O papo de Joyce Pascowitch na noite dessa terça-feira foi com Seu Jorge, que levantou temas importantes e atuais como racismo, cultura, pandemia, progresso e mais um monte de coisa bacana. Assim como a maioria dos artistas, Seu Jorge também viveu de tocar na noite, em bares e revelou sua preocupação diante do fechamento dos estabelecimentos: “Vivi da noite, de tocar em bar e hoje isso não tem mais e os artistas não conseguem trabalhar. Me preocupa, eu já estive nesse lugar”, contou.
Diante dos acontecimentos recentes, inclusive com a morte de um garoto negro de 14 anos dentro de casa, durante uma ação policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, nessa terça, Seu Jorge falou sobre o racismo no Brasil: “O Brasil tem uma marca profunda em relação ao racismo. Inclusive, não se discute o desenvolvimento, se não discutir o racismo. Não tem mais como fugir dessa conversa em função do que ocorre porque a gente percebe uma mortalidade absurda do povo preto. Também temos percebido no mundo, e aqui não é diferente, um discurso de ódio e intolerância, muitas vezes – não sou eu quem digo isso – atribuída a essa direita conservadora que agora estendeu essa bandeira no mundo e todos os dias temos notícias de casos como esse. Tanto que passou para um lugar comum, mas não deixaram de ser escandalosos”, afirmou o artista que continuou: “Quando se trata da morte de um negro, está normalizado, parece existir um estágio de neutralidade, mas é fundamental combater e aprofundar no assunto. Sempre que entramos nesse tema, ele é combatido superficialmente, exitem líderes expressivos, historiadores com muito fundamento sobre esse processo da restauração da dignidade de um povo. Vamos ultrapassar essas barreiras com diálogo, ações e participações”, desabafou.
E dentro desse debate, o poder das fake news na disseminação de ideias também entrou na conversa: “O Brasil tem sido atacado pelas fake news, que encontraram um ambiente propício para se difundir. Estão se aproveitando da mazela e da pouca possibilidade de reagir, já que temos que ficar em casa. Precisamos ter uma ideia melhor de enfrentar”, disse Seu Jorge.
Sobre os projetos, a maioria parado por conta da pandemia, ele explicou que esse seria um ano brilhante para sua carreira. No início de 2020 lançou o álbum Seu Jorge & Rogê, ainda tem o disco ‘The Other Side’ que levou 10 anos para gravar e traz músicas com participação de orquestra, colaboração de músicos brasileiros e estrangeiros, canções de Milton Nascimento, Lô Borges, Cezinha Mendes, Nicky Drake. Mais um trabalho musical feito só com compositores baianos que ele começou a fazer em 2018 e já está praticamente pronto: “Mexeu na agenda, mas não no entusiasmo”, e ainda contou sobre as atuações, já que estaria envolvido na segunda temporada da série Irmandade (Netflix), o lançamento de Marighella, de Wagner Moura, e sua participação no longa “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos: “Tinha Marighella que era pra ter saído neste dia 14, mas não conseguimos. Sou orgulhoso desse trabalho, Wagner é um artista genial preocupado com o Brasil, a arte, seu povo e traz a personalidade dessa figura esquecida. O filme é muito bonito. Tem ainda o Medida Provisória, do Lazaro, outro grande diretor. Conheço os dois, é um prazer fazer o primeiro filme deles, é muito forte. São pessoas completas, atrás da beleza da arte que mexe com a gente, conecta, que deixa alguma coisa e isso é uma categoria nossa. Eles são exemplo de grandeza, grandes cabeças que fazem um país soberano através da sua cultura, alegria, é a eloquência do seu povo”, reflete sobre os amigos de longa data e ainda completa: “Quero ver o Brasil aberto, democrático, plural, jovem e progressista. Não abro mão desse sonho”.
Para conferir o papo completo, play!