Exclusivo! Consultora de etiqueta de ‘Bridgerton’ fala sobre a intensa preparação do elenco e quebra de tabus da série. À entrevista!

Bastidores de ‘Bridgerton’ || Divulgação Netflix

‘Bridgerton’, série da Netflix, já é a queridinha de 2021. A obra produzida por Shonda Rhimes, passa no século 19 e conta a história da nobre família Bridgerton. A trama acompanha o universo competitivo da alta sociedade europeia com ares de ‘Gossip Girl’ antigo, mostrando como surgiram os tabloides e a ‘cultura das celebridades’. Para contextualizar essa época, não bastou apenas usar as vestimentas típicas, cenários e caprichar na atuação. Os atores precisaram estudar os comportamentos, gestos e até reverências da época. E quem foi convocada pela plataforma de streaming para a missão de ensinar as regras de etiqueta ao elenco foi a historiadora Hannah Greig.

A profissional é especialista no período Georgiano do Reino Unido entre os séculos 18 e 19 e consultora em filmes, programas de TV e produções que retratam a época, e já participou desse processo em séries como ‘A Favorita’ e o filme ‘A Duquesa’. A preparação para rodar as cenas da série começou antes das filmagens: “Conversamos sobre o que fazer quando se trata de reverências e hierarquia”, conta Hannah. Além disso, ela ressalta que esse foi o começo do que hoje conhecemos como a ‘cultura de celebridades’ e quando surgiu o interesse pela vida dos famosos.

A série ainda retrata as diversas quebras de tabus de um tempo tão conservador e cheio de regras, e Hannah também conta como foi ensinar a romper essas regras: “Essa é uma das melhores partes disso. Você pode mostrar as escolhas de seu personagem, não simplesmente seguindo as regras ao pé da letra, mas também escolhendo quando você as ignora e quando você faz algo diferente”. Confira a entrevista exclusiva da ‘advisor’ de etiqueta de ‘Bridgerton’ (por Luzara Pinho).

Como você se envolveu com a série?
Hannah Greig: Sou historiadora e trabalho em uma universidade no Reino Unido, mas também trabalho para produções de cinema e televisão, aconselhando nos detalhes históricos. Fui a conselheira de etiqueta de ‘Bridgerton’ e orientei sobre gestos e interações, quando se curva ou faz uma reverência ou o até o que pode fazer com o leque e como as pessoas se vestiam. Eu trabalho com o período Georgiano do Reino Unido, a história britânica do século 18 e início do 19, e esse é o pano de fundo do drama clássico de época, exatamente em que ‘Bridgerton’ se passa.

Como você ensinou o elenco sobre a história e etiqueta daquela época?
H.G: Tivemos um longo período de ensaios antes de começarmos a filmar. Fizemos um treinamento com Jack Murphy, o coreógrafo, que foi brilhante. Conversamos sobre o que fazer quando se trata de reverências e sobre hierarquia, o que é muito importante para o chefe da família e quem é mais aristocrático do que outra pessoa. Também falamos sobre como interagir com os servos.

Falando em reverências, o que o elenco precisou saber em detalhes? 
H.G: Existem maneiras de fazer isso educadamente e outras que mostram que está ignorando alguém. Nunca existiu uma regra rígida e rápida sobre como um ‘Featherington’ ou ‘Bridgerton’ (famílias retratadas na série) pode fazer uma reverência, mas há diferenças significativas entre como a Eloise Bridgerton (Claudia Jessie), por exemplo, lida com uma reverência e se comporta, e como alguém como Penelope (Nicola Coughlan) interage em um ambiente social. Isso tem a ver com o personagem e a história.

Quantas maneiras existem de reverências? 
H.G: Uma grande diferença entre as reverências é que existe o que chamamos de reverência da corte, que se faz à Rainha: é muito baixa, tradicional e antiquada. E tem a pequena reverência que pode fazer para dizer ‘olá’ para alguém que conhece bem, quando entrar em uma sala ou um baile pela primeira vez. Se realmente não quer agradecer a alguém, pode sentar rapidamente e depois sair fora. Quanto mais baixo vai, mais respeito geralmente mostra a alguém. É como a diferença entre apertar a mão ou beijar alguém na bochecha. Existem muitas maneiras de cumprimentar as pessoas hoje, então não é incomum pensar que haveria vários jeitos de se curvar e fazer uma reverência.

Depois de ensinar as regras de etiqueta, você teve que mostrar como quebrá-las, já que a série também mostra isso? 
H.G: Sim! Definitivamente as regras precisam ser quebradas. Pude mostrar as escolhas do personagem, não simplesmente seguindo as regras ao pé da letra, mas optar quando as ignora e quando faz algo diferente. ‘Bridgerton’ brinca com essas ideias. Quando li os roteiros pela primeira vez, uma das minhas questões favoritas foi quando Eloise aparecia fumando no jardim. Eu adorei! Você pode pensar que ela está adotando um conjunto de ideias muito masculinas, mas na verdade as mulheres na Revolução Francesa eram famosas por fumar. Para mim, ecoou a ideia de que ela estava ultrapassando os limites do que queria com a ideia de ser uma mulher na Inglaterra da Regência.

O que aconteceu nessa época, especialmente sobre etiqueta, que você acha tão interessante? 
H.G: É uma época muito rica em termos de produção cultural e haviam muitos romances e arte criados naquele tempo. Para aqueles que viviam lá foi um momento realmente moderno. As cidades estavam expandindo e a vida em Londres era incrivelmente cosmopolita e emocionante. A mentalidade das pessoas do passado que se sentiam incrivelmente modernas é muito interessante para mim. Também há uma quantidade enorme de histórias humanas desse período porque houve o desenvolvimento dos correios e as pessoas escreviam cartas todos os dias. Eles também mantinham diários e todo esse material sobreviveu nos arquivos. Como historiadora, é isso que adoro ler. É como espiar a vida privada por meio de cartas e diários e isso apenas acontece para dar uma visão de como pessoas –  como os ‘Bridgertons’ – teriam se comportado, o que eles fizeram e o que sentiram e pensaram sobre as coisas.

Por que você acha que o público ama tanto as histórias de romance deste período?
H.G: Isso desperta a imaginação das histórias de amor, romance, da perda humana e das emoções que estamos familiarizados. A trama acontece em um lugar distante de nós, em que as pessoas vivem em diferentes tipos de casas e suas rotinas são distintas, mas as emoções que eles experimentam são aquelas que ainda podemos nos identificar. Acho que em livros e filmes essa experiência humana compartilhada é algo que realmente captura nossa imaginação. É uma combinação de se sentir próximo, mas também fugir para outro mundo.

Um dos pontos altos de ‘Bridgerton’ é uma coluna de fofoca escrita por Lady Whistledown. Como eram essas publicações na época? 
H.G: Havia muitas publicações com histórias ‘obscenas’. A principal diferença é que a maioria dos ‘tabloides’  disfarçavam o nome da pessoa. Eles davam apenas as iniciais de quem estavam falando ou algum tipo de pseudônimo bem conhecido, para que os leitores tentassem adivinhar. Em ‘Bridgerton’, os jornais de Lady Whistledown falam muito abertamente sobre quem vai aos bailes e ela nomeia as pessoas. Isso é uma leve modernização do que realmente acontecia na época. Fofocas sobre quem foi visto com quem e quem dançou com quem no baile, tudo era noticiado no dia seguinte. Muitas vezes foi descrito como a “Era do Escândalo”, em que aquela rede de fofocas era algo novo. Era o início de ‘cultura de celebridade’ que temos hoje.

Então, essa época pode ser considerada como o nascimento da cultura de celebridade?
H.G: Sim, o período até o final do século 18, pouco antes da data de ‘Bridgerton’, é visto como o nascimento da era das celebridades. Tinham atrizes muito famosas no palco sendo pintadas por outros artistas, e os jornalistas estavam começando a seguir as celebridades para ver o que estavam fazendo. A mentalidade de imprensa que temos hoje é algo que vemos começar a surgir no período Georgiano e as pessoas muitas vezes ficam muito surpresas com isso.

Abaixo, uma galeria com imagens dos bastidores e cenas de ‘Bridgerton’, para quem ainda não viu.

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