Julia Lemmertz é um rosto conhecido na televisão desde os 18 anos, quando atuou na novela ‘Os Adolescentes’, em 1981, no papel de Bia. Filha de pais atores, a mãe era a atriz Lilian Lemmertz e o pai, Lineu Dias, de lá para cá foram mais de 50 trabalhos na TV, muitas peças de teatro e filmes. Agora, com 56 anos e 40 de carreira, Julia fala sobre maturidade e a maneira como enxerga os padrões de beleza impostos não só dentro da profissão. “Os 50 de hoje estão completamente diferentes de antes. As mulheres estão com mais garra e se cuidando. Não só esteticamente, mas da saúde também. Hoje as pessoas sabem que elas são o que elas comem e a maior pressão vem de mim mesma. Mas essa ditadura da beleza não me pega mais. Quero envelhecer em paz”, diz. Nos palcos com a peça ‘Simples Assim’, adaptação de crônicas de Martha Medeiros, Julia se divide em dez personagens rotativos ao longo da apresentação e revela: “O teatro é o lugar em que trabalho com uma profundidade diferente”. À entrevista!
Glamurama: Na televisão, seu último trabalho foi uma participação na segunda temporada de ‘Carcereiros’. Como foi fazer parte de um projeto sobre um tema tão delicado?
Julia Lemmertz: A série toda fala sobre o quanto o sistema penitenciário está falido no nosso país, e tudo o que rodeia esse tema é realmente bem delicado. Todas as histórias ali são baseadas em fatos reais e, na série, existem carcereiros de verdade. Sobre a minha personagem, que é uma psicóloga que acaba se envolvendo com um presidiário, essas relações acontecem. Para ela, é muito forte recuperar a autoestima daquelas pessoas e essa conexão acontece por vários motivos: solidão, carência… As pessoas precisam de atenção.
G: Sua última novela foi ‘Espelho da Vida’, em 2018. Já está com saudade?
J: Saudade não é bem a palavra. Eu estou procurando fazer outras coisas que sejam diferentes de novela, como teatro, seriados, cinema… Essa mudança de ares faz bem para o artista.
G: Atualmente você está nos palcos com a peça ‘Simples Assim’, adaptação de várias crônicas de Martha Medeiros que teve uma temporada bem sucedida no Rio e está vindo para SP. Como são seus personagens?
J: São três atores e cada um interpreta 10 personagens, que são rotativos ao longo da peça. E eu interpreto desde uma editora de jornal até uma dona de casa, uma viajante e também uma mulher viciada em celular que está tentando se curar. É ótimo dar vida a tantos personagens que refletem situações cotidianas que precisam ser questionadas.
G: E qual é o maior desafio?
J: O desafio de verdade não está nem na quantidade de personagens, mas sim em fazer uma comédia. É bem diferente do que eu normalmente faço, mas é maravilhoso sair da zona de conforto. Além disso, o Ernesto Piccolo, diretor da peça, é praticamente meu irmão. Sempre pensamos em trabalhar juntos e agora aconteceu.
G: Você tem uma longa lista de peças no curriculo. Teatro é seu veículo favorito?
J: O teatro é o lugar em que eu trabalho com uma profundidade diferente. E não só isso: o teatro me obriga a refletir. É claro que eu amo TV e cinema, mas é no teatro que eu me reinvento, além de ser completamente diferente. Você ensaia e está todas as noites no palco, mas nunca sai igual.
G: Falando sobre teatro, como você vê a questão cultural no atual governo?
J: Está acontecendo praticamente um linchamento público, é muito grave! A classe artística, e também quem trabalha com comunicação, está perdendo a liberdade de expressão. Isso não pode virar uma ditadura aos poucos. Os profissionais não podem admitir, por isso que acredito na nossa união. Você não pode ser demitido só porque não concordou com essa ou aquela opinião do governo. Não funciona dessa forma. Temos que nos organizar de maneira forte, é uma questão de justiça.
G: Acredita que a censura já está acontecendo?
J: À medida que se dá voz a um esquema de censura e as pessoas começam a achar que tudo bem, a censura acontece e não é certo. Temos que prestar atenção nas leis, respeitar ao menos a constituição, que está acima de tudo. E liberdade de expressão é algo necessário.
G: Você é bastante ativa no Instagram e sempre usa essa rede social para falar sobre vários assuntos. Como você lida com as críticas e haters?
J: Lidei com haters mais na época de eleição, agora não. Recebia alguns comentários sem muito sentido, respondia de uma forma que fizesse a pessoa pensar e pesquisar mais sobre o assunto. Às vezes, a pessoa fala algo errado simplesmente por falta de informação. Mas hoje não me importo, principalmente com os comentários mais ofensivos. Quando entro no perfil dessas pessoas, percebo que pode ser algum fake, robô, algo criado só para isso. A internet virou terra de ninguém.
G: Você é uma mulher de 56 anos que, além de linda, tem personalidade forte e é supertalentosa. O que acha dessa geração de mulheres, que passaram dos 50 e estão em plena forma?
J: Os 50 de hoje são completamente diferentes de antes. As mulheres estão com mais garra e se cuidando. Não só esteticamente, mas da saúde também. Acho que a maior pressão, no momento, vem de mim mesma. Mas essa ditadura da beleza não me pega mais. Quero envelhecer em paz.
G: Tem medo de envelhecer?
J: Não, apenas quero ter saúde. O tempo passa, a gente passa e temos que ser bondosos e generosos com o próximo. É isso que importa. Eu não sinto vontade de fazer vários procedimentos estéticos. Respeito quem faz e não condeno, mas não gosto disso em mim. Mesmo que o HD da televisão mostre um milhão de rugas a mais que na vida real… Estou tranqulia com isso.
G: Você tem dois filhos adultos e que seguem a carreira artistica: como é sua relação com eles?
J: A Luíza é uma baita atriz de teatro, cinema. Trocamos muitas figurinhas sobre o trabalho. Já o Miguel escolheu o lado musical, ele é rapper, poeta, vai às comunidades fazer trabalho solidário. E eu aprendo demais e respeito muito o caminho que ele escolheu.
G: Sua mãe, Lilian, era uma atriz incrível. Você vê semelhanças na relação que tinha com ela e a que tem hoje com seus filhos?
J: A relação de amor e carinho é a mesma, mas a minha mãe’ foi embora’ quando eu tinha só 23 anos. Acho que não dá exatamente para comparar. Eu acho que a maior diferença é que eu fui mais presente na vida dos meus filhos. Isso não é uma crítica. Fui muito feliz com minha mãe e com o que ela me proporcionou. Mas optei por manter meus filhos mais próximos de mim, inclusive no trabalho.
G: Você foi casada por muitos anos com Alexandre Borges, com quem tem Miguel. Vocês se dão bem? Como é sua relação com ele?
J: Não nos vemos muito porque eu moro no Rio e ele em São Paulo, mas nos damos superbem. Miguel é o nosso elo para sempre. Adoro o Alexandre e sempre teremos uma relação de respeito e cordialidade. (por Jaquelini Cornachioni)
Simples Assim
Estreia dia 6 de setembro
Teatro Frei Caneca – R. Frei Caneca, 569 – Consolação
Temporada: até 29 de setembro