Claudia Raia, Carolina Ferraz e especialistas discutem a menopausa: ‘É preciso normalizar a vida das mulheres maduras’

Foto: Renam Christofoletti

Encarada como o início do fim da estrada para as mulheres, a menopausa carregou um estigma capaz de privá-las de suas próprias potências por muitas gerações. O aumento da expectativa de vida e a evolução das discussões sobre etarismo mudaram esse roteiro. Em uma admirável reviravolta nos últimos anos, a “idosa” restrita aos cuidados da casa e dos netos vai dando lugar a mulheres desfrutando de realizações profissionais, pessoais e sexuais após os 50 anos.

Carolina Ferraz que o diga. Aos 54 anos, a atriz e apresentadora, mãe de Valentina, 27, e de Isabel, 7, recentemente deu uma guinada na vida profissional: criou uma marca de home & lifestyle, a Cimples, comanda uma produtora de conteúdo, a Miss Ferraz, e ainda acabou de se formar na conceituada escola de culinária francesa, a Le Cordon Bleu. “Engravidei aos 46, entrei na menopausa com 51 e estou mais produtiva do que nunca. A medicina e a tecnologia evoluíram, estamos vivendo mais e melhor. É preciso normalizar a vida das mulheres maduras. Inclusive, a gestação. Vai ter mulher de cabelo branco com bebê no colo, sim. Durmam com esse barulho”, provoca.

Ela conta que sofreu com ondas de calor e diminuição do sono, no início da menopausa, mas logo optou pela reposição hormonal. “Você só precisa entender as mudanças em seu corpo e vida que segue. A menopausa não é um bicho de sete cabeças”, resume Carolina.

Lembrando aqui que a também atriz Claudia Raia surpreendeu ao surgir grávida aos 55 anos em plena menopausa. Em entrevista para a revista J.P176, antes de saber que estava esperando um bebê, Claudia desabafou: “Não aceito ficar nesse lugar que a sociedade exige das mulheres da minha idade. E mais do que exige, faz toda uma preparação para que a gente chegue aos 50, 60, cagada da cabeça, sentindo que acabou”.

ETARISMO

Aos 47 e sentindo os sintomas do climatério, período de um ano após o fim da menstruação e que antecede a menopausa, a jornalista Silvia Ruiz, agora com 52, se frustrou com a falta de informações sobre o que estava acontecendo em seu corpo. Se não havia quase nada sobre o assunto no Brasil, e ela era uma mulher bem-informada, o que dirá para as que não tinham o mesmo acesso? Pensando nessa lacuna, começou a escrever sobre o assunto e hoje é um dos nomes de destaque a falar sobre o etarismo, tanto na coluna Ageless, no UOL, como nas redes sociais.

O culto à juventude é um dos grandes culpados pelo tabu em torno das mudanças hormonais femininas. “A menopausa é um símbolo do envelhecimento e vivemos em um país que, assim como os Estados Unidos, tem dificuldade de envelhecer”, explica Silvia, que morou na Alemanha nos anos 1990 e via com frequência mulheres mais velhas assumindo o grisalho, décadas antes dessa onda chegar por aqui. E topless nas praias de lá era praxe para todas.

Ela lembra que as mulheres depois de certa idade são esquecidas pelo cinema e TV, e as que restam nunca são protagonistas de histórias de amor ou têm direito à sexualidade. “É como se a mulher só tivesse valor enquanto puder procriar”, critica Silvia. Quando ela própria chegou nessa idade, se deu conta de que nada disso fazia sentido: “Me senti enganada. Eu estava justamente no auge da vida”.

BÊ-Á-BÁ

Como o tema ainda é envolto em tabus, muitas mulheres nem sabem ao certo quando começa a menopausa. A ginecologista Albertina Duarte Takiuti explica que o período propriamente dito começa a valer 12 meses depois do término da menstruação – que costuma acontecer entre os 47 e os 50 anos. A fase que antecede o encerramento da menstruação é chamada de climatério.

“A menopausa pode ocasionar ondas de calor, desânimo, dificuldade de emagrecer, alterações na pele, unhas e cabelo, depressão e falta de lubrificação vaginal ou de libido. Porém, mais importante do que conhecer os sintomas, é saber que todas as dores da menopausa têm tratamento”, esclarece a médica.

Muitas de suas pacientes, apesar das alterações hormonais, revelam ter descoberto o prazer sexual justamente depois da menopausa.“Sou médica há mais de 40 anos. E atendo cada vez mais mulheres acima de 50 anos que estão descobrindo somente agora o direito ao prazer. A menopausa não é uma pausa, ela pode ser o começo de uma nova vida”, diz Albertina.

*A reportagem completa está na nova edição da revista J.P, nas bancas a partir desta segunda (07).

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