Depois de meses longe dos holofotes causa da pandemia, Camila Pitanga volta à cena – atuando, cantando e dançando. Ela estreia ‘Matriarquia [em processo]’, espetáculo solo com transmissão online dentro da plataforma “#emcasacomsesc”, do Sesc São Paulo. Criado por Camila, pela preparadora vocal Lucia Gayotto, pela dramaturga e roteirista Dione Carlos e pela diretora Cristina Moura, ‘Matriarquia’ é um encontro de mulheres. “É sobre o encontro dessas mulheres, é sobre o meu encontro com minhas vivências e percepções, bem como minha experiência neste mundo que atravessa uma pandemia”, explica a atriz.
Pensada como um “poema cênico musical performático”, Camila interpreta a agente de saúde Stela, uma mulher que, submetida a um constante estado de vigília, passa a ter delírios auditivos, reencontrando a própria mãe no fundo de suas memórias e dialogando com a filha, momento em que a narrativa da personagem atravessa e conecta-se às memórias da própria atriz. “Quem me conhece pode reconhecer fatos da minha história, mas Matriarquia é uma voz universal. Quem nunca se trancou no quarto ou não teve dificuldades de comunicação?”, questiona ela.
E explica como tudo surgiu: “Matriarquia surgiu do meu desejo de estar em movimento… em meio ao processo de isolamento poder trabalhar como atriz e interprete. É um dialogo com nosso tempo, que envolve a pandemia, minha história, a relação com minha mãe, com minhas ancestralidades femininas, minhas dores, resiliência. É pegar a dor e transformar em instrumento de cura, amor a vida, celebração e rito.”
Quisemos saber que memória em especial serviu de inspiração para o espetáculo: “Tem uma parte da peça que canto exatamente essa memória: ‘Quando eu era pequena brincava com pedra, cachorro, botão de costura, conversava com tudo ao meu redor e agora, assim, de repente, tudo conversa comigo’. Falo dessa solidão que vivi na minha infância, solidão que todos os seres humanos vivem, como me virava com ela, de brincar com o que tinha. Acho que isso é algo que a gente tem precisado muito agora, transformar solidão em solitude. Em algo que nos inspira, que nos faz conectar com nossas forças, com nossa imaginação, e também com nosso autocuidado. Acho fundamental viver, conviver, se relacionar, mas as vezes a gente esquece da relação da gente com a gente mesmo.”
A dramaturga Dione Carlos, que participa do projeto, comenta: “Eu ainda não tinha vivido a experiência de ter um texto lido assim, pela internet, mas para a minha surpresa algo aconteceu naquele dia. Camila fez o texto dançar. Ensaiávamos de dentro de nossas casas, então é como se estivéssemos realmente visitando nossas intimidades. Camila já tinha o desejo de cantar e dançar em cena, e eu sempre escrevo pensando no texto como uma partitura musical, feito para ser cantado. Criei uma estrutura dramatúrgica pensando nos dramas negros, em que as narrativas são encenadas pelas ruas, de cidade em cidade, com cânticos e danças”.
Para encerrar, Camila Pitanga fala de seus planos para os próximos meses: “Essa peça tem um futuro à vista. Me anima muito como atriz saber que esse processo já está se desenhando. Agora vamos fazer essa tranmissão ao vivo, aqui da minha casa, com esse pedaço de casa que virou um espaço cênico, aproveitando tudo o que tenho aqui. Mas a gente quer transpor todo esse cenário, com elementos daqui, para o teatro. E fazer uma transmissão filmada ao vivo. E num terceiro movimento, fazer com público presencial. Esse transito do online pro presencial vai mudar tudo na peça. Estou muito animada.”
Serviço:
‘Matriarquia [em processo]’
No #emcasacomsesc, nas redes sociais do Sesc São Paulo
Instagram.com/sescaovivo
Youtube.com/sescsp
Dia 7 de março de 2021, às 19h
Duração: 60 minutos