No Dia da Mulher Negra, celebrado neste sábado, e às vésperas do Dia Mundial do Orgasmo, na próxima sexta-feira, tivemos o prazer, ops!, de bater um papo dos mais importantes com Gaby Amarantos. A cantora paraense é puro empoderamento, lugar conquistado no decorrer de seus 41 anos muito bem vividos. Uma das quatro integrantes do programa Saia Justa, junto de Astrid Fontenelle, Monica Martelli e Pitty, todas as quartas no GNT, ela participou da série de quatro episódios, ‘Liberdade Vem de Dentro’, que está indo ao ar no Youtube do canal. Comandada por Deborah Secco, a atração conta também com as participações de Marcela McGowan, Karol Conka, Mariana Xavier e Magá Moura, que trocam experiências sobre a sexualidade feminina para dar voz às histórias e compartilhar questões comuns a todas as mulheres como saúde, corpo, autoestima, e escolhas de vida. No dia 31, essa turma se reúne de novo, em uma live. Para fazer um warm up, confira nossa conversa com Gaby Amarantos.
Glamurama: Como é sua relação com o prazer?
Gaby Amarantos: Minha relação com o prazer é maravilhosa, cada vez melhor. É como um portal que você atravessa e não tem mais volta. Foi uma parada que comecei a desenvolver com o tempo, com a maturidade. Nem sempre foi assim. Tanto com o corpo, quanto com a liberdade, é uma parada que venho construindo. Cada pessoa tem seu processo. Na adolescência, até meus 20 e poucos anos, foi uma fase de muita timidez, muitos tabus, até que chegou o momento em que me libertei. A maternidade me ajudou muito com isso. E a maturidade é o grande divisor de águas na minha descoberta da liberdade do corpo.
G: E o que dizer da dificuldade que muitas mulheres ainda têm de chegar ao orgasmo?
GA: É uma questão ainda problemática. Muitas mulheres dizem que já atingiram o orgasmo porque tem vergonha de admitir que nunca conseguiram ter essa experiência. Não é simples porque vivemos em uma sociedade que não gosta de ver as mulheres livres. A gente vive num país em que essa liberdade é sempre questionada. As mulheres que tem liberdade sexual são colocadas em um lugar menor, não são levadas a sério. Uma dica que sempre dou é se descobrir, conhecer seu corpo. Praticar o toque, quebrar tabus. Se olhar no espelho, ver como é seu corpo, olhar sua ‘pepeca’, ver como ela é… fazer isso já é uma grande quebra de paradigmas, conhecer os caminhos para o prazer.
G: As mulheres estão mais empoderadas atualmente, com novas conquistas.
GA: Uma das principais conquistas é poder falar da nossa liberdade, dos nossos corpos e do prazer feminino. Porque o prazer é um direito, devia estar na constituição: “toda mulher tem o direito de ter orgasmos múltiplos” (risos). Mas a gente vê mulheres ocupando seus espaços, mesmo sabendo que existe um caminho ainda pela frente temos que comemorar. Vemos mulheres negras protagonizando, mulheres indígenas também.
G: Você acredita que o empoderamento sexual influencia no empoderamento social e profissional?
GA: Sim. Gosto muito dessa palavra e acho que dentro desse polvo com vários braços que é o empoderamento, o sexual tem grande importância. Por isso, sou super a favor da educação sexual nas escolas. Não é para ensinar sexo para crianças e sim, sobre prevenção, descobertas… A mulher quando fala de sexo vai pra um lugar proibido, uma coisa errada, e temos que sair desse fosso e enxergar a luz. Tenho percebido que estamos evoluindo nesse sentido.
G: Como você lida com a hipersexualização da mulher negra?
GA: É um assunto super delicado. Para falar da hipersexualização temos que falar da solidão da mulher negra. De modo geral, as mulheres negras são as que menos casam, as que menos têm alguém que as assuma como pessoas para serem amadas e respeitadas. É importante tirar a mulher negra desse lugar de hipersexualização, como um objeto, e colocá-la num pedestal de rainha, que merece amor, afeto, carinho. Tem que acabar com a invisibilização dos sentimentos. Quero ver minhas irmãs pretas felizes.
G: Você tem uma imagem poderosa, especialmente no palco, e suas músicas falam dessa mulher resolvidíssima. Essa mulher é reflexo do que você é no dia a dia?
GA: Quero que essa mulher que procuro cantar reflita quem eu sou. Claro que autoestima é uma construção e é óbvio que tem dias que acordo me sentindo pra baixo, mas aí só o fato de eu lembrar de músicas que falam dessa liberdade de ser, de ir, de vir, de sentir, de uma foto de biquíni nas redes sociais, que mostra meu corpo para além do corpo, de ser livre com ele e amá-lo do jeito que é, já dá um up. A música me ajudou muito no processo de cura, de alguém que tinha muita vergonha do corpo, que já escondeu muito esse corpo… não tenho nenhuma foto de biquíni da minha adolescência. Sempre ia pra praia de camiseta. Só me escondia, só usava preto… por isso hoje sou muito colorida e livre, e, quanto mais o tempo passa, mais me identifico com essa mulher.
G: Se pudesse dar uma dica para mulheres que querem se apropriar de seu prazer, o que diria?
GA: Quanto mais você se permitir, se tocar, escolher o que quer e o que não quer, sexualmente, socialmente e até profissionalmente, quanto mais você souber, quanto mais buscar o conhecimento, com certeza a vida vai ser melhor. Porque conhecimento é poder e mulher instruída, que seu autoconhece, não tem espaço pra boy lixo.