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Cardi B e a fisioterapeuta Laura Negra / Crédito: Instagram

Há poucas semanas, Cardi B lançou a música ‘Wap’, cujo tema principal é a lubrificação feminina. O clipe, estrelado por Kylie Jenner, Rosalía e Megan Thee Stallion, fala explicitamente sobre o desejo e a sexualidade das mulheres. Em certo momento, a cantora cita a técnica Kegel, criada pelo médico Arnold Kegel, na década de 40, que notou que a prática de certos exercícios pélvicos ajudava em casos de incontinência urinária.

Com o tempo, descobriu-se que o método traz uma séries de benefícios também para a sexualidade feminina. Inspirados por Cardi B, entrevistamos Laura Della Negra, fisioterapeuta especializada em assoalho pélvico. Para ela, os cuidados com essa parte do corpo deveria começar ainda na adolescência.

“O primeiro contato deveria ser quando ficamos menstruadas, naquela primeira consulta com o médico. O ideal seria os ginecologistas fazerem uma avaliação, saber se a pessoa possui algum problema de constipação e incontinência. Muitas mulheres descobrem isso já na adolescência. Depois, quando começamos a vida sexual, teríamos que fazer uma nova avaliação para saber se há dor na relação sexual, por exemplo”, conta Laura.

Para ela, os cuidados com o assoalho pélvico não estão apenas ligados à saúde, incluindo a sexual, mas também com empoderamento feminino, o que faz com que a mulher reconquiste sua autoestima. “O empoderamento feminino incomoda. Falar sobre isso deixa os mais conservadores desconfortáveis. Os homens não querem que tenhamos consciência do nosso corpo, infelizmente, porque assim eles conseguem ter poder sobre as mulheres”, revela. A seguir, a entrevista completa sobre o assunto:

Glamurama: O que é assoalho pélvico?
Laura Negra: É o conjunto de todos os músculos que ficam na base da pelve, na parte sexual e na continência de segurar o xixi, o coco e o pum. É também a musculatura que nos ajuda a nos movimentar de uma forma mais gostosa. Em um certo momento, esses músculos podem ficar enfraquecidos ou tensos, o que provoca problemas como incontinência urinária ou dores na relação sexual.

G: Como é o seu trabalho?
LN: Ajudo as mulheres a se conhecerem para fortalecer essa musculatura. Precisamos saber onde está o clitóris, a uretra, o ânus, e entender que o assoalho pélvico circunda tudo isso. Depois, é preciso ver se você sabe contrair. De 30% a 40% das mulheres não sabem contrair, porque o objetivo é apertar e sugar para dentro.

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G: A partir de que idade a mulher precisa começar a cuidar do assoalho pélvico?
LN: O primeiro contato deveria ser quando ficamos menstruadas, naquela primeira consulta com o médico. O ideal seria os ginecologistas fazerem uma avaliação, saber se a pessoa possui algum problema de constipação, incontinência… muitas mulheres descobrem isso na adolescência. Depois, quando começamos a vida sexual, teríamos que fazer uma nova avaliação para saber se há dor na relação sexual, por exemplo.

G: Você acredita que trabalhar as partes íntimas faz parte do empoderamento feminino?
LN: Com certeza. Eu atendo várias mulheres com incontinência urinária ou fecal, e são mulheres realmente novas. E é claro que você percebe o quanto a autoestima muda. Além disso, ainda tem a questão da dor na relação sexual, onde a mulher não sente prazer e isso pode mudar a relação com o parceiro. Então tudo isso afeta o emocional da mulher. Trabalhar isso gera mais confiança, com certeza.

G: Quais são os benefícios?
LN: Cada vez mais sabemos da ligação do assoalho pélvico com outras partes do corpo, como a boca e os pés, além de ter tudo a ver com o alinhamento postural. Então, cuidar do assoalho pélvico promove mais qualidade de vida até mesmo na hora de ter uma respiração mais adequada, ou melhorar performances esportivas. Na área sexual, isso tem a ver com o prazer.

G: Quando você se especializou nisso, sentiu que precisava falar sobre esses assuntos com mais pudor? Ainda é um tabu?
LN: O mundo mudou muito. No começo dos anos 2000, não tínhamos espaço, nem tanta procura. Por mais que ainda tenhamos muito pela frente, nós mulheres temos mais conhecimento do nosso corpo, do que gostamos, do que não gostamos.

G: Por quais motivos as mulheres procuram esse tipo de fisioterapia especializada?
LN: Pós parto, incontinência tanto urinária como fecal, e disfunções sexuais, como dor durante o ato.

G: Cardi B recentemente lançou uma música que faz referência a uma técnica chamada Kegel, e tem tudo a ver com esse tema. Qual a importância de falar sobre isso abertamente?
LN: O ‘Kegel’ é um tipo de exercício físico para contrair e relaxar. Hoje a gente tem consciência de que o assoalho pélvico não é só isso. E é super importante a mídia dar visibilidade. Eu vejo até mesmo influenciadoras digitais falando sobre incontinência e tantas pessoas se identificam com a história. Isso é ótimo.

G: Por que uma música que fala sobre sexualidade ainda gera tanta controvérsia? Você já foi algo de críticas?
LN: Não tenho ‘haters’ no meu Instagram. Uma vez alguém chegou a comentar coisas chatas, mas isso raramente acontece. Mas eu sei que o empoderamento feminino incomoda. Falar sobre isso deixa os mais conservadores desconfortáveis. Os homens não querem que tenhamos consciência do nosso corpo, infelizmente, porque assim eles conseguem ter poder sobre as mulheres.

G: É possível fazer exercícios em casa?
LN: Sim, super! Sempre que prescrevo um exercício dou lição de casa. É super importante. No meu Instagram ensino alguns, mas é sempre melhor passar por uma avaliação.

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