Precisamos ser magros para ser felizes? Podemos exibir alguns quilos a mais e conseguir estar na moda? Nosso corpo existe por uma determinação genética. Existem três tipos diferentes de formatos de corpo: Ectomorfo (magros, altos, pernas e braços compridos musculatura frágil e difícil de ganhar peso), Mesomorfo (mais bem dotado geneticamente, mais simétricos, melhor postura, musculatura grossa, estrutura robusta) e Endomorfo (formas redondas, braços relativamente curtos em relação ao tronco em contraste com a maior largura de ancas e ombros). Junte tudo isso a um mundo globalizado, moderno, cheio de pressões, depressões, fama, desemprego, talento, decadência, ponha tudo num liquidificador e temos uma vida bem difícil, sem tempo e sem memória para manter qualquer um 100% saudável e satisfeito com sua própria genética.
Pois muito bem… Muitas revistas e programas de televisão geralmente nos mandam mensagens sugerindo que beleza é igual magreza. Esse paradigma “hollywoodiano fashionista” não vale de nada para umas das mais recentes sensações da música norte americana: Beth Ditto. Com seus 97kg de pura safadeza, atitude “hiperlocona”, lésbica de carteirinha e droga “ditta”, a fofa não está nem aí para seu “panceps” flácido e pregueado. O lance dela é liberdade de expressão e que se exploda o resto. Isso a torna o mais novo símbolo de sensualidade do mercado. Seria isso a nova visão Botero punk fashionista?
Atualmente vemos que mulheres de peso vêm ganhando prêmios, capas de revista, mas vemos alguém defendendo o direito de ser um gordinho(a) saudável, sua inteligência e suas vontades? O corpo de cada pessoa é diferente, nenhum é melhor do que o outro, e ninguém tem de ser magro pra ser feliz. Temos de aceitar o corpo que temos e fazer escolhas que nos mantenham saudáveis.
Toda essa paranóia sobre peso vem muito da indústria hollywoodiana e da moda, onde todos têm de exibir uma “hiper-mega-surreal perfeição” para ser uma atriz famosa ou uma modelo de sucesso. Falo no feminino porque sempre ocorre entre as mulheres. É muito pouco provável escutarmos que o Brad Pitt está anoréxico ou gordo, não é mesmo? Quando isso acontece, geralmente eles se forçam a engordar ou emagrecer, como num piscar de olhos, para encarnar um personagem que tem tais características. Mas, quando acontece de algum deles engordar ou emagrecer demais, a grande massa encara isso como decadência. Que tristeza!
Por que as mulheres, seres que querem se mostrar superiores, deixam se levar por essa atitude tão idiota? Não é surreal alguém que visualmente está definhando de anorexia se olhar no espelho e achar que está obesa??? Que droga ela anda tomando que alucina nessa viagem do mal? Ou uma pessoa comer até o ponto de explodir achar que depois é só dar uma vomitadinha que tudo vai ficar bem??? Temos vários exemplos de atrizes da nova geração que estão lutando contra esse mal que assombra essa indústria. É só dar um Google para achar milhões de artigos que expõe essas mulheres e seus terrores. De certa forma, é bom que elas estão vindo a público para falar de suas doenças, mas mesmo assim continuamos vendo o problema crescer a cada dia.
Vemos também essa mesma indústria, que nos força a uma estética surreal, premiar pessoas com esses “problemas” pelo seu notável talento e ao mesmo tempo nos dizendo nas entrelinhas que se elas fossem magras fariam o triplo do sucesso… O que é isso? Eles realmente vivem nesse planeta?
Eu conheço pessoas que acima da média normal desse tal peso padrão têm muita dificuldade de comprar roupas legais, mesmo tendo poder aquisitivo, mas por quê? Por que estilistas renomados não fazem roupas com tamanho acima de 44 ou até 46? Qual o problema de uma pessoa mais corpulenta querer vestir suas criações? Será que eles acham que seria “queimar o filme da marca”? É o que me parece, sinceramente. Eu sempre ouço pessoas reclamando que nunca acham roupas legais no seu tamanho. Isso é ridículo! Façam peças exclusivas ou um número menor. Não seria mais digno pensar na felicidade que o consumo dessas peças trariam a essas pessoas? Afinal de contas, o que importa não é vender?
Mudando um pouco de assunto, mas ainda dissertando sobre o tema gordurinhas, nessa minha viagem à Colômbia percebi que estava na terra de um artista que retrata isso da melhor forma possível. O pintor Colombiano Fernando Botero é um cara que satiriza em suas obras políticos, militares, religiosos, músicos e a realeza. Ele retrata essas pessoas como figuras rotundas e sem movimento assumindo a característica estática. Mas por que ele pintava pessoas gordas? Ele mesmo dizia que não pintava pessoas gordas e que, na verdade, este exagero nas formas, apenas refletia uma preocupação estética e, sobretudo, possuia uma função estilística. Botero era um pintor figurativo e suas imagens eram dirigidas pela realidade, vindas essencialmente de sua memória. Ele não se preocupava em pintar coisas especiais, mas utilizava a transformação ou deformação para transpor a realidade em arte. “O que seria da arte senão deformação da realidade originada por uma inquietude estética, um sentido preponderante da tarefa estilística?”, sublinha Botero num artigo.
Seu ideal estético centralizava-se em formas e volumes, um estilo que lhe permitia dar expressão a estas visões. Pintores como Picasso, El Greco, Giotto entre outros, deformavam a realidade para transformá-la em algo diferente. Esta “regra” se transformara em estilo. Porém, a deformação sem um objetivo superior seria uma caricatura ou mesmo uma monstruosidade, o que não acontece na arte de Botero. Sua deformação manifestava um desejo de acentuar a sensualidade da imagem. Não é esse um pensamento muito positivo e que poderia servir de inspiração para essa nova fase do fashion statement em que vivemos?
Lara Gerin