Diversos estudos estão mostrando que não só os jovens como também casais mais velhos não têm feito muito sexo ultimamente. J.P falou com a psicanalista Betty Milan para tentar responder: o que está fazendo as pessoas a transarem menos?
Por Victor Santos para a revista Joyce Pascowitch
Apesar da caretice estar fora de moda e do desapego estar em alta, de se falar cada vez mais sobre pautas feministas e do casamento ter perdido o status de objetivo universal, essa libertação toda não tem sido tão sexual como se pensa. Estudos de todo o planeta apresentam quedas nos índices da prática de sexo, seja na população mais jovem ou mesmo em casais que estão juntos há mais tempo. No Japão, por exemplo, a situação ganha contornos ainda mais dramáticos: pesquisas do governo indicam que quase metade da população entre 18 e 34 anos é virgem – e os números vêm crescendo. Para esclarecer nossas dúvidas, fomos direto ao assunto com a escritora e psicanalista Betty Milan. Ela tem um vasto currículo no tema, obras lançadas em diversos idiomas e dispara: “Acho ótimo não ficarmos mais escravos do sexo”. Para ela, depois da revolução sexual nas décadas de 1960 e 1970, passamos por uma “tirania do sexo”, fazendo do ato algo obrigatório. Agora o momento é outro: estaríamos livres disso. Enquanto viaja aos quatro cantos para divulgar seu mais novo livro, o 26º, Baal – Um Romance da Imigração, que fala sobre o drama da imigração, Betty bateu um papo com a J.P.
J.P: As pesquisas mostram e a gente quer saber: por que estamos fazendo menos sexo, afinal?
Betty Milan: Antes da revolução sexual, o sexo era proibido e graças a ela ele foi liberado. Mas aconteceu uma tirania do sexo, o tornando como algo obrigatório. Quem não transasse era considerado careta. O sexo obrigatório é tão ruim quanto sexo interditado. Hoje, acho que é possível que nós estejamos nos tornando mais livres para transar quando a transa de fato importa.
J.P: Neste cenário, também se fala muito em relações efêmeras e desapego. Como isso afeta os compromissos mais duradouros?
BM: Acredito que quando o amor arrebata não existe desapego. Que importância tem desapegar-se quando não há uma afinidade verdadeira entre as pessoas?
J.P: Existe um fenômeno chamado desumanização de processos. Por exemplo, não é mais preciso aquele jogo de sedução, já que um aplicativo de celular te coloca em contato com o outro. Isso reflete na maneira como lidamos com o sexo?
BM: Isso é um comportamento parecido ao dos libertinos do século 18. O efeito é a apologia do gozo pelo gozo, como se a sexualidade humana fosse análoga à sexualidade animal. Não é possível dissociar a sexualidade humana do amor e do erotismo que se realiza das mais diferentes maneiras.
J.P: Além dos aplicativos, há uma facilidade do acesso à pornografia. Isso está atrapalhando o nosso desenvolvimento sexual?
BM: A pornografia sempre existiu e há quem precise dela para transar. Não acho que deva ser censurada. Muito antes da revolução sexual, considerava-se que o sexo era sadio quando estava associado à reprodução. Agora isso não faz mais sentido. Na verdade, a ideia de sanidade sexual se tornou absurda depois que Freud escreveu Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, em 1905, um ensaio precursor no qual ele já dizia que a homossexualidade não é patológica.
J.P: Há um fenômeno em que falar sobre algo, postar uma foto, pode se sobrepor à experiência em si. É um momento onde as pessoas estão se comparando com as outras o tempo todo e a referência é a tela do celular. Essa relação distancia as pessoas dos seus próprios desejos?
BM: O imaginário é poderoso e a imaginação propicia o gozo. Não acho que as pessoas se distanciem do próprio desejo por causa do celular, elas se distanciam do outro, o que não é necessariamente ruim porque o outro pode ser um empecilho para a própria realização.
J.P: A evolução no campo sexual também tornou as pessoas mais intolerantes? É mais difícil lidar com os pontos negativos de uma relação hoje em dia?
BM: O casamento obrigava a ser tolerante. Hoje é possível se separar do parceiro com facilidade. Isso não é sinônimo de intolerância e, sim, de liberdade.
J.P: Há ainda muita dificuldade em falar sobre a falta de sexo?
BM: Não me parece que haja dificuldade em falar sobre sexo. Mais difícil é falar sobre o amor.
J.P: Existe uma frequência ideal? Transar menos é necessariamente um problema?
BM: Claro que não existe uma frequência ideal! Sexo todo dia pode ser ótimo e também é perfeitamente possível viver sem ele, sublimando a pulsão como certos grandes artistas. Não tem regra geral.
Sinais de um casal que transa
• Alguém anda com muita dor nas costas
• Casa bagunçada
• O pet da casa é carente
• Estão totalmente desatualizados em séries e filmes
• Os dois andam cochilando bastante
• Objetos diversos desde isqueiro até bala encontrados no meio do sofá
• Focados na própria vida
Sinais de que um casal está em falta
• Fizeram um ensaio de fotos em preto e branco
• Casa extremamente arrumada
• Casal disputa, com rivalidade, a atenção do pet
• Não tomam vinho
• Um dos assuntos preferidos dele é o personal trainer dela
• Focados na vida alheia