Na expectativa da estreia da segunda temporada de “Aruanas”, série do Globoplay na qual interpreta uma ativista ambiental e que teve as gravações finalizadas em junho com todos os protocolos necessários, a atriz Leandra Leal fez do trabalho seu porto seguro durante o isolamento.
No início de 2020, tão logo o distanciamento social se impôs, Leandra viu a oportunidade de atuar com a mãe, Ângela Leal, com quem nunca tinha realizado um projeto de maior fôlego. Isoladas em uma casa no interior do Rio, elas adaptaram a peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. “São duas mulheres, de gerações diferentes, que são mãe e filha, e que têm um sentimento de entrega radical com o fazer artístico, pois eu e minha mãe somos definidas por isso”, resume Leandra.
Durante as filmagens, antes de renovar o patrocínio do teatro da família, o Rival, no Rio, as duas viveram um período de incertezas em relação ao futuro do espaço e precisaram pensar, juntas, como ele sobreviveria no ambiente virtual. “Minha mãe tem um talento como produtora cultural, ela é a alma do Rival, e eu funciono mais a ajudando a viabilizar ideias”, conta. “Não possuo esse dom de liderança e foi muito sofrido descobrir isso. Acho que tenho mais para oferecer ao mundo em outros campos.”
Mas se o isolamento foi uma possibilidade de se voltar para as relações familiares – e para si mesma –, o movimento não fez com que Leandra se esquecesse dos outros (e do talento que tem, como atriz e diretora, para oferecer ao mundo). No documentário “Por Trás da Máscara”, ela registrou os últimos 21 dias do hospital de campanha da Lagoa, no Rio. “Saí da investigação sobre a maternidade, o lugar de mulheres artistas, e fui diretamente para o lugar onde estava sendo travada a batalha”, explica.
“Não possuo esse dom de liderança e foi muito sofrido descobrir isso. Acho que tenho mais para oferecer ao mundo em outros campos”
Leandra Leal || Créditos: Jorge Bispo / Styling Felipe Veloso
A experiência, ainda sem previsão de lançamento, também influenciou a atriz em sua decisão de deixar de fumar. “Depois de ter ficado quase um mês em um ‘covidário’, você entende que ser fumante é uma comorbidade que escolhe. Foi um processo superdifícil parar, mas estou conseguindo”, conta, sem conter a indignação com a situação atual. “A gente tem um governo que escolheu passar esse período da pior maneira possível, negando a ciência, o conhecimento técnico e não pensando na vida das pessoas.”
“Depois de ter ficado quase um mês em um ‘covidário’, você entende que ser fumante é uma comorbidade que escolhe”
Sempre engajada, Leandra não se abstém de abordar temas que lhe são caros, como as causas dos movimentos feminista e LGBTQIA+, mas assume outro tom quando o assunto é sua vida pessoal, sobre a qual procura manter discrição. Da relação com a filha Júlia, de 6 anos, durante muito tempo ela pouco falou, mas isso vem mudando cada dia mais – o processo de adoção com o então companheiro Alê Youssef foi concluído em 2018. “É muito importante que essa maternidade se normalize e seja vista com menos preconceito”, explica a atriz de 38 anos, que nesse tempo descobriu que as pessoas podem ser “extremamente preconceituosas e inconvenientes”, tanto que se cansou de ser questionada sobre quando teria o seu. “Tenho pensado muito nisso, mas não quero transformar minha filha numa bandeira, então tomo cuidado”, Leandra continua, sem descartar a ideia de ampliar a família com mais filhos adotivos – e biológicos também. “Sou filha única, gosto dessa ideia de ter uma família grande”.
“Não quero transformar minha filha numa bandeira, então tomo cuidado”
Na pandemia, inclusive, ela resolveu trocar alianças e oficializar o casamento com o fotógrafo baiano Guilherme Burgos. “As pessoas celebram durante guerras, a gente tem essa pulsação de vida e acho que celebrar o amor entre duas pessoas é algo que sempre pode ser feito.” A atriz ainda mantém a vontade de realizar uma cerimônia pós-pandemia, mas enquanto o desejo não se concretiza, vem se dedicando a uma série de atividades para manter a sanidade diante do cenário atual. Começou a nadar no mar, alugou uma bicicleta de spinning, além de estar “fazendo ioga à beça”, dedicando-se cerca de duas horas diárias aos exercícios.
Coisa de avó
Em paralelo a tudo isso, voltou a tricotar, algo que aprendeu com sua avó e havia deixado de lado há mais de 20 anos. “Adoro trabalhos manuais, me acalmam”, explica, contando que a manta que começou a fazer na pandemia deveria ser pequena, mas não para de crescer, assim como tudo a que a atriz se dedica.
* Matéria originalmente publicada na Revista J.P, do grupo Glamurama