Djamila Ribeiro pondera sobre o autocuidado em meio ao ativismo e à pandemia: “Não somos salvadores da pátria. Precisamos nos cuidar, senão adoecemos mentalmente”

Djamila maquiada e fotografada por Fernando Torquatto

“Oi, tudo bem?” “Apesar do Brasil, está tudo bem”, responde Djamila Ribeiro ao atender a ligação – ressalva essa que já virou padrão no início de qualquer conversa da filósofa e escritora em referência à pandemia. Nascida em Santos, litoral paulista, e mestre em filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo, Djamila é uma de nossas grandes pensadoras da atualidade. Com sua voz e sua escrita – o livro ‘Pequeno Manual Antirracista’ (Companhia das Letras) foi o mais vendido em 2020 pela Amazon no Brasil –, ela é responsável por popularizar o ativismo e feminismo negro nos últimos anos e por isso ganhou lugar de destaque no novo projeto do beauty artist e fotógrafo Fernando Torquatto, que busca valorizar a potência e a beleza negra. Na conversa, Djamila relembra que a violência e o racismo são sistemáticos por aqui. “O Brasil é um país fundado pelo ódio, pela escravidão e pela morte de milhares de indígenas e negros. Não à toa somos um dos países que mais mata mulheres. Até tivemos algumas marolas progressistas nos últimos anos, mas, estruturalmente, sempre fomos um país violento”, conclui. Para ela, o discurso de ódio sempre existiu, só ganhou amplitude com a internet. Um exercício para se colocar no lugar do outro é praticar a empatia, palavra-chave em uma sociedade fragmentada como a nossa. “Claro que nunca vou saber como é a vida de uma travesti ou de uma lésbica, sendo uma mulher hétero, mas, a partir do meu lugar, posso estudar e tentar entender aquela realidade.” Estudar, aliás, é o que Djamila recomenda quando recebe comentários equivocados pelas redes sociais. “Não nasci sabendo. Tive que estudar muito. Às vezes, essas pessoas só não tiveram acesso à informação. É preciso estudar, ler autores negros e indígenas progressistas”, recomenda. Apesar da preocupação inerente com a maior crise sanitária já enfrentada, a filósofa lembra que não podemos esquecer do autocuidado: “Não somos salvadores da pátria. Precisamos nos cuidar, senão adoecemos mentalmente”, diz ela, que medita sempre que pode, pratica kung fu, faz banho de ervas especiais e é adepta do candomblé desde criança, o que lhe ensinou que “todo mundo tem algo bonito para trocar”. Moradora de São Paulo, Djamila morre de saudades de poder ter mais contato com a natureza. Sua próxima meta é morar em um sítio. (por Denise Meira do Amaral) 

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