Marjorie Estiano é destaque entre as artistas da sua geração, seja pela versatilidade ou vontade em aprender. O que fica claro é que ela tem um jeito profundo e delicado de olhar para todos os trabalhos em que se envolve e entende os seus personagens como ninguém. Atualmente, Marjorie está no ar na terceira temporada de “Sob Pressão” e no cinema com o filme “Beatriz”, em que a sua personagem enfrenta um relacionamento diferente e conturbado com Marcelo (Sérgio Guizé) : “Uma relação é um organismo vivo. Deve ser constantemente atualizado. Sofremos, individualmente, muitas mudanças e isso altera a relação de forma inevitável”, comenta.
Aos 37 anos, Marjorie Estiano também é reconhecida no mundo da música e os fãs da curitibana ainda sonham com um possível retorno. Sobre o assunto, Marjorie abriu o coração para o Glamurama. “Não sei quando vai chegar esse momento, se virá de uma vez ou aos poucos”, revela. Será que tem volta? Confira mais detalhes na entrevista completa com a artista. (por Jaquelini Cornachioni)
Glamurama: Como trabalha a sua personagem em “Sob Pressão” a cada temporada?
Marjorie Estiano: Avalio sempre como as experiências vividas modificaram o comportamento, a maneira de pensar, de agir. Para mim é importante continuar investigando essa realidade, é ela que me transfere a dimensão do que estamos falando e fazendo. Ver nos jornais é diferente de presenciar. Tudo o que vivi nas gravações foi muito marcante e continua se desdobrando em novas reflexões, constatações. Não só em mim, mas no espectador, nos profissionais de saúde, na população em geral. Através do ‘Sob Pressão’ a gente consegue olhar para dentro e para fora: somos a vítima, o agressor e o salvador simultaneamente.
Glamurama: Fazer uma série ambientada em um hospital mudou a forma como enxerga esse ambiente e trabalho?
Marjorie Estiano: Sem dúvida. Nossas memórias estão coladas em imagens, sons, cheiros, ambientes, e nas poucas vezes em que estive em hospitais antes do ‘Sob Pressão’, foi enquanto paciente. Mas hoje tenho uma memória muito mais íntima, vivi muitas experiências distintas, me sinto familiarizada. Esse contato aproxima, e certamente vejo de forma diferente o profissional da saúde, com muito mais camadas, contornos. Embora a saúde seja a maior preocupação da população, ninguém acha que vai acontecer alguma coisa até ser surpreendido. E se acostumar em pagar dobrado para contar com um serviço privado de saúde, não assegura muita coisa. Acredito que o “Sob Pressão” apresenta outro viés do que vemos e de onde vivemos. Sou muito grata por isso.
Glamurama: Você tem contato com médicos ou pacientes que passaram por situações parecidas na vida real?
Marjorie Estiano: Sim, recebi muitas mensagens de pessoas que vivem dramas semelhantes, tanto profissionais de saúde quanto pacientes. Essa é a primeira vez que sinto o efeito tão sensível e concreto no espectador. É muito marcante ver explicitamente a dramaturgia agir, ver a potência que um veículo de massa pode exercer na vida das pessoas. Acho muito bonito sentir que esse trabalho inspira novos profissionais da saúde e renova a motivação daqueles que já vivem essa realidade há muito tempo.
Glamurama: ‘Sob Pressão’ abora temas que normalmente são tratados como tabu. É difícil lidar com assuntos tão pesados?
Marjorie Estiano: Bastante, a gente se depara com muitos casos revoltantes com origem no descaso do Estado. E assim acho que passamos pelo mesmo processo que os verdadeiros profissionais, que é descobrir mecanismos para canalizar esses sentimentos e transformar o que é possível ser feito agora.
Glamurama: Como é trabalhar ao lado do Júlio Andrade e de um elenco tão bom?
Marjorie Estiano: Júlio Andrade em especial é um parceiro para a vida. Onde ele estiver eu quero estar por pertoe. Ele, o elenco fixo e todas as participações têm a minha mais profunda admiração, respeito e gratidão. As participações são uma jorrada de estímulos novos, pois a série é 70% sobre eles, são muitas as histórias, o que facilita a tarefa de deixar a minha escuta viva, fresca. A relação com todos é um deleite.
*Beatriz
No início desse mês, Marjoria estreou nos cinemas na pele de Beatriz, que dá nome ao filme de Alberto Graça. Na trama, o escritor Marcelo (Sérgio Guizé) é marido de Beatriz e a usa como musa inspiradora para escrever o segundo romance. Mas ela se entrega demais ao papel o que atrapalha a relação deles, já que ela decide causar ciúmes no marido e acaba saindo com homens e mulheres desconhecidos tudo para que ele escreva melhor. “Quando embarcou no projeto do livro, Beatriz foi tirando inicialmente proveito das experiências que ele trazia, descobrindo outra relação com o seu corpo, com o sexo e o erotismo. O problema é que ela foi perdendo o controle do marido, o que fez aquilo tudo não ter mais sentido, e assim ela se perdeu”, contou a atriz.
Glamurama: Como foi interpretar essa personagem que vive um amor bem diferente do convencional?
Marjorie Estiano: Instigante! Tudo é bem diferente: o tema, a maneira que era desenvolvida. Passa longe da obviedade por levantar tantas questões ao mesmo tempo, desde a perda do controle em uma relação, passando pela criação de um livro e dentro disso também…o que é original ou plágio, liberdade sexual, erotismo, ética. O arco dramático da personagem era vigoroso e me proporcionou belas descobertas.
Glamurama: Como foi ser par romântico do Sergio Guizé?
Marjorie Estiano: Guizé é um ator muito sensível, intuitivo, divertido, verdadeiro. Foi muito vivo o jogo com ele. Estivemos bastante próximos no começo, mas depois os personagens vão ficando cada vez mais distantes e desencontrados.
Glamurama: A trama fala muito sobre até onde o amor pode chegar e também sobre obsessões. Pra você, quais esforços são válidos para manter um relacionamento?
Marjorie Estiano: Não tem uma resposta exata. Uma relação é um organismo vivo e deve ser constantemente atualizado. Sofremos, individualmente, muitas mudanças e isso altera a relação de forma inevitável. Alinhar os desejos requer uma administração e isso não quer dizer que uma boa administração seja suficiente para manter uma relação viva. Enquanto organismo ela tem seu ciclo, que não pertence apenas a nossa vontade. Acho que esforços são válidos e necessários, atenção e cuidado para com a relação é fundamental, mas é uma dinâmica e precisa ser saudável, fértil e equivalente.
Glamurama: Seus fãs sempre pedem que você volte a cantar. Pretende retornar com a música?
Marjorie Estiano: Eu sou movida musicalmente. Minhas cobranças e meus desejos estão se modificando e, se por um lado a minha relação com a música está amadurecendo junto comigo, por outro ainda está no início da construção. Sigo explorando esse universo, estudando, atenta. Mas não pretendo fazer nenhum disco com urgência ou por qualquer outro motivo que não seja o desejo de compartilhar algo que me faz bem. Não sei quando vai chegar esse momento, se virá de uma vez ou aos poucos… É como uma amiga que você ama muito, mas que encontra pouco.