Colaborações e trocas na criação de coleções, como na Fendace, são “reflexo do tempo”, diz historiador

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Não é a primeira vez que duas marcas se juntam para dar origem a uma coleção, como aconteceu no desfile de Fendi com Versace, na Semana de Moda de Milão, no último fim de semana. Para dar origem à Fendace, elas frisam que esta parceria não é uma colaboração, mas uma celebração (e cruzamento) de duas marcas icônicas, sob o comando de Kim Jones, diretor artístico das coleções femininas da Fendi, e Donatella Versace, diretora criativa da Versace. Ambas etiquetas são conhecidas por criarem roupas a partir de suas iniciais como monogramas.

Mais recentemente, Gucci e Balenciaga já haviam provado que duas “rivais” – ainda que pertencentes ao grupo Kering – podem propor subversão e modelo disruptivo de negócio, unindo logos e expertises, e deixando sua marca importante na moda. “Não é a primeira vez que isso acontece. No Brasil, Cavalera (nos anos 1990) já propunha trazer estilistas em certos momentos para criações únicas”, explica João Braga, historiador e professor de História da Moda da FAAP.

“A moda precisa de tempo para legitimar comportamentos. Não só acompanhando, mas ditando tendência. E o trabalho colaborativo faz parte desse reflexo de contemporaneidade, de sobrevivência, trazendo à realidade questões inclusivas, como etnia, gênero e de pessoas que não se viam como padrão de beleza”.

João Braga, historiador e professor de História da Moda da FAAP (Foto: Fernando Silveira | FAAP)

Parte desse comportamento, segundo Braga, acompanha a revogação de paredes em escritórios, pessoas indo trabalhar em coworkings. Todo esse comportamento é uma atualização do que a Geração Z pede, já que foi acostumada a esse formato. “Não é só por questões financeiras, porque essas marcas têm dinheiro, mas de atualização de valores, de postura e adaptação à contemporaneidade. Algo como ‘vamos dar as mãos’, talvez para uma dar força à outra”, reflete o especialista. Como explica o comunicado da parceria da Fendace:  “juntas, as marcas clamam por Liberdade, Diversão e Virtude”

Gucci x Balenciaga. Foto: Divulgação/Gucci

Para além de acordos comerciais ou exposição de marketing, as marcas estão interessadas em awareness, convergindo desejo de consumo em lucro, a fim de atrair novos públicos. Isso ainda reforça o vanguardismo e as marcas italianas no epicentro da inventividade, onde amizade, admiração mútua e reinterpretação do trabalho consagrado de grandes etiquetas dão origem a novas propostas de negócio, revisitando o passado (como esse cross da Fendi com Versace, que foi muito inspirada nos anos 1990) ou desse “hack” entre Gucci e Balenciaga, que foi uma celebração dos 100 anos da primeira.

Fazendo história

Para o professor, a criação das semanas de moda, na década de 1970, já tinham certo pensamento colaborativo, uma vez que unir esforços para realizar os desfiles em um mesmo calendário otimizava custos e mostrava a força das marcas francesas frente à investida americana em roupas de bom gosto e criativas, que ficou conhecida como Batalha de Versalhes – um evento realizado em 28 de novembro de 1973 para angariar fundos para a restauração do palácio de mesmo nome e que foi retratado recentemente na série “Halston”, da Netflix.

No ano seguinte, esse evento voltou a acontecer sem a participação dos americanos, dando origem ao formato de semana de moda, que puxou movimentos em Londres, Milão e Nova York. 

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