Para alguns, a quarentena foi um período de pouca agitação. Não para Mariana Ximenes, que mesmo isolada em casa, teve uma rotina corrida, cheia de reflexão e de novos projetos, como o espetáculo ‘Cara Palavra’, ao lado de Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Falabella, que precisou ser completamente reinventado: “Nascemos no Instagram com uma produção caseira e cada uma na sua casa. É uma ode à palavra, à importância, à força dela”, revelou Mariana.
Aos 39 anos, a atriz está morando em São Paulo depois de 20 anos no Rio de Janeiro, engatou recentemente um namoro com o fotógrafo Victor Collor, mas o novo relacionamento não foi a única novidade nesse período. A atriz aproveitou para assistir a reprise de ‘Haja Coração’ , ‘Chocolate com Pimenta’ e refletir sobre o futuro. A seguir, confira o nosso bate-papo com Mariana Ximenes sobre teatro, cultura e projetos que estão por vir (por Jaquelini Cornachioni)
Glamurama: Acredita que a pandemia nos obrigou a refletir sobre um novo jeito de fazer cultura? MX: Completamente. Não tenho dúvida e estou aproveitando para experimentar (risos). Rodei o filme “Amores pandêmicos”, com cada pessoa do elenco na sua casa. Participei do projeto “Amor de Quarentena”, uma narrativa audiovisual por WhatsApp, que foi bem diferente. A pessoa recebe áudios, fotos e músicas que faço… Estabelecemos uma conexão a partir do que vou mandando. Achei muito interessante e recebi um retorno com mensagens maravilhosas. Agora estou no teatro de maneira virtual, levando poesia, música, performance, exaltando a palavra de poetas brasileiras muito potentes que participam conosco. Descobrindo uma nova possibilidade de teatro, que pode ser acessada de qualquer lugar, feita ao vivo e com interação com o público. Eu me jogo de cabeça e coração aberto nas experiências. Adoro novidades.
Glamurama: Tem algum trabalho em vista para a TV – novela, série?
MX: Assim que for possível, vamos retomar as gravações de “Nos Tempo do Imperador”. Na novela, que vai ocupar a faixa das seis, eu interpreto a Condessa de Barral, preceptora das princesas Isabel e Leopoldina, que tem uma relação próxima com Dom Pedro II (Selton Mello). Para vivê-la, li o livro da Mary Del Priori sobre ela. Me apaixonei por essa mulher tão forte, progressista, tão à frente do seu tempo.
Glamurama: Como tem sido a sua quarentena: maior dificuldade e o que mais aprendeu?
Mariana Ximenes: Foi um período de ressignificar muita coisa, de reflexão. Foi tempo de aprofundar o laço com minha mãe porque ela veio passar a quarentena comigo. Tempo também de colocar a mão na massa e elaborar projetos. Fiz parte do Instituto Capim Solidário, que distribuiu quentinhas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Essa doação de tempo, de cuidado, de afeto me fez ter mais certeza ainda de que podemos doar outras coisas além de dinheiro. Também reforçar a consciência de que precisamos combater o racismo, a violência contra a mulher, cuidar do meio ambiente, pensar em sustentabilidade, focar nas transformações que queremos a nossa volta para se ter um mundo melhor, com mais respeito, inclusão, diversidade, equidade, empatia e amor.
Glamurama: E como está sendo rever ‘Haja Coração’?
MX: Uma delícia! Nossa, dá uma saudade de estar no set com tantos amigos, fazendo o que a gente ama. Eu costumava me criticar muito ao rever algum trabalho, mas durante a quarentena descobri um novo prazer nisso. Consigo ter uma distância maior e aproveitar mais. Estou no ar com a Tancinha, de “Haja Coração”, com a Ana Francisca, de “Chocolate com Pimenta”, no Viva, e no Globoplay com “A Favorita”, além das séries “Ilha de Ferro” e “Se Eu Fechar Os Olhos Agora”. São todas personagens tão diferentes. Além de ser divertido rever, é uma maneira de relembrar minha carreira. Fico muito feliz de saber que “emoções eu viviiiiiiiiii…!”
Glamurama: Fale um pouco da Tancinha…
MX: Tancinha é uma explosão. Ela é coração puro. Uma mulher muito honesta, que não leva desaforo para casa, ajuda a todos que estão em volta. Ela é uma mulher forte, corajosa, cheia de energia e vitalidade. Só é difícil para ela escolher com quem ela quer ficar: se com Apolo (Malvino Salvador) ou Beto (João Baldasserini). Tancinha foi um grande presente que ganhei do Daniel Ortiz. Quando recebi o convite fiquei paralisada com a possibilidade e pensei até em não aceitar. Deu um medo de não dar conta. Ela é uma personagem icônica da TV, que foi defendida brilhantemente pela Claudia Raia em “Sassaricando”. Fui pedir a bênção dela, que não só me abençoou como disse para eu fazer a minha Tancinha, não uma releitura da dela, para eu colocar meu coração. E ainda avisou que ela mudaria minha vida. E mudou mesmo!
Glamurama: ‘Haja Coração’ foi lançada em 2016. O que mudou na sua vida nesses quatro anos, tanto profissionalmente como na vida pessoal?
MX: A maior mudança na minha vida pessoal foi a minha volta para São Paulo. Depois de muito anos morando no Rio e ainda trouxe minha mãe junto (risos). Ela mora no Rio, mas a convidei para passar a quarentena comigo. Foi um reencontro lindo nosso, a retomada de uma convivência diária. É muito bom dividir o dia a dia com ela. Profissionalmente, tive a oportunidade de trabalhar com streaming, com a série “Ilha de Ferro” para o Globoplay. É um outro formato, uma nova maneira de produzir o conteúdo audiovisual e de consumir. Teve também minha participação em “Supermax”, que foi uma série de terror, um gênero pouco explorado até na TV aberta. Ter esse registro foi muito enriquecedor. Não posso deixar de falar também de “Nos Tempos do Imperador”, que era a novela que estava gravando, mas foi interrompida por causa da quarentena. Estava realizando o sonho de trabalhar com Selton Mello, Alexandre Nero e o diretor Vinícius Coimbra. São profissionais que admiro muito.
Glamurama: Qual a diferença de morar em SP e no Rio?
MX: No Rio tem praia e cachoeira, coisas que eu adoro. Amo estar em contato com a natureza. Mas estava sentindo falta de estar mais perto do meu irmão, da minha sobrinha, do meu pai. Por isso, quis voltar para São Paulo. Foi uma vontade de fortalecer ainda mais esses laços. E eu adoro a cidade, as possibilidades que ela oferece, mesmo que agora não possamos aproveitar tanto fora de casa. Então, fico em casa, cozinho, cuido das plantas, leio, trabalho. Mas está sendo muito bom esse reencontro com São Paulo.
Glamurama: ‘Chocolate com Pimenta’ também voltou ao ar no canal Viva. O que está achando dessa onda de reprises?
MX: Eu gosto muito. Mostra como a relação dos brasileiros com as novelas é forte, como eles gostam mesmo que não seja uma história inédita. Muitas pessoas falam comigo sobre Aninha, por exemplo, que assistem a novela no Viva e me contam histórias de como a personagem influenciou suas vidas. Acho isso muito especial.
Glamurama: Você está na peça ‘Cara Palavra’ ao lado de Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Falabella. Como surgiu a ideia?
MX: Já estávamos conversando sobre o projeto, que nasceu mesmo para o teatro. Aí veio a pandemia e pensamos que poderíamos experimentá-lo em outro formato. Nascemos, então, no Instagram, com uma produção caseira, cada uma na sua casa. Foi uma experimentação da nossa ideia. Os teatros começaram a fazer peças on-line e aí o teatro Porto Seguro nos convidou para montar um espetáculo. É uma ode à palavra, à importância, à força dela. A palavra é nosso instrumento de luta, de resistência. É isso que celebramos no espetáculo, junto com nossas poetisas convidadas.
Glamurama: Como é sua relação com as meninas? A distância atrapalhou a elaboração do espetáculo de alguma forma?
MX: Nossa relação é linda. O trabalho com elas é muito gostoso, trocamos muito, e flui de uma maneira muito bonita. Como não podíamos nos encontrar, fizemos todo planejamento e ensaios por chamadas de vídeo. Foi uma experiência diferente. É difícil não estar perto, não ter uma troca pessoalmente, mas nos adaptamos e deu muito certo. Ah, e não podemos deixar de exaltar a tecnologia também que permite que nós quatro, que estamos em países diferentes, nos reunimos para uma peça. Eu estou em São Paulo. Andréia está no Rio. Bianca está na Califórnia. Débora está em São Paulo também e é a única presente fisicamente no teatro.
Glamurama: Como é fazer um espetáculo online? Sente falta de interagir com o público?
MX: Sinto muuuuuita falta! Por outro lado é muito inusitado, mas um inusitado bom porque a gente vê outras possibilidades. E arte é isso, é a gente se reinventar o tempo todo. Sinto falta das minhas amigas, da equipe, da energia do cara a cara, mas a peça é online e ao vivo, com interação do público, que é parte fundamental do espetáculo. É um espaço de troca fluente entre nós e quem nos vê.