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Fernanda Montenegro e Fernanda Torres || Créditos: Globo/ Andrucha Waddington
Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em cena || Créditos: Globo/ Andrucha Waddington

As relações familiares passaram por reviravoltas inesperadas com a chegada da pandemia. Para trazer luz aos novos estilos de vida dentro dos lares brasileiros, sai do forno na próxima terça-feira a série ‘Amor e Sorte’, com quatro episódios que apresentam personagens diferentes lidando com as relações na quarentena. Para abrir com chave de ouro, o episódio ‘Gilda e Lúcia’, protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, traz a história de ficção em que mãe e filha com uma relação estremecida encaram a reaproximação no isolamento. O episódio foi dirigido por Andrucha – marido de Fernanda Torres – e Pedro Waddington – sobrinho de Andrucha, e escrito por Jorge Furtado, Antonio Prata, Chico Mattoso em parceria com a própria Fernanda Torres. “A filha é muito mais ‘careta’ que a mãe. Esse conflito dá o caldo ao episódio”, adianta Fernanda Torres. Na conversa, mãe e filha falam da relação na frente e atrás das câmeras, além do convívio diário e aprendizados durante a quarentena na casa de campo da família na região serrana do Rio de Janeiro, onde também foi rodado o episódio.

No set, em que momento vocês identificaram as grandes atrizes que contracenavam uma com a outra?
Fernanda Torres: Todo trabalho é trabalho. Você reconhece alguém que é grande não por grandes momentos e sim no fazer da coisa. Eu e mamãe fomos vingando na vida por ter prazer no elaborar. Mas eu acho que o momento da minha vida de parceria com a minha mãe, um ponto de mudança, foi quando a gente fez ‘The Flash and Crash Days’, porque foi a primeira vez que a gente realmente teve um convívio de um mês e meio ensaiando uma peça que era meio que uma criação coletiva. Ali a gente virou parceira. De vez em quando volta essa parceria, mas acho que o ‘clique’ do ‘ah meu deus estou diante da grande’ foi nesse trabalho.

Fernanda Montenegro: Se estou interpretando um personagem, com uma outra atriz, sendo minha filha ou não, não levo comigo esse sentimento de maternidade. A gente põe muito de nós mesmos nessas personagens, mas não estou ali em função de dar conta da minha filha ou dela dar conta de mim. Somos atrizes capazes, arriscando mais um trabalho, buscando o melhor que se pode dar. Temos uma vocação, um encontro de atrizes e por acaso somos mãe e filha. Fora de cena, é outra coisa.

Como é a relação de mãe e filha entre vocês?
FT: Quando você faz um trabalho, no fundo você adoece daquilo e vive aquilo profundamente. As pessoas com quem você está trabalhando viram sua família. É muito diferente essa relação. Claro que eu e mamãe falamos muito de arte, ou de um livro, ou de um filme, mas é muito diferente de quando a gente está no jogo profissional como nesse projeto. A minha relação com minha mãe não é muito diferente das pessoas que também estão na equipe. Você vira família de profissão. Quando a gente está como mãe e filha a relação é nessas questões.

FM: É muito complicado, mas é diferente. Quando entramos como artistas, a nossa profissão, com tudo que essa palavra tem de mais bonita, está em jogo a crise das personagens.

Teve alguma questão familiar que fez vocês repensarem a vida nesse período de isolamento?
FT: A gente ficou meses na serra, virou nossa casa. Aceitei rápido essa realidade… minha mãe acabou ficando um pouco mais revoltada com a situação até uma hora em que a gente aceitou aquele lugar como nosso. Quando veio a filmagem, foi uma espécie de coroação, quase como se fosse tirar uma foto, uma homenagem a um momento da nossa vida, e aconteceu em forma em série.

O que aprenderam nessa convivência diária de quarentena?
FM: Não convivíamos debaixo do mesmo teto há muitos anos, embora convivêssemos na vida. Então esse vírus nos levou para o mesmo teto durante quatro meses e me vi muito amparada diante de uma mulher que luta pela sua vida, sabe o que quer, é responsável como cidadã, um ser humano cheio de talento. Isso para uma mãe é uma comprovação de que aquele ser humano é livre, foi isso que aprendi nesse tempo. E ainda, de repente, veio um trabalho profissional e encaramos uma atividade bastante complexa, em uma intensidade e integração absoluta.

FT: Sou cercada por dois ‘workaholics’: mamãe e Andrucha. Quando veio a pandemia, imediatamente senti minha mãe projetando no futuro o que isso tudo significava em termos de trabalho e, ao longo desse tempo, vi ela se acalmando. Nessa convivência, destaco muito o Andrucha. Ele é muito gentil, atencioso, alegre e foi uma figura de ligação muito importante na pandemia, para essa convivência ser harmoniosa.

Criaram algum hábito individual ou em família no isolamento?
FT: Comecei a desenhar calendário, que depois acabou virando uma coisa meio obsessiva. Cada quadradinho é o que aconteceu no dia. Já estou na segunda página indo para a terceira! Hoje vi que só vou parar de fazer ele quando sair a vacina (risos). Estou com medo dele avançar um ano, dois. Um hábito que quase abandonei é malhar todos os dias. Uma atividade familiar foi a culinária. Andrucha e meu filho pequeno gostam de cozinhar. O ponto alto foi fazer Curanto (prato típico chileno).

FM: Comecei a andar no sol, ver a natureza, as árvores e ver o que precisava ser feito lá para ajudar a melhorar o lugar onde nós estávamos. Comecei a reler coisas que lia há muitos anos sobre Gilgamesh, resolvi ir para os primórdios. Houve um mês de saturação do ‘sem saída’. No segundo mês me aquietei. Começamos a fazer coisas na casa do sítio. E também me veio a consciência dos meus 90 anos. Até ano passado, antes da chegada do vírus, a vida ia. Você começa a pensar que é quase um século de vida. A consciência dos 90 me veio muito forte. De repente, já que não posso sair, comecei a pensar na minha própria grade.

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