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Luiz Fernando Guimarães
Foto: Divulgação/ Caio Gallucci

Aos 72 anos, Luiz Fernando Guimarães surpreende a todos quando aparece, seja em um canal de TV ou em um palco de teatro. Com sua presença incansável, de quem participou de uma das primeiras gerações de atores comediantes da Globo e deu vida ao inesquecível Rui em “Os Normais”, hoje ele escolhe seus personagens e brinca com o passar do tempo quando escuta que alguém o assistiu na televisão há décadas.

Vestido de vovó Vera, sua personagem em “Ponto a Ponto – 4000 milhas”, que estreia em São Paulo nesta sexta (14), após uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, o ator mexe na peruca grisalha enquanto está sentado no sofá no centro do palco. Em um cenário que inclui uma cozinha e prateleiras cheias de livros que escondem a paisagem da Avenida Brigadeiro Faria Lima, do Teatro B32, Luiz Fernando parece preparado para abrir o baú de memórias quando relembra Paulo Gustavo.

“Eu me lembrei de Paulo Gustavo na última apresentação no Rio de Janeiro. Acho que foi quando fiz isso [o ator faz um gesto de quem mexe no cabelo]”, contou ao GLMRM em um dos últimos ensaios da peça.

Com um vestido longo e branco, cheio de flores vermelhas e azuis, a caracterização da vovó Vera, personagem de mesmo nome da avó de Luiz Fernando, lembrava muito a de Dona Hermínia, vivida pelo ator morto em abril de 2021. “Eu puxei pela memória mesmo. Acho que foi por causa da memória familiar ser uma coisa muito consistente e muito grande no meu personagem”, contou.

Na peça, Luiz contracena com Bruno Gissoni, que interpreta seu neto, Léo, para discutir temas profundos como solidão, política, as relações humanas, a diferença e, principalmente, a distância entre duas pessoas sob um mesmo teto.

Revirando o baú

Luiz Fernando estava longe dos palcos até aceitar o papel de Vera. Nesse meio tempo, virou pai, plantou árvores e aproveitou a liberdade de quem viveu uma vida na televisão, com toda sua timidez, humor e trapalhadas.

Como a vovó Vera, o ator também se mostra generoso, se colocando como um professor para Gissoni e Renata Ricci, que faz os dois pares de Léo na peça, Renata e Amanda. Mas engana-se quem pensa que Luiz Fernando atendeu ao chamado do diretor Gustavo Barchilon, do musical “Barnum – O Rei do Show”, para voltar aos palcos por saudade.

O tema da peça com uma vó implicante, competitiva e infantil, “como todos os idosos são”, cativou tanto o ator a ponto de fazê-lo retornar aos palcos.

“Eu amo atuar porque eu gosto do público, gosto da convivência e dessa energia. É como praticar esporte e academia. Eu gosto de gente”, disse.

No palco, com o figurino, é como se Luiz Fernando tivesse voltado pela personagem Vera a preencher a falta de seus avós, todos poetas, mortos muito cedo para explorar uma maior convivência com o neto. Mantendo a lembrança dos avós viva, os pais passeavam com o ator pelas serenatas do subúrbio do Rio de Janeiro.

Vera também lembra a Luiz Fernando de sua mãe, Yara Klaes, dona das memórias mais intensas do ator. “Minha mãe era ótima, funcionária da Caixa Econômica, me deu uma força danada para fazer teatro. Têm muitos momentos que lembro dela, porque ela era muito vaidosa e implicante. Era muito competitiva, assim como a Vera”, entregou.

Talvez, seja por isso também o frio na barriga e os “10 xixis” que Luiz Fernando faz antes de entrar em cena, mesmo após décadas de uma carreira com prêmios por melhor ator teatral pelo gênero de comédia.

“Eu fico atrás daquela porta ali [aponta para uma porta branca no palco]. Eu faço um minuto de silêncio – porque preciso – e falo assim: ‘Eu não sei o que vai acontecer’, mesmo com o texto na mão e tendo ensaiado para caramba”, contou.

Mesmo assim, o ensaio transcorre impecável, quase como um dia normal de apresentação, se não fosse pela falta do público, o motor que fez o ator voltar à cena. Para quem quiser ver Luiz Fernando novamente nos palcos de São Paulo, “Ponto a Ponto – 4000 milhas” fica em cartaz até o dia 21 de agosto.

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