PONTO PARA HERCHCOVITCH
O desfile masculino de Herchcovitch foi um daqueles que causam desejo até nas mulheres. Ai, eu queria uma calça dessa… Nossa, por que não há um casaco assim feminino? E por aí vai. Inspirado no filme “O Sétimo Selo”, clássico de Ingmar Bergman, Alexandre transfere para a passarela o jogo entre os personagens centrais do filme, a Morte e o guerreiro Antonius Block.
Capas, capuzes, camisas e calças pretas abrem o desfile, sobrepostos por capas transparentes. Seguimos com ótimos looks de alfaiataria, modelagem atual e impecável, com calças mais largas e com a barra mais curta. Os xadrezes, claro, também aparecem, culminando em um terno vermelho, em um dos poucos momentos de cor da coleção. São lindos os trench-coats, com cintos em apenas um lado da cintura. Uma mistura de alfaiataria, moletom e lurex, o desfile tira o fôlego da platéia.
Quem vai ganhar? A Morte ou o Cavaleiro? Aqui quem ganha é o estilista, que fez um grande desfile, atmosférico, empolgante e com um impressionante trabalho de caracterização.
Vale à pena: os trench-coats com modelagem diferenciada
NOVA FASE DE OESTUDIO
A coleção do Estudio partiu de um exercício de liberdade e de uma vontade de se desamarrar de certos conceitos do desenvolvimento de uma coleção e da apresentação de um desfile. O grupo exibiu um vídeo-desfile apresentado em um telão gigante. Sim, há roupas e há modelos. Eles desfilam, se movimentam, dançam e se encontram no ar de forma poética e bem editada, ao som de uma trilha construída a partir da obra de Bach. Essa é uma maneira criativa, corajosa e mais barata de apresentar uma coleção ao público. Na Europa, alguns estilistas, como Gareth Pugh, também já usaram esse recurso.
Como de costume, o grupo apóia uma causa social. Desta vez conhecemos, de uma maneira simples e sem dramas, a história de um menino com um caso grave de paralisia cerebral, para quem os estilistas desenvolveram (em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia) um colete especial que mantém seu corpinho estruturado. Ele é desfilado no corpo da modelo, em um raro momento de inclusão social na moda.
Ah, as roupas! É a coleção mais “fácil” do Oestudio, com peças descomplicadas e gostosas, como calças , paletós e vestidos de modelagem simples, atual e confortável.
Vale à pena: para os meninos, as calças com barra mais curtas; para as meninas, gosto do paletó verde escuro e das calças de tecido cinzas.
CAÇADORAS DA NEON
Um dia é da caça, o outro é do caçador. O ditado inspirou a coleção da Neon, que mandou para a passarela caçadoras glamourosas, com cabelos a lá Rita Hayworth em “Gilda”. O estilo da marca é destacado, como de costume, por sua modelagem e pelo uso de cores e estampas. Muitos tailleurs estampados, saias lápis com casacos amplos e poderosos, calças de montaria e boas calças tipo safári, usadas por baixo de botas de cano alto.
Não foi a melhor coleção da marca. As estampas já fazem tanta parte do leque de características da Neon, que acabam ficando repetitivas. Ao final, quando achamos que o desfile acabou, entram as “caças”, uma série divertida e inesperada de mulheres-bicho, como tucano, morcego e coruja. A surpresa fez o montão de amigos de Dudu Bertholini e Rita Comparato levantar da cadeira para aplaudir de pé.
Vale à pena: o paletó estampado da foto abaixo é uma peça de impacto
ASAS DA LIBERDADE
Lino Villaventura criou sua coleção sem se prender a nada, tendo a liberdade como caminho único a seguir. Ele é um grande criador, com um talento nobre para trabalhar tecidos, texturas e estruturas de fazer sonhar.O problema é que entra em um universo muito fantasioso e imaginativo, causando uma distância entre suas roupas e o público que está assistindo ao desfile. Muito volume e mistura de materiais nobres, como crepe-de-Chine, tule de seda e tafetá. São lindas as vestes de gaze de seda pura, tão delicadas e leves quanto são sofisticadas. Plissados, bordados e nervuras estruturam as peças e resultam em um luxo cinematográfico e longe da realidade. Mas temos que lembrar que estilistas assim são muito importantes pois são responsáveis em manter o sonho sempre no ar. Vale à pena: uma das peças de gaze de seda, transparentes, para ter como roupa especial
Por Camila Yahn