Depois de “Verão 90”, Sérgio Malheiros está em cartaz no filme “Aspirantes”, e contou em papo com Glamurama um pouco mais da experiência de dar vida ao aspirante a jogador de futebol Bento, seu personagem no longa. Com o lado profissional agitado e a vida amorosa muito bem – obrigado – ele entregou os próximos passos de seu relacionamento com Sophia Abrahão: “Pretendemos casar sim.” Na nossa entrevista, ele comenta o caso de racismo com a colega de profissão Cacau Protásio, se acha que o Brasil será um país mais justo no futuro e o caminho na profissão. (por Luzara Pinho).
Glamurama: Já teve o sonho de ser jogador de futebol?
Sérgio Malheiros: Acho que todo o jovem brasileiro tem. Infelizmente no Brasil o futebol ele é um dos poucos meios de ascensão social dos jovens que vêm das periferias. É o esporte mais popular do país e estamos acostumados a ver essa possibilidade através do futebol.
Glamurama: Conta para gente um pouco mais sobre seu personagem em “Aspirante”?
Sérgio Malheiros: “Aspirantes” é um filme que fala sobre uma relação de amizade. O Bento é um desses aspirantes a jogador que está conseguindo avançar na carreira e tem um amor muito grande pelo amigo Junior (Ariclenes Barroso), uma relação de amizade muito interessante, que de alguma forma vai acabar sendo abalada por essas divergências, já que a namorada de Junior está grávida e ele não consegue focar na carreira de jogador.
Glamurama: Como foi o laboratório para criar o Bento?
Sérgio Malheiros: Esse papel exigiu uma grande imersão. Como o filme passa em Saquarema, cidade pequena do Rio, o diretor teve o cuidado de levar o elenco para morar por um tempo lá e entender o ritmo e a dinâmica dos moradores. Além disso, tivemos um trabalho de preparação com Pedro Freire, um dos roteiristas do longa, e montamos um time com jogadores e treinador de verdade. O treinamentos duravam quatro horas por dia com rotina puxada, embaixo do sol… Essa preparação física foi muito importante para entrar no ritmo dos atletas.
Glamurama: O que aprendeu com o personagem?
Sérgio Malheiros: A forma de trabalhar. Rolou uma narrativa diferente do que estamos acostumados a ver e isso foi muito importante para minha evolução como diretor, ator e roteirista. Jogamos com times de verdade da região. O contato com a comunidade foi muito legal também, alguns viraram meus amigos. De alguma forma tocamos a vida desses meninos, muitos deles estão até querendo trabalhar com cinema e como ator. Para nós, isso é muito importante nesse momento em que a cultura está sendo rechaçada. Temos que continuar resistindo e trazendo cultura para o país.
Glamurama: O que vem por aí em 2020?
Sérgio Malheiros: Estou produzindo um curta chamado ‘Única Saída’, que escrevi, dirigi e estou no processo de finalização. Vamos trabalhar nisso no inicio do ano, começar a inscrever nos festivais. Além disso, estou terminando a terceira temporada de ‘Impuros’ também (série da FOX).
Glamurama: Você e a Sophia Abrahão pretendem casar, ter filhos?
Sérgio Malheiros: A gente pretende sim! Decidimos de fato casar, provavelmente não vamos fazer cerimônia nem festa. Vamos acertar a questão burocrática e fazer um encontro para a família e amigos para celebrar internamente.
Glamurama: Você também atua como diretor. Depois de começar nessa função, o que mudou na hora de atuar?
Sérgio Malheiros: Comecei a preparação para ser diretor desde a primeira vez que pisei em um set de filmagens. Lembro como se fosse hoje quando pensei: “eu acho que sei fazer isso”. Desde antes de “Da Cor do Pecado” (em 2004, em que viveu o pequeno Raí) eu já me interessava por direção e ficava ‘perturbando’ os diretores: “que câmera é essa, que lente é essa…” Como comecei a trabalhar muito cedo vivenciei três grandes trocas de tecnologia na televisão e no cinema – da película para o digital – sempre tive muita curiosidade sobre essas coisas, como funcionava. Como ator, entendo melhor a cabeça do diretor, consigo ter mais controle.
Glamurama: Qual a melhor parte de atuar? E dirigir?
Sérgio Malheiros: Na direção eu me sinto mais desafiado, mais difícil, então nas minhas oportunidades fico bastante empolgado com esses trabalhos, me empenho muito, leio, faço cursos…Mas não saberia dizer o que gosto mais. Seja pra criar como ator ou diretor, eu curto participar dessa criação.
Glamurama: A Cacau Protasio sofreu preconceito recentemente durante a gravação de seu novo filme no Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e já vimos tantos outros casos de racismo, como você com isso? O que fazer para mudar essa triste realidade?
Sérgio Malheiros: No mês da Consciência Negra houve muitos episódios de racismo. Além da Cacau também teve o deputado que quebrou uma placa ilustrativa sobre o que acontece nas favelas do Rio de Janeiro e Brasil afora. Isso é lamentável. Me senti muito emocionado com o depoimento dela, foi realmente tocante e essa dor acaba batendo em mim de forma latente. São xingamentos que todo negro já ouviu em algum momento, discriminando seu trabalho a partir da sua cor. O racismo no Brasil funciona de várias maneiras. Ele se mostra na vida das pessoas de maneira muito mais estrutural. Não é só quando alguém é chamado de macaco ou é ofendido. Isso aparece na hora de uma entrevista de emprego e no mercado de trabalho. As redes sociais deram às minorias uma capacidade de organizar essas pautas identitárias e a gente não está mais tolerando isso. Fiquei muito feliz que Cacau falou no depoimento que ela está correndo atrás das medidas legais e é muito importante que a gente cobre também do Corpo de Bombeiros para que essa conduta seja penalizada.
Glamurama: Acredita que um dia seremos um país mais justo e igualitário?
Sérgio Malheiros: Infelizmente acho que estamos muito distantes disso, mas espero que sim. Eu quero ter filhos e netos no Brasil e quero que eles vivam em um mundo mais tolerante. Mas a mesma rede de comunicações que dá voz para essas questões, dá também voz ao que existe de pior na sociedade. Isso me assusta um pouco, não tenho uma visão muito otimista.