Desde pequena, a estilista Ana Clara Watanabe se divide entre a moda e as artes plásticas – e quer cont Ana Clara Watanabe se divide entre a moda e as artes plásticas – e quer continuar criando peças para o dia a dia e para dentro dos museus.
Toda vez que Ana Clara Watanabe chega a Pindamonhangaba (SP), onde cresceu, seu pai já sabe que perderá algumas peças de roupa. Desde pequena, a estilista adquiriu o hábito de pegar “emprestado” de Yuji Watanabe calças jeans, blazers e ternos. “Coitado, ele tem o mesmo corpo que eu, a mesma altura, então fica tudo certinho”, conta ela. Mas se no início os itens passavam por customização (os jeans eram desfiados, os blazers, cortados) e acabavam inutilizáveis para o pai, hoje o uso é moderado: após uma temporada em São Paulo, onde Ana Clara mora atualmente, as peças retornam para o lugar de onde saíram.
O modo como Yuji lida com a perda também foi mudando. Primeiro, ficava bravo, depois passou a sugerir que a filha aprendesse a criar os próprios modelos e, no último ano de escola, chegou a presenteá-la com uma máquina de costura. “Por um tempo ele não queria que eu fizesse moda, tinha medo do mercado, mas depois entendeu que era aquilo que eu mais gostava.”
A estilista, inclusive, teve dúvidas de qual profissão seguiria e só desistiu da ideia de cursar artes plásticas após um curso de moda em Londres. Foi com o tempo também que ela entendeu que poderia alternar entre criações mais autorais, próximas ao mundo das artes visuais, e outras comerciais, possíveis de serem usadas no dia a dia.
Exemplo desse processo é a coleção Geleia Geral, que foi vencedora da 16ª edição do Faap Moda, em 2019, e teve como inspiração a formação do movimento tropicalista a partir do conceito da antropofagia, de Oswald de Andrade. Nessas peças, a artista uniu o fazer manual, o crochê que aprendeu na infância, a produtos industriais como o poliéster. Para um dos looks, que pesa 18 quilos, chegou a usar 130 novelos de lã.
Os desdobramentos da Geleia Geral, no entanto, não param por aí e a previsão é criar uma coleção baseada nas mesmas inspirações e que possa ser comercializada – Ana Clara comanda também a Anacê, marca de roupas agênero. Para retomar o projeto, a estilista planeja um período de isolamento, no qual irá confeccionar os novos modelos, que devem ser feitos, assim como os do projeto original, com a utilização de botões de pressão que permitem desmontar as peças e recombiná-las em novos looks. “Queria confeccionar tudo primeiro, pois esse processo de modelagem é o mais importante para mim; é onde consigo entender o que funciona, recriar o design, e por isso preciso estar 100% presente”, explica. Outro desejo é dar continuidade à criação de peças conceituais e um dia poder vê-las dentro de um museu como verdadeiras obras de arte.