Matheus Nachtergaele fala sobre trabalho, ‘dedo na ferida’ e vida amorosa: “Sou bem namorador, mas muito discreto”

Matheus está na segunda temporada de ‘Filhos da Pátria’ / Crédito: Reprodução Instagram

Um dos atores mais respeitados no teatro, na TV e no cinema, Matheus Nachtergaele volta à telinha na série “Filhos da Pátria”, que estreia no dia 8 de outubro. Na trama, agora ambientada no início da década de 1930, na Era Vargas, ele viverá Pacheco, funcionário do alto escalão do Palácio do Catete, corrupto e superior imediato de Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero). “É aquela pessoa que se alia ao poder, mas não dá a cara a tapa. Ele dá voz aos poderes ocultos de um sujeito que manda, mas que na série, não tem nome, que não sabemos quem é”, conta. “O Pacheco é a pior pessoa da série. O político fisiológico, o homem que trata o dinheiro público como lucro pessoal. É cheio de preconceitos, máscaras. Ele está dentro do armário, é gay, mas também é fascista, violentíssimo, faz bullying. É um solitário, um homem triste. Mas a gente vai rir de nervoso”, avisa.

Aos 51 anos, o ator, que coleciona personagens inesquecíveis, garante que o “ar de menino”, que ainda lhe atribuem, tem mais a ver com o estado de espírito do que com qualquer outra coisa. “É um elogio bom, mas estou envelhecendo. A partir dos 45 anos começamos a perceber que algo aconteceu. Que os desígnios dos deuses serão cumpridos”, diverte-se. “Mas eu me sinto mais motivado pela vida hoje, do que quando tinha 20 anos. Não porque meu tempo esteja encurtando ou porque já tenha passado da metade da aventura, mas porque consegui resolver efetivamente os meus cancros mais duros. Meus problemas mais difíceis de temperamento, de traumas. E também, por conta de toda a situação política do Brasil dos últimos tempos, virei um brasileiro mais dedicado, mais apaixonado pelo país”. E completa: “Olha, ver esse capítulo de “Filhos da Pátria” hoje, que é uma peça de resistência dentro da maior TV aberta da América Latina, talvez uma das maiores do mundo, assistir essa produção acontecer em sua segunda temporada, ver que estou fazendo TV desta maneira, me alegrou bastante, me motiva e me dá mais amor ainda pelo país e pela vida. Então, não estou com cara de jovem, acho que só estou sorrindo mais”.

O ator comentou também sobre velhos hábitos transformados nos últimos anos. “Quando era mais jovem, botei o pé nas duas jacas da vida. Sempre trabalhei muito, até excessivamente, como bom capricorniano que sou. Isso tinha a ver com juventude, com uma urgência de aproveitar a vida e tem a ver com um certo deslumbre de ser adulto no mundo”, constata. “Acho que também era o querer ser rebelde, que é muito saudável na juventude. Querer afirmar sua rebeldia diante do sistema. E depois você começa a pensar: eu gosto da vida, então vou me cuidar. E isso também é natural, gostoso”.

Ele garante que aproveitou tudo o que tinha direito e que esses tempos não deixaram saudade. “Fui para esbórnia, para a farra, curti mesmo. Frequentei a boemia, bebi muito. Fui nos morros cariocas, sambei. Frequentei a Lapa pra caramba, me diverti demais. Depois, fui ficando mais velho e resolvi me cuidar. Não bebo há seis anos, por exemplo. Estou tentando largar o cigarro agora, olha que maravilha. Malho, coisa que não fazia. Antes, cuidava do preparo físico só para os personagens. Faço aeróbico, musculação e estou nadando. Nada brutal, só para me sentir bem”.

Reservado, Matheus revela que o coração vai bem. “Estou namorando, mas não vou falar com quem, porque não quero expor ninguém. Sou bem namorador, mas muito discreto”, confessa. “Acho que isso acaba não importando para as pessoas, mas se alguém quiser saber, estou bem, namorando e está gostoso”. Ele também se orgulha de manter boas relações com seu passado: “Sou amigo de todas as pessoas que namorei, homens e mulheres. Muito mesmo. Acho que se você não fica amigo tem alguma coisa estranha. O apaixonamento nada mais é que o aprofundamento muito grande de uma amizade com o plus do erotismo. Mas depois que a parte erótica se dissolve, você fica amigo de quem criou vínculos emocionais bonitos”.

Recém-saído da série “Cine Holliúdy”, em que fez um político corrupto, e que também vai ganhar uma segunda temporada, o ator faz uma comparação com o trabalho atual. “Em ‘Cine’, o público, a família, se reunia só para gargalhar junto. Em ‘Filhos da Pátria’, me parece o momento dessa família sentar diante da TV e, rindo também, colocar o dedo nas feridas dos nossos maus costumes, que se perpetuam. Acho isso muito importante”, observa. “Costumes como o da política fisiológica: o cara que entra, não para fazer um serviço social, que é a vocação da política, mas para ganhar a vida em benefício próprio. E tem também, os maus costumes preconceituosos como racismo, machismo, homofobia, por exemplo. É isso: com alegria, colocar o dedo nas feridas mais dolorosas. É importante mostrar, para que nós, como país, possamos ir nos curando, nos tornando uma sociedade mais igualitária. É urgente entender que um país não é um negócio, é um lar de todo mundo que mora nele”.

O momento é produtivo para o ator, que destaca sua participação no próximo 1o de outubro, em uma ópera, no Teatro Riachuelo, no Centro do Rio. “Estou trabalhando muito e gostando. Esta ópera é escrita pelo Clovis Filho e pelo Ariano Suassuna, é para as crianças e a apresentação é única. Além disso, estou gravando “Todas as mulheres do Mundo”, a série. E fazendo há quatro anos a peça com textos da minha mãe, “Processo de Conscerto do Desejo”. Continuo rodando o Brasil com ela”.

Morando no Rio, em uma casa no Jardim Botânico, com seus 16 cachorros, Matheus comemora a fase: “Estou gostando de viver. Claro que também estou muito preocupado por termos dado essa ré tão grande ao eleger esse presidente”, analisa. “Obviamente, respeito muito as urnas, então o que me cabe é refletir sobre o que nos aconteceu, mas afirmar as liberdades conquistadas por nós e dizer que o pais não é um negócio, é um lugar para um povo tentar ser feliz”. (por Brunna Condini)

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