Por André Aloi e Bruna Fernandes
Moda sustentável já é uma realidade em pequenas e grandes marcas. O processo de fabricação das marcas está se adaptando a um movimento mais consciente (não apenas no preço, maior preocupação da Geração Z), e isso vai além de peças do vestuário tradicional. Para os pés, saem os sneakers extravagantes e entram calçados funcionais, que também embarcam nessa modalidade da economia circular com foco no design. Já entraram nessa onda consciente, que vai além de um discurso de marketing, algumas gigantes como Adidas, Nike, On Running, Vert, Converse e até a brasileira Havaianas.
No design circular, alguns tênis são produzidos a partir de outros modelos inutilizados, reciclando o TPU – um tipo de poliuretano termoplástico. Isso mesmo, a “vida útil” de um tênis agora é praticamente infinita, pensando que ele pode servir de origem para a criação de um novo, usando a tecnologia como aliada. Glamurama selecionou alguns modelos que já fazem parte dessa expertise:
CONDOR 2 (VERT)
O primeiro tênis de corrida ecológico da Vert foi lançado em 2019 e desenvolvido a partir de materiais biobase e reciclados. Em 2020, foi eleito pela ISPO (maior feira de esportes do mundo), de Munique, como “Produto do ano” na categoria inovação. Este ano, o modelo ganhou versão otimizada, tornando-o não só mais sustentável, como 10% mais leve e confortável para melhor desempenho nas corridas. Em sua composição, o Condor 2 tem 57% de matérias-primas sustentáveis (era 45% na primeira versão) como borracha nativa da Amazônia, óleo de banana, óleo de mamona, EVA Green (de fontes renováveis da cana de açúcar), EVA reciclado e resíduos de arroz.
Além disso, seu revestimento de tecido é 100% feito de garrafa PET reciclada. Sua tecnologia L-Foam que consiste em um solado anatômico, produzido a partir de borracha amazônica, oferecendo maior aderência e absorção a impactos, trazendo mais conforto, segurança e durabilidade. Disponível em sete cores, vai do 34 ao 45, e custa aproximadamente R$ 600.
MOVE TO ZERO (NIKE)
A Nike vem mudando o jeito de criar produtos novos, buscando a eliminação de resíduos e transformando sobras de materiais em novos modelos. Atualmente, 60% do que é produzido pela marca contém algum material reciclado e a ideia é que essa proporção aumente para 80% até 2025. Desde 2020, diversos lançamentos tiveram seu foco em design circular, feitos a partir dos restos de materiais das fábricas, como: a coleção de tênis Space Hippie, o Vapormax 2020 e a coleção de roupas Revival + Crater Impact Pack. Só para relembrar: a Nike já tinha feito camisas de futebol, em 2010, reciclando garrafas PET.
Outra iniciativa deles é a coleção Nike Grind, que usa sobras de fabricação pré-consumo, calçados pós-consumo reciclados do programa Reuse-A-Shoe e calçados que não podem ser vendidos. Por fim, a Nike Plant Cork Pack é outro exemplo de exploração de materiais. Inspirado na natureza, esse pacote traz modelos clássicos como AF1, Blazer, Air Max e DBreak. Todos usam cortiça, pigmentos vegetais naturais e enfeites de origem botânica.
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ON RUNNING
A A On-Running lançou um serviço de assinatura, pensando no desenvolvimento de um sistema de produção sustentável. O Cyclon é um tênis de corrida que nunca será seu. A marca disponibiliza o tênis como uma assinatura de streaming e o calçado é liberado quando existe um número mínimo de encomendas para determinada região. Durante a espera, o assinante tem acesso exclusivo ao desenvolvimento do produto e a outros mimos.
O calçado é feito a partir de uma peça única de um tecido inteligente, evitando desperdício, que garante equilíbrio entre flexibilidade, estabilidade e ventilação. Perfeito para competição com velocidade, foi inspirado nos tênis de elite. Em sua sola, é usada a tecnologia Super Critical Foaming, com uma espuma leve e excelente retorno de energia, que fornece um movimento explosivo para a frente no momento em que você toca no asfalto. Funciona como assinatura mensal, em que você paga R$ 164 ao mês.
STAN SMITH MYLO (ADIDAS)
O Stan Smith, best-seller da Adidas, ganhou a tecnologia mylo: um material inovador a base de cogumelos, que se assemelha ao couro natural, pois é macio e flexível, mas vem de fonte renovável. Feito com micélio, uma espécie de raiz dos cogumelos, a técnica consegue absorver qualquer cor, acabamento ou relevo. Na parte externa do cabedal, as três listras e a sobreposição no painel traseiro são feitas com essa tecnologia, enquanto a entressola é produzida com borracha natural.
A técnica foi viabilizada por meio de uma parceria com a empresa de biotecnologia Bolt Threads. A marca já havia lançado recentemente o Stan Smith PRIMEGREEN, com cabedal composto de 50% de material reciclado. Outros lançamentos com a tecnologia chegarão ao Brasil a partir de 2022.
MAIS PRA FRENTE
A Adidas está investindo ainda em outra tecnologia, chamada de FUTURECRAFT.FOOTPRINT, um calçado cuja produção chega a quase zero na emissão de carbono, usando a cana de açúcar como matéria prima (parceria com a empresa All Birds). Outra de suas investidas é em um calçado feito com 70% de poliéster reciclado e 30% de Tencel natural (polpa de madeira). Os primeiros 100 pares de calçados foram lançados este ano, em maio, para um seleto grupo. Mas a ideia é vender outros 10 mil pares ainda este ano e, em larga escala, no ano que vem.
TNS (HAVAIANAS)
A Havaianas lançou recentemente seu primeiro tênis casual, chamado TNS (The New Sneakers). Superleve, o calçado foi produzido a partir de algodão, materiais reciclados e de fontes renováveis – como casca de arroz e óleos vegetais. Seu design foi pensado para proporcionar a sensação de leveza e liberdade durante o uso. Une uma estrutura superior em tela respirável, que não pressiona os pés durante o uso, a um solado de borracha super flexível, como os famosos chinelos. “TNS” é abreviação de tênis, lançado em quatro modelos inéditos, que se desdobram em 13 diferentes versões de cores: branco, preto, neon, azul e rosa. Começou a ser vendido este mês nas lojas da marca em todo o Brasil pelo preço médio de R$ 200.
ALL STAR CRATER KNIT (CONVERSE)
A Converse Renew, plataforma de recriação de calçados com poliéster 100% reciclável feito de garrafas pet, adicionou o Chuck Taylor All Star Crater Knit ao seu portfólio. Foi desenvolvido com uma malha elástica projetada para o pé respirar, suas solas de espuma são superleves e se adaptam aos pés. Projetado com baixo impacto, usando 35% de material reciclado, aproxima a marca de um futuro com zero resíduos.A parte superior em malha elástica respirável foi feita com pelo menos 50% de conteúdo reciclado, sua aba de puxar é 100% reciclada, assim como o forro e a biqueira. Seus laços vêm o poliéster 100% reciclado e cerca de 75% da palmilha OrthoLite vêm de materiais reciclados.
Este ano, a Converse ainda promoveu a venda de drops exclusivos, com tênis da linha All Star criados por 40 artistas ao redor do mundo – incluindo o brasileiro Pedro Souza – em uma loja virtual chamada Renew Labs, cujo cenário era uma ilha de lixo no meio do Oceano Pacífico. O projeto fomentou a inovação sustentável com a criação de protótipos lançados de forma escalonada e todo o dinheiro arrecadado foi doado para a limpeza dos oceanos via ONG Take3.org. A cada par de sapatos vendidos, conduzia a loja para mais próximo de remover sua própria base e fechá-la para sempre. Algumas séries usaram tecnologias novas e avançadas, como tinta criada a partir da poluição capturada do ar ou cultivadas por micróbios bioluminescentes, outras se aprofundam em artesanatos mais tradicionais, usando corantes naturais de raízes e frutos silvestres e até mesmo as sobras de flores de calêndula do Día De los Muertos.
Muitos dos tênis foram peças únicas feitas à mão, outros tiveram tiragem muito limitada. A loja também apresentou e vendeu o Renew Crater, um dos modelos de mercado de massa mais sustentáveis da Converse.