Claudia Raia, uma das maiores atrizes do Brasil, não se satisfaz com uma carreira brilhante na TV e no teatro, com papéis inesquecíveis e musicais “a la” Broadway. Ela quer sempre mais. Com 52 anos e 30 de carreira, Claudia é um “acontecimento” e chama seu momento atual de “segundo ato”. Daqui para frente vamos vê-la dedicando seu talento e perseverança capricorniana a projetos inéditos, como a produção de seu primeiro filme, um musical que estreia em 2019. Ainda nessa nova fase, a atriz, hiperativa confessa, começou a fazer algo que nunca pensou que seria capaz: meditação transcendental. E está amando! Glamurama conversou com Claudia, que falou sobre tudo isso e muito mais em um papo imperdível.
Glamurama: O musical “Chaplin” reestreia no dia 17 de maio em São Paulo. A montagem será igual a de 2015 ou terá mudanças?
Claudia Raia: “É a mesma montagem com algumas substituições, até porque não dá pra mexer no que já é genial. Ele ainda não tinha sido feito fora da Broadway e nossa montagem já foi replicada em dois outros países: Bélgica e Alemanha. A gente têm muito orgulho. Não engoli que a 1º temporada, apesar de ter sido um enorme sucesso, teve que ser interrompida pela falta de recursos quando chegou aquela crise horrorosa que se instalou no país em junho de 2015. Remontamos tudo, agora com mais recursos que antes e com um elenco 95% igual, o que é muito raro de acontecer. Marcello Antony tava super acertado mas acabou sendo chamado pra fazer uma novela em Portugal. Me ligou chorando dizendo que não poderia. Todos amam a peça pelas emoções que ela traz.”
Glamurama: No espetáculo você atua nos bastidores, assinando a produção com Sandro Chaim. Como é para você ficar fora dos palcos nesse caso? Não sente vontade de estar lá na hora que tudo acontece?
Claudia Raia: “Uma coisa muito louca da minha carreira é que eu sempre produzi meus espetáculos. Aos 18 anos olhei pro lado e falei: ‘ninguém vai produzir pra mim? Então vou ter que produzir eu mesma!’ E saí atrás pra pedir coisas de joelhos, como 25 metros de veludo na 25 de Março. Assim começou minha vida de produtora, ora com parceiros, ora sozinha. O mundo hoje é compartilhado e produzir faz todo sentido. E vou te dizer que gosto de cuidar da produção tanto quanto de estar em cena. Ir atrás de dinheiro, falar dos meus sonhos, construir um projeto do começo ao fim é muito bom. Trabalho horrores – produção dá um trabalho de cão -, tudo que dá errado é culpa nossa, mas eu gosto muito dessa relação com atores e técnicos. Lutei por muitos anos na minha vida pra colocar a minha assinatura, meu selo de qualidade e ouvir: “Claudia, se é seu, é bom. Com muito ou pouco dinheiro, não interessa, acabamento é produção. “Chaplin”, por exemplo, produzi com muito pouco dinheiro na 1ª temporada e foi um dos mais lindos que já fiz.”
Glamurama: O que você acha da onda dos musicais no Brasil? Gostaria que seus musicais ficassem em cartaz por mais tempo?
Claudia Raia: “Gostaria. É um sonho. Na verdade, quando eu fazia meus musicais lá atrás eles não tinham esse tamanho e não custavam o que custam. Então por que você precisa desesperadamente de patrocínio? Porque não fica em cartaz nem três meses, com lotação esgotada. A conta não fecha. Gostaria que meus espetáculos, como ‘Cantando na Chuva’ ficassem um ano em cartaz. O que a gente teve que fazer: ficar 3 meses em cada temporada. o que era pra ser uma temporada integral, teve que ser repartido.”
Glamurama: Qual é seu argumento com os patrocinadores?
Claudia Raia: “Geralmente sou eu que vou porque ninguém vai falar do meu sonho como eu. Acho que tenho uma coisa legítima e uma credibilidade também. Então tem uma coisa diferente que transcende o business. Marca é uma coisa que você vai construindo com muito tempo de relacionamento. Então meu maior argumento é tentar fazer cultura nesse país e contar historias lúdicas que vão fazer a diferença e gerar emprego. ‘Cantando na Chuva’ empregou indiretamente 250 pessoas. Vou de escritório em escritório pra tentar colocar meus sonhos em prática.”
Glamurama: Você conta com ajuda da lei Rouanet?
Claudia Raia: “Não sou uma produtora que vive da lei Rouanet, apesar dela ajudar muito. Há algumas questões que tinham que ser aparadas com esse ministro atual, Sérgio Sá Leitão, mas estamos na luta! Vivo dos projetos que realizo, da minha paixão artística. Então fico orgulhosa de ter, com ousadia, garra, persistência e parcerias, conseguido colocar em cartaz projetos tão fortes como ‘Cabaret’, ‘Sweet Charity’ e ‘Crazy for You’.”
Glamurama: Foi você quem fez acontecer “Dançando na Chuva” e o resultado foi espetacular! Teve o retorno de público e financeiro esperado?
Claudia Raia: “O retorno foi muito além do que imaginei. Não só financeiro, mas principalmente de público. Estrear com 30 mil ingressos vendidos com antecedência – 2 meses de casa lotada – foi algo inacreditável pro Brasil. A gente não repetiu o de Londres, fizemos uma apresentação diferente e que foi muito elogiada. Gostaria muito de fazer uma 2ª temporada, mas tenho mais dois sócios, então dependo também da ideia deles e do que eles têm em mente pra dar continuidade.”
Glamurama: No ‘Show dos Famosos’ do Domingão do Faustão você é a pessoa mais entusiasmada do juri, colocando os participantes sempre para cima. Como é fazer parte desse projeto?
Claudia Raia: “É muito difícil fazer o que eles fazem, criar um personagem em uma semana… Talvez seja por isso o meu entusiasmo. É realmente dureza, por isso tento colocar a auto-estima deles pra cima, embora sejam todos talentosos. É complicado julgar porque são todos meus colegas. Minha função ali é estimulá-los.
Glamurama: Você também tem essa postura pró-ativa na vida pessoal, com filhos e marido?
Claudia Raia: “Tenho. Sou muito alegre e boto todo mundo pra cima. A vida é isso, tem que ser leve.”
Glamurama: Você já teve alguns casamentos… Como é sua relação com seus exs?
Claudia Raia: “Sempre me relacionei bem com eles porque é tão esquisito você ter um ex e não falar mais com ele, mas têm situações e situações. Com o Alexandre (Frota) faz muito tempo que não falo. Tive uma relação bacana com ele, mas depois começou a passar dos limites e a própria vida nos afastou. Com o Edson [Celulari] é só alegria, é um pai maravilhoso e me dou muito bem. Enzo e Sofia são frutos dessa integração, dessa paz que existe tanto dentro do casamento quanto fora dele.”
Glamurama: Qual foi seu maior aprendizado com todos eles? Há uma receita para um casamento dar certo?
Claudia Raia: “Não tem receita, assim como não tem receita pra criar filho. Cada fase da vida você é uma esposa e uma mãe diferente, não estamos sempre no mesmo momento, na mesma configuração. Como comparar um casamento que eu tive com 18 anos de idade e um que tive com 27, e outro com Jarbas [Homem de Mello] aos 45? Você vai aprendendo a lidar com suas vontades até que chega num casamento como é o meu e do Jarbas, muito adulto, maduro e alegre, com uma cara metade que faz a mesma coisa que você. Muito adequado pra esse momento que tá tudo muito pleno na minha vida, com os filhos mais adultos, morando com a gente mas com configurações diferentes.”
Glamurama: Seu casamento com o Alexandre Frota foi um acontecimento, da cerimônia à lua de mel. Já pensou em contar essa história para o grande público?
Claudia Raia: “Inserir a cena em algo de comédia? Nunca pensei porque não escrevo, mas se escrevesse pensaria sim. Minha mãe dizendo pra eu não me casar na porta da igreja… foi tudo muito absurdo! Na época foi um pouco traumático me casar com um pé sem sapato – porque o outro foi roubado por uma fã quando eu tava saindo do carro -, não ver ninguém da minha família na igreja… e eu só tinha 18 anos. É uma tragicômico! Eu nem consegui sentar no carro, tive que vir deitada por causa do esplendor que quis colocar nas coisas. Anos 80, né? Época do exagero, tudo muito! Na lua de mel, eu era muito nova e sem nenhum traquejo pra me defender, mas foi muito legal porque tudo isso me fez ser a mulher que sou hoje. Minha vida é feita de esquetes de humor. São vários momentos hilários. Por isso vem a minha biografia, pra gente contar histórias como essas, com bom-humor.”
Glamurama: Conta mais sobre essa biografia?
Claudia Raia: “Tenho uma tentativa de biografia que quero fazer de uma maneira diferente: chamaria de ‘Primeiro Ato’. Como comecei muito cedo, ainda tenho o segundo ato pra viver. Estou procurando uma pessoa que pudesse escrever nesse novo formato. E tem um livro de imagens, de capa dura, com curadoria do cenógrafo Gringo Cardia, que foi feito junto com o musical ‘Raia 30’ e sai até o fim do ano. Este só vai ter imagens.”
Glamurama: Qual projeto de sua carreira você mais se orgulha de ter feito?
Claudia Raia: “Vários. Cada um marca um momento, mas ‘Chaplin’ é um orgulhão pra mim, assim como o 1º que fiz: ‘Não Fuja da Raia'(1991). Perdi o patrocínio no meio do caminho, tive que vender carro, sai pela rua pedindo ajuda, enfim… Essa primeira garra de pensar “eu moro num país musical, não é possível que musicais não façam sucesso aqui, que seja uma coisa americana’. Me orgulho muito de ter sido uma das primeiras pessoas a pensarem nisso e ter tido a coragem de abrir mão de tudo pra colocar a minha ideia no palco, sempre com a mesma garra dos 19 anos.”
Glamurama: Qual seu próximo papel na Globo?
Claudia Raia: “Volto este ano pra novela das sete de Isabel de Oliveira, uma comédia. Minha personagem vai ser maravilhosa. Começo a gravar em setembro e a trama vai ao ar em janeiro.”
Glamurama: Quais são seus próximos projetos?
Claudia Raia: “Tenho um projeto muito grande de curadoria de teatro em São Paulo que ainda não posso abrir qual é, um musical para o segundo semestre deste ano e, por volta de agosto de 2019, vou lançar um filme musical de comédia em parceria com a Total Filmes, que vai marcar minha estreia como produtora de cinema. Será um texto do Marcelo Saback e vou ser também a protagonista. São projetos que dão início ao segundo ato da minha carreira que falei antes.”
Glamurama: Qual a rotina de beleza quando se passa dos 50?
Claudia Raia: “Eu sempre me cuidei muito desde jovenzinha. Nunca tomei sol – não gosto – e isso foi meio caminho andado para chegar à idade adulta diferente de quem tomou. Tenho uma pele muito privilegia que herdei da minha mãe, que é supervelhinha e tem uma pele linda, sem manchas. Além disso fumei muito poucos anos na minha vida, sempre optei por métodos anticoncepcionais que não fossem pílula, o que ajuda também. Fiz muito exercício físico (minha mãe era dona de academia) e tive uma alimentação saudável minha vida inteira. Fiquei quase 42 anos sem beber, não gostava. Hoje até tomo um vinhozinho ou drink, mas muito de vez em quando. Não é costume da minha casa, assim como não tem doce ou nada enlatado. Isso faz muita diferença.”
Glamurama: Plástica e intervenções nesse sentido, é a favor?
Claudia Raia: “Silicone eu nunca botei porque pensava: ‘sou muito grande, magra mas grande. Quando envelhecer vou dar uma engordada e se eu botar peito vou virar uma matrona!’ Não sei se é um olhar ou consciência que tinha desde cedo… Da minha geração fui uma das únicas que não colocou silicone, mas não tenho problema algum com quem coloca.”
Glamurama: Saúde física e mental: como você faz pra dar conta de tudo?!
Claudia Raia: “Sempre com muito exercício físico, alimentação saudável, bom humor e vontade de fazer e acontecer… E agora com uma novidade na minha vida que é a meditação transcendental, que tá me trazendo de volta pro eixo. Sempre fui muito agitada e achei que fosse impossível pra mim meditar… Está sendo incrível! Nunca imaginei que seria capaz e estou amando! Comecei há três semanas e quem me levou foi a Fernandnha Souza, uma das filhas que a profissão me deu. Enzo também tá fazendo comigo.”
Glamurama: Enzo ainda trabalha com você? Ele planeja seguir em algum momento carreira artística?
Enzo: “Ele tá trabalhando comigo ainda, mas também toca um projeto social muito bonito, o Dadivar. Ele me ajudou na minha loja online e agora as coisas tomaram um outro rumo. Ele tem muita coisa pra fazer com a ONG. Em carreira artística ele não pensa não, pelo menos por enquanto.”
Glamurama: E a Sophia? Carreira artística é uma opção para ela? Ela foi superbem na participação que fez em “Ti-Ti-Ti”.
Claudia Raia: Ela tem só 15 anos, ainda é cedo pra saber. Ela diz que quer trabalhar com comunicação. Como atriz
por enquanto não. Tá na idade de experimentar coisas e não boto a menor pressão… Até acho bom se um dia ela optar por se tornar atriz, mas não agora que ela é adolescente. Uma fase difícil pra mulher e ainda por cima por sendo minha filha. Ela tem muita personalidade e faz o que quer. Não é nem um pouco refém dessa cobrança. Faz análise desde os 6 anos! Jarbas brinca que ela já ta pronta pra vida (Risos).” (Por Julia Moura)