Por Pietro Marmonti, colaborador do Glamurama e empresário da indústria criativa
Essa semana comentei com meu pai que estava com dificuldade em um trabalho da faculdade. Ele riu e me fez a seguinte pergunta: “Pietro, você tem noção que na sua idade eu usava uma enciclopédia ou ia até uma biblioteca para achar as respostas?” Para ser sincero, não consigo nem entender a possibilidade de ter meu acesso à informação limitado ao universo físico. Me sinto privilegiado por fazer parte de uma geração que tem a opção de acessar o Google como assistente pessoal e ter acesso a estudos e textos digitalizados de todas as grandes universidades do mundo.
O avanço da tecnologia digital facilitou muito o acesso e disseminação de informação. Hoje, qualquer notícia ou conhecimento está a um clique de distância. Ao contrário dos nossos pais, a gente nunca precisou ficar horas procurando respostas em enciclopédias gigantescas ou ter que esperar o jornal para ver o que aconteceu no mundo – sempre por meio de poucos provedores. Agora, basta pegar nossos celulares, abrir a internet, acessar o mundo digital e, em pouco tempo, ter as informações que procuramos.
Mas não acho que seja a facilidade ao acesso à informação que faz com estejamos vivendo um tempo único. É a facilidade de acesso a experiências pessoais digitais, pessoas vivenciando a notícia que antes já vinha filtrada pelas lentes de poucos meios de comunicação. Hoje, dá para entrar na hashtag de alguém filmando os protestos nos EUA ou de uma pessoa que sofreu alguma forma de discriminação. Nesse sentido, a tecnologia criou condições abertas de nos conectarmos com mais facilidade a pessoas e pautas que não fariam parte da nossa realidade física. Essa aproximação digital (nunca suficiente) de realidades faz com que a Geração Z tenha outra relação – muito mais aberta – com causas sociais que não necessariamente nos afetem individualmente. Pelo contrário, se bem utilizadas, nos aproximam de pautas e realidades coletivas.
O fato de eu estar ‘conectado’ online em uma rede complexa de informações em que pessoas falam de seus problemas, expondo em primeira mão os efeitos e consequências de certas ações, me dá a oportunidade de ser mais consciente. Acredito que essa proximidade cria condições para desenvolvermos mais empatia e intolerância a comportamentos e práticas que antes eram ignoradas, controladas por poucos meios ou restritas à experiência física de quem a vivia: agressões a minorias, mercado de trabalho pouco diverso, empresas pouco sustentáveis etc. O digital difundiu essas pautas e criou condições para a manifestação de uma diversidade de vozes.
Ver tudo o que está acontecendo ao vivo, gravado e relatado em primeira mão por quem está ativamente sofrendo com problemas sistêmicos, cria uma oportunidade imperdível da minha geração ser mais consciente ao gerar empatia com a diferença – criando proximidade com esses problemas. E, pessoalmente, sinto que esse processo de conscientização é visto em todas as esferas de nossas vidas. Escolher onde trabalhar ficou mais difícil porque estamos olhando para muito mais do que um salário: queremos saber os valores da companhia, seus processos, suas políticas de contratação, se o produto e sua cadeia de produção é sustentável… e por aí vai.
E é essa maior conscientização da nova geração que me faz ter esperança no futuro. Em alguns anos, empresas sem propósito não sobreviverão, políticos sem propostas sociais não serão eleitos e pessoas pouco conscientizadas serão depreciadas. Se a minha geração continuar a se manter conectada a pessoas que vivem outra realidade, se engajando com os valores e a riqueza que a diversidade traz, com certeza criaremos condições para um ambiente digital e físico mais empático e cuja consciência pública será mais ampla. Precisamos lutar para mantermos a pessoalidade dessas informações, a sua verdade e, principalmente, a defesa de plataformas abertas para que todos tenham essa mesma oportunidade de se desenvolver.