Logo no começo de “Segundo Sol”, Fabricio Boliveira bateu um papo com o Glamurama sobre seu Roberval, papel central na trama, e sobre racismo na TV: “Não aceito ser pano de fundo para os outros”, nos disse. Agora, na reta final da novela, com o sucesso consolidado do personagem e muitas questões do negro na sociedade que a história levantou, que balanço o ator faz? “Essa era uma das minhas questões, não ser pano de fundo, mas existem outras. A sensação hoje é de troca, de diálogo. Fico muito feliz de poder conversar e também propor coisas ao diretor, a outro ator, ao autor. E depois ver que as pessoas estão respondendo de algum jeito, que aquilo está chegando ao telespectador. Isso pra mim é o maior prazer”.
Sobre o desenrolar da trama… “Estou junto com todo mundo, acompanhando a história, tentando fazer uma coisinha ali que crie diálogo. Mas também não sei pra onde ele vai. É sempre uma incógnita a novela”.
Afinal, Roberval é do bem ou do mal, hein? A gente tem acompanhado uma mudança de postura dele com a Cacau [Fabiula Nascimento], que seria seu par romântico, se dá pra chamar assim… E com a mãe dele também… “Eu acho que o Roberval está muito afrente de maniqueísmos, de bem ou mal. Acho que ele é humano, e está tentando viver, tentando curar os problemas dele, sabe? Acho que tem uma coisa muito linda em Roberval: ele está conectado com os traumas dele. Aparenta menos, talvez, mas ele está completamente conectado com suas dores. E talvez seja um lugar interessante de autoconhecimento, de pensar uma nova vida”.
Será que ele supera esses traumas? “João Emanuel, conta pra gente?”, brinca Fabricio, que também vai mostrar uma história envolvendo racismo no cinema, dando vida a Simonal. Sobre a importância desse tipo de plataforma para discutir a sociedade… “A arte nos dá essa possibilidade de mudança, tem uma função enorme na transformação da sociedade… Repensar novos conteúdos, caminhos, linguagens. Oportunidade da gente se ouvir… A gente não pode esquecer: existe uma coisa estranha acontecendo, uns ataques. Gente, não sei como uma sociedade pode sobreviver sem arte. Mesmo, de verdade. Sem refletir sobre si próprio. O que a gente faz é também espelho de uma sociedade. É uma possibilidade de reflexão e a gente tem que estar muito conectado com isso… Para poder pensar novos lugares”. (por Michelle Licory)