas decidem dividir uma casa. Sharon, uma dona de casa de 52 anos que se sente sozinha e sem perspectivas, aluga um quarto para Robyn, uma mulher cosmopolita, vegana e lésbica de 53 anos que busca recomeçar. A relação entre elas desencadeia transformações significativas na vida de Sharon ao desvendar os segredos de Robyn. A peça estará em cartaz no Teatro da UFF, em Niterói.
Bloco truck do desejo
Fundado em abril de 2018, o bloco “Truck do Desejo” reúne mulheres lésbicas, bissexuais, não binárias e sapatrans de Belo Horizonte. O grupo tem como missão combater o preconceito e aumentar a visibilidade da cultura lésbica e bissexual na sociedade. Composto por 150 participantes, incluindo ala de dança, bateria e banda, o Truck do Desejo utiliza instrumentos como surdos, caixas, agbês e agogôs, e apresenta uma variedade de ritmos, como samba, reggae, funk, pagodão, marchinha, piseiro e reggaeton.
Sapa Justa
Como uma espécie de Talk Show, Letícia Martins apresenta um “podcast feito por uma lésbica pra todo mundo ouvir”. Ao longo dos episódios, ela compartilha experiências e discute temas como representação, cultura, amizades, amor, gatos, alienígenas marinhos e questões profundas. Ela se autodenomina no perfil do podcast como “não sempre justa, mas sempre sapa”.
Revista Brejeiras
Revista Brejeiras é uma iniciativa cooperativa voltada para mulheres lésbicas, visando promover a troca de experiências, estimular a criatividade, reivindicar espaços linguísticos e combater a falta de representação. Fundada por cinco amigas lésbicas provenientes de diferentes partes do Brasil – Camila Marins, Cristiane Furtado, Laila Maria, Luísa Tapajós e Roberta Cassiano – a revista emergiu da necessidade de representatividade e da conexão entre mulheres. A concepção da revista surgiu em 2018, durante uma festa realizada em um antigo sobrado no bairro da Lapa, no Centro do Rio. Até o momento foram lançadas três edições. Durante esse encontro, o tema da ausência de representação lésbica na mídia foi abordado, levando à criação da revista como um espaço para amplificar vozes, compartilhar ideias e construir narrativas de significado. Além das fundadoras, a equipe conta com a designer Renata Coutinho, responsável pelo projeto gráfico e diagramação, a ilustradora Ju Gama, criadora do logotipo, e a jornalista Laura Ralola, autora de alguns artigos. Além delas, diversas outras colaboradoras contribuem com textos, ilustrações, fotografias, contatos e entrevistas.
Ocupa Sapatão
Desde 2017, o “Ocupa Sapatão” ecoa pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro como um poderoso movimento político liderado por mulheres lésbicas e ativistas sociais. Inspirada pela vereadora Marielle Franco, a organização política é uma resposta à rejeição de um projeto de lei estadual que buscava instituir o Dia da Visibilidade Lésbica. Em 2023, o movimento continua a defender pautas cruciais, incluindo o Projeto de Lei Luana Barbosa (assassinada por policiais militares no Estado de São Paulo em 2016), que visa enfrentar o lesbocídio e aguarda aprovação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Guiado por líderes como a Resistência Lésbica da Maré e a Articulação Brasileira de Lésbicas, o movimento perpetua o legado de Marielle Franco, honrando sua memória e ampliando a luta por justiça, visibilidade e igualdade para todas as lésbicas brasileiras. A viúva de Marielle, Mônica Benício, foi eleita vereadora pelo PSOL do Rio de Janeiro e, ao lado da então vereadora Tainá de Paula (PT), reapresentou o projeto e conseguiu a sua aprovação, levando à criação de um dia importante para as mulheres lésbicas da cidade.