Não sei se alguns de vocês já notaram que lá no meu perfil do Instagram costumo usar muitas frases e palavras em inglês. Isso não se dá somente pelo fato de ter sido alfabetizada em inglês, mas também porque minha mãe nasceu e teve uma infância no Líbano. Resolvi falar com vocês sobre minha forte ligação com o Líbano por causa dos tristes acontecimentos da semana passada, quando uma explosão no porto de Beirute matou quase 200 pessoas e deixou mais de 300 mil sem casa. Fiquei muito triste com tudo o que aconteceu e resolvi contar para vocês que o Líbano é demais e vai se recuperar. Sei que o mundo vai ajudar, porque as pessoas estão ligadas no que realmente importa, e quando li hoje sobre os jovens libaneses, e como eles estão fazendo toda a diferença, resolvi escrever sobre tudo de bom que o Líbano tem e vai voltar a ter.
Os libaneses, assim como minha mãe, já nascem falando francês e inglês, além do árabe; isso quando não se aventuram a aprender também alemão, espanhol, italiano ou qualquer outro idioma que tenham vontade. Minha mãe chegou ao Brasil em 1970 e, 45 anos depois, em 2019, resolveu voltar para lá com seus dois filhos, meu irmão e eu. Em agosto do ano passado, exatamente na mesma semana dessa tragédia, eu estava lá. Ter estado no Líbano foi uma das experiências mais surreais e maravilhosas que vivi. O Líbano é o único lugar no mundo, em que você pode tomar sol na praia e admirar uma montanha coberta de cedros e com o pico branco nevado. Isso mesmo, você pode ir à praia pela manhã e esquiar à tarde em um dia de inverno mais quente. E no verão, dependendo das temperaturas, você consegue ver os restos de neve. O país tem florestas lindas, é banhado pelo Mediterrâneo, com águas de um azul profundo, e tem as ruínas romanas mais antigas do mundo. No meu caso, alguns outros motivos, além da minha ascendência, me faziam querer muito ir para lá: os famosos beach clubs e as baladas, além dos restaurantes e lojas. Vou explicar, ir para a balada é sinônimo de respirar para os libaneses – nem mesmo a guerra civil que tiveram entre 1975 e 1990 fez com que deixassem de se divertir. Os mais famosos DJs do mundo já se apresentaram em Baalbek, onde fica o maior templo de Júpiter no mundo.
Se São Paulo é uma cidade conhecida por seus restaurantes, Beirute é igual, com a diferença que tem também a melhor cozinha do mundo, a libanesa. Quem não ama uma mesa cheia de “mezzes”, de kibe, esfiha e hummus? Além de tudo isso ainda pirei nas lojas de Beirute, onde encontrei as peças mais inéditas, como as bolsas da Sarah’s Bags, feitas por egressas de prisões libanesas e que hoje se encontram nas mais sofisticadas lojas de departamentos da Europa e nos Estados Unidos.
Já contei pra vocês sobre os designs da Mira Mikati, dos vestidos da Philo.Sophia. Não sei se vocês sabem, mas Zuhair Murad e Elie Saab também são libaneses e fazem aqueles vestidos inesquecíveis do “red carpet” do Oscar. Indico a página de insta @lebanesedesigners para terem uma ideia do que estou falando.
Passear pela Ashti Foundation é uma experiência única, pois lá tem de moda à vanguarda das artes. Aliás, a feira de artes de Beirute é uma das mais legais do mundo. E por falar em legal, queria dizer que além da minha mãe, boa parte dos meus melhores amigos e amigas são de descendência libanesa ou libaneses originais. Com isso quero dizer que os jovens libaneses são especiais e hoje mais do que nunca tem servido de exemplo para o mundo. Não sei se vocês têm acompanhado na TV e no Insta páginas como @livelovebeirut, onde os jovens aparecem nas ruas limpando a cidade, ajudando a reconstruir as casas, ajudando os idosos e distribuindo alimentos. É incrível de se ver e mostra também que nossa geração está aqui para fazer as coisas de outra maneira.
Minha amiga Nabila Mourad mora aqui no Brasil, mas resolveu correr 10 km para ajudar a levantar doações para o Líbano. E muitos jovens, assim como ela, não só libaneses, tem cada vez mais se preocupado em fazer alguma coisa para tentar preservar o planeta e fazer dele um lugar mais legal e justo do que tem sido nos últimos tempos. Tenho pensado muito nessa fase esquisita da pandemia, de destruição no país onde minha mãe nasceu e que tanto amei conhecer. Espero que minha geração e as próximas continuem a se preocupar e se engajar em causas importantes. Chega de fazer as coisas sem propósito e sem vontade de acertar de verdade.