A espera acabou! Tulipa Ruiz lança nesta sexta-feira (23) “Habilidades Extraordinárias”, primeiro álbum de músicas inéditas em sete anos. O lançamento em pleno início de primavera não é por acaso, já que, para a cantora, o novo disco após o hiato retrata a coragem de renascer a cada dia diante da falta de estímulo.
Ao GLMRM, a paulista revelou que durante esses anos a música esteve presente em seu dia a dia e ressaltou a importância da renovação de ciclos. “Esse setênio veio forte. O disco novo precisou de muito tempo para acontecer dessa maneira. É a primeira vez que gravo em um processo analógico, dentro do meu estúdio. Gravar na fita, sem todo aquele imediatismo ou fazer mil takes de cada música foi gratificante”.
A essência do novo trabalho reflete suas últimas experiências nos shows com seu power trio, com Samuel Fraga na bateria, o irmão e produtor Gustavo Ruiz na guitarra e Gabriel Maia no baixo. A sonoridade das apresentações se transformaram na vontade de compartilhar tudo o que desenvolveram ao longo dos anos, tentando manter o processo intenso e prazeroso do palco.
“O meu desejo é ver como essa música vai se desdobrar nas pessoas. Depois que a gente coloca essas narrativas no mundo, elas automaticamente passam a ser combinadas com outras. Eu com minha música posso estar querendo falar alguma coisa, mas a pessoa que escuta pode entender de outra maneira e isso é o que mais me instiga”, conta.
Apesar de não ter pensado em desenvolver um álbum temático, a ideia de “Habilidades Extraordinárias” abraça temas atuais, seguindo um retrato analógico de tudo que está acontecendo dentro e fora das pessoas, tornando-o plural. Desde seu primeiro álbum, “Efêmera”, Tulipa sempre teve certeza do que queria e acredita que os últimos anos a tornaram mais forte.
“Existe um tônus da estrada que me deixa mais forte, além de um contemporâneo muito duro que machuca demais e nos obriga a ter essa força. Precisamos renascer a cada dia para seguir, a maturidade é uma consequência. Eu carrego um cajado comigo, que me traz o equilíbrio que eu preciso em meio a tantos desvios”.
Sobrevivendo aos algoritmos
Entre os desafios da era digital, a cantora ressalta a presença diante de um mundo onde as pessoas estão cada vez mais dispersas. Por mais que a tecnologia e as redes sociais facilitem o processo de produção, artistas de todos os gêneros passam a ser reféns de grandes corporações e têm que se adaptar ao novo para chamar atenção para os trabalhos.
“Lançamos um single de 5 minutos e nem passou pela minha cabeça o TikTok, onde os frames são menores — totalmente na contramão do que o mercado quer que eu faça. Porém, o retorno de como ele atingiu meu público foi gigantesco. Isso me fortalece para seguir entendendo que o algoritmo, as visualizações e as estratégias mudaram. A nossa luta, como artistas, é sobreviver dentro deste jogo cruel”.
“Habilidades Extraordinárias” fala também das recompensas dessa luta. O título veio de um caso inusitado narrado recentemente pela cantora em suas redes sociais. Na entrevista para tirar um visto de trabalho americano, Tulipa foi questionada se tinha alguma “habilidade extraordinária”. Sem pensar muito, respondeu que não, mas o irmão Gustavo rapidamente lembrou da conquista do Grammy Latino em 2015 com “Dancê”, garantindo um carimbo especial no passaporte e um sorriso largo no rosto do entrevistador.
O fato, afirma, ativou uma nova perspectiva em sua vida, chamando atenção para sua responsabilidade como artista em prospectar a cultura brasileira para fora do país. A cantora ressalta ainda a vitória feminina, com uma produção independente, fugindo das grandes gravadoras e dentro de um mercado cuja maior arrecadação é masculina.
“A minha vitória foi coletiva. Depois que vi outros artistas independentes se inscreverem para o Grammy, indo na premiação, habilidade extraordinária passou a ter um outro significado pra mim”
Com um caminho trilhado na música independente brasileira, Tulipa acredita ser referência para alguns dos nomes atuais do pop, como Marina Sena e Liniker, cada um com suas conquistas, particularidades e sonoridade. A cantora celebra o momento atual do país, “rico em intérpretes e compositoras incríveis” e vê-las no topo aquece seu coração.
Ao mesmo tempo, acredita ter feito algo de extraordinário no novo projeto analógico, que exigiu mais empenho e atenção total dos envolvidos. “Fizemos o disco com o peito aberto, coração na boca e muita – muita – presença durante este contemporâneo tão disperso”, enfatiza.