Glamurama faz um balanço do segundo dia de São Paulo Fashion Week

DEIXE O CORPO RESPIRAR

Como sempre, Danielle Jensen, diretora criativa da Maria Bonita, fez uma apresentação inteligente e de extremo bom gosto. Desta vez, a estilista olha para a obra da arquiteta modernista Lina Bo Bardi, que projetou o prédio do Sesc Pompéia, espaço que abrigou o desfile. Um “vestido-concreto” já dá a pista de um dos materiais mais caros à obra de Lina.Vestidos, calças e jaquetas foram elaboradas em blocos, sem costuras, com pequenas fendas que brincavam de mostrar a pele por baixo da roupa.

Mesmo com formas retas e ombros estruturados, há lugar para peças muito confortáveis, como as calças “jogging” ou os casacos com megacapuzes. Impressionante a calça translúcida transparente. A coleção trabalha com espaços e respiros e equilibra design, criatividade, poesia e muito conforto.

Vale à pena: as calças esportivas e os vestidos retos, feito por placas com emendas à vista

EM BUSCA DA LUZ

Tudo bem, não foi das melhores esta coleção de Reinaldo Lourenço, mas tenho certeza de que suas fieis clientes e amigas, sentadas na primeira fila, ficaram bem animadas com o que viram, especialmente os vestidos com aplicações de fitas de organza que formam flores, um trabalho manual e primoroso. Parece que as recentes mudanças na vida do estilista trouxeram vontades por experiências místicas.

A coleção é inspirada na “vitória da Luz” e na “celebração da espiritualidade”. Reinaldo mostra o que seu público espera: vestidos de modelagem impecável, calças sexy, bons paletós e um scarpin matador com salto de metal. Desta vez, não há muito espaço para exercícios inovadores. Agora as roupas podem sair da passarela e seguirem direto para as ruas e festas.

Vale à pena: os casacos verde oliva, inspirados nos uniformes militares da década de 40, e os casaquetes em lã canelada em rosa pálido.

DESLUMBRE FASHION

Que lindo foi o desfile de Alexandre Herchcovitch, daqueles que a gente se emociona no final. A inspiração é étnica e tem a combinação de cores e materiais que só Alexandre consegue fazer. Os bordados são um show a parte. Pedrarias coloridas da Swarovski apareceram em barras de calça e camisas, golas e bolsos, enriquecendo e colorindo as roupas pretas. Outros bordados, em escamas, apareciam menos, mas tinham o mesmo primor. Aliás, eu estive na fábrica de Alexandre alguns dias antes do desfile e presenciei as bordadeiras terminando peças que faziam há uma semana. A riqueza de informação era quebrada pelo uso de meia-calça arrastão e um top de meia rasgado.

A trilha, a melhor até aqui, seguia o crescendo da coleção, que terminou com Carol Trentini em um vestido preto supervolumoso.

Vale à pena: o paletó estampado é uma peça fácil de usar e que realmente fará a diferença no guarda-roupa

APOSTA NO DESIGN

A imagem que a Forum projeta para o inverno chega diferente dos conceitos que a marca sempre explorou, como sensualidade. Desta vez, eles mostram uma preocupação com o design, em peças estruturadas e um belo trabalho de bordados (visto em calças e vestidos) e de mistura de materiais. Muito legal o uso do couro duro misturado a outros tecidos, é como se a porção fetichista da Forum estivesse escondida por debaixo de outros panos. Muito preto, como pede a estação, e uma sobriedade elegante que pontua a coleção.

As referências ainda são muito calcadas em coleções internacionais, mas ao menos a imagem hipersexualizada é menos aproveitada.

Vale à pena: os casacos com ombros estruturados não são exagerados e duram por vários invernos. 

 

FESTA SURREAL

Com uma clientela fiel e consumidora de seus vestidos de festa, Samuel Cirnansck resolveu se dar ao luxo de fazer uma coleção mais audaciosa. Ele se inspirou no designer britânico do século 18 Thomas Chippendale, que se trabalhava com referências francesas. A coleção começa com ótimas peças de tweed e as modelos carregam um pequeno chapéu-abajur na cabeça.

Uma série de vestidos longos e justos, característicos de Samuel, pontuam o desfile que tem como auge, o vestido-almofada e o vestido-mesa. Para mim lembrou muito as coleções surreais de Viktor & Rolf, mas por outro lado achei corajoso da parte dele a liberdade de ação.

Quando, no release ele fala que as peças sugerem liberdade, penso que não pode ser para a mulher, já que as roupas apertam seus corpos e inibem seus movimentos. A liberdade em questão é em relação ao seu próprio trabalho.

Vale à pena: os casacos assimétricos de tweed

Por Camila Yahn

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