Com apenas 41 anos, Marcos Mion é pai de Romeo, de 15 anos, Donatella, de 13, e Stefano, de 10, frutos de seu casamento com Suzana Gullo. Em 2015, o casal resolveu revelar publicamente que o filho mais velho é autista e, a partir disso, se tornou voz ativa na luta pela aceitação, direitos e entendimento de pessoas com essa condição. “Eu sempre achei que a minha missão era ser porta-voz do entretenimento, mas hoje consigo ver com clareza que toda a carreira que construí era pra ser porta-voz do meu filho e dos milhões de autistas que existem no Brasil”, disse em papo exclusivo com Glamurama, em que provou que ser um grande pai não é “pose de Instagram”. Ao longo da entrevista, Marcos Mion precisou parar o papo algumas vezes para explicar aos filhos que estava ocupado, enquanto eles pediam sua atenção.
Aliás, Mion faz questão de explicar que ser um bom pai não é dar tudo o que os filhos precisa, mas dizer ‘não’ quando necessário. “O seu filho talvez não entenda o seu ‘não’ agora, mas no futuro ele vai entender a importância. Muitos pais se perdem nessa corrida de ter o reconhecimento imediato da paternidade. Claro que, todas as vezes que eu digo não, tento fazer com calma, paciência. Só que os pais precisam entender que ser um bom pai não é ganhar o troféu de pai do ano. É ser rígido também, saber educar”, revela. O apresentador falou também sobre a próxima edição de A Fazenda, que estreia em setembro e, por causa da pandemia, terá uma dinâmica totalmente diferente, e de novos projetos.
Para celebrar o Dia dos Pais, comemorado neste domingo, confira nosso papo com Marcos Mion, autor de três livros sobre paternidade e referência no assunto. Vem ver! (por Jaqueline Cornachioni)
Glamurama: Ser pai sempre foi um sonho seu ou simplesmente aconteceu?
Marcos Mion: No meu caso, sim. Sempre foi. Cresci em uma família que sempre superou os desafios e esteve junta. E essa união serviu como base para tudo. Foi natural então que eu quisesse replicar para a minha própria vida: a vontade de ser pai e ter essa responsabilidade. A memória mais antiga que tenho é do meu aniversário de 16 anos. Quando cortei o bolo de aniversário pedi para ser pai antes dos 20 anos. Era uma vontade muito grande mesmo.
G: Qual é a parte mais prazerosa da paternidade? E a mais difícil?
MM: Não posso negar que tem muita coisa difícil. Mas, para mim, até elas são prazerosas. Paternidade exige dedicação intensa e agora eles deixaram de ser crianças. A parte das brincadeiras o tempo todo passou um pouco, e o meu foco agora é na formação de caráter. Isso não é fácil. Fácil é dar tudo o que os filhos querem, deixar que eles definam sua rotina, dar sempre o iPhone do ano, mas dizer “não” é uma tarefa difícil, porém necessária. O seu filho talvez não entenda o seu ‘não’ agora, mas no futuro ele vai saber a importância. Muitos pais se perdem nessa corrida de ter o reconhecimento imediato da paternidade. Claro que, todas as vezes que eu digo não, tento fazer com calma, paciência. Mas é preciso entender que ser um bom pai não é ganhar o troféu de pai do ano. É ser rígido também, saber educar.
G: Você só comentou sobre o autismo do Romeo em 2015. Como foi falar publicamente sobre esse assunto?
MM: Acabou virando um alívio, junto com um pouco de ansiedade e medo também. Não sabíamos como as pessoas receberiam essa informação. Até hoje, tem pessoas, inclusive famosos, escondendo seus parentes com necessidades especiais. Então eu não tinha uma inspiração do que fazer, não via muitas pessoas falando sobre ou defendendo os autistas. Mas a verdade é que não aguentei viver nessa ‘mentira’. As pessoas viam que o Romeo era diferente e, se você não fala sobre isso, dá espaço para olhares atravessados e julgamentos. E isso corta o coração de qualquer um. Nós damos remédios para ele todos os dias e, antes de contarmos, ele era medicado escondido durante as viagens. Não era fácil, queríamos viver com base na verdade, aconteça o que acontecer, doa a quem doer. O Romeo é um presente de Deus.
G: Ainda existe muito preconceito com o autista? Como acabar com isso?
MM: Existe muito preconceito e sempre vai existir. Ainda precisa de algumas gerações para a questão do preconceito melhorar, mas estou fazendo a minha parte. Crio os meus filhos para que eles não tenham preconceito ou distinção, e que sempre aceitem as diferenças. Claro que o mundo só vai mudar se mais pessoas fizerem o mesmo. Sempre que falamos sobre diversidade, falamos de uma ruptura e ainda temos resquícios de uma criação mais antiga e retrógrada.
G: Você imaginava que seria uma voz nessa luta?
MM: Não foi algo planejado, mas a única coisa que eu sabia é que quando falasse sobre o autismo do Romeo estaria representando uma causa e, claro, representando pessoas que também lutam por aceitação como eu. Então pesquisei e fui atrás de mais informações antes de começar a falar sobre isso. Sempre achei que a minha missão era ser porta-voz do entretenimento, mas hoje consigo ver com clareza que toda a carreira que construí era pra ser porta-voz do meu filho e dos milhões de autistas que existem no Brasil.
G: Você escreveu três livros sobre paternidade, e cada um deles foi dedicado a um filho. Qual foi o mais complexo?
MM: Todos eles foram muito orgânicos. Não é um manual, não é nada baseado em estudos, mas na experiência Mionzera de paternidade, o que é muito válido. Eu me dedico integralmente a ser pai, são 15 anos de estudo e de prática. Tudo é baseado na realidade.
G: O livro “Pai de Menina” é o mais vendido da categoria Parenting. A que você atribui esse sucesso?
MM: A dificuldade que muitos homens encontram em ser pai de menina, de entrar nesse universo, mostrar seu lado feminino. As mães são as que mais comprar para dar de presente para os pais tentando mostrar que tudo bem brincar de boneca, de maquiagem, se vestir de princesa e dançar com a filha. É um caminho difícil para muitos homens se permitir ser pai de menina.
G: Você tem ideia de escrever mais livros sobre paternidade? Qual seria o tema?
MM: Tenho sim, mas agora preciso esperar mais tempo. Falei sobre a infância, então só daqui alguns anos para escrever sobre a vivência de criar filhos adolescentes.
G: Como tem sido essa época de quarentena com as crianças? O que tem feito para distrair cada um deles?
MM: Respeitando todo o sofrimento e tragédia de quem perdeu pessoas amadas, e abrindo um espaço para falar sobre isso com humildade, esse período foi um momento fantástico com a minha família e meus filhos. Eu tinha uma rotina muito pesada e, mesmo me dedicando muito à paternidade, precisava fazer algumas viagens. Então nesse período me redescobri como pai, marido, além de ter sido um momento para olhar profundamente para dentro.
G: Você tem feito diversas lives. Qual foi a mais impactante e por quê? Pretende continuar com esses projetos depois da quarentena?
MM: Pretendo sim, principalmente porque sempre levei as redes sociais de um jeito bem profissional, tanto em entretenimento, como em conteúdos sobre temas e causas sérias. O que aconteceu na quarentena é que isso se intensificou. Eu criei também um canal no Youtube, com conteúdo exclusivo diferente de tudo o que faço nas outras redes. Mas tiveram vários vídeos impactantes. Quando a quarentena começou fiz muito conteúdo sobre a pandemia e fui até chamado de alarmista, exagerado. Também fiz um quadro no Instagram chamado Três Perguntas e me impactou bastante. Entrevistei várias pessoas legais, como Luciano Hulk, Thammy, e mais.
G: Quais são os seus próximos projetos?
MM: Sempre tem muitos projetos rolando, mas agora estou bem focado no meu canal do Youtube. Estou fazendo também um Tiktok com os meus filhos, voltado para o público infantil. O nome do perfil é mionzinhos e como pai garanto que é um lugar muito saudável para as crianças.
G: O que espera da nova edição da Fazenda? Como se renovar dentro de um formato já tão conhecido do público?
MM: A minha expectativa tá bem alta. Por causa da pandemia, já vai ter muita renovação, até mesmo na minha postura, e acredito que essa edição vai ser incrível. Gosto de dizer que não sei quem são as pessoas que vão participar, mas acredito que o elenco vai estar ótimo. Muitos artistas não aceitavam antigamente por conta da agenda, agora que tudo parou, provavelmente teremos boas surpresas.
G: Qual a primeira coisa que pretende fazer assim que essa pandemia acabar?
MM: Já falei que queria correr para o cinema, para o teatro, mas hoje estou com muita vontade de me aglomerar em um show. Eu e a minha mulher estávamos assistindo à apresentação do Coldplay que fomos juntos. Deu muita saudade.