Top 10 GLMRM: Blocos afro e afroxés mais tradicionais de Salvador

A cidade com maior população negra fora da África, Salvador, mantém a tradição dos blocos afro e afoxés.

Ao longo da rica história da Bahia, a cultura afro-brasileira encontrou expressão vibrante nos blocos afro e afoxés. Surgindo como forma de resistência à opressão racial e celebração da ancestralidade africana, essas agremiações transcendem o carnaval, assumindo um papel fundamental na luta por igualdade e na construção da identidade baiana.

As origens dos blocos afro e afoxés remontam ao século XIX, quando os negros escravizados se reuniam em torno de seus tambores e cantos para celebrar suas tradições e cultuar seus orixás. Com o passar dos anos, essas manifestações se transformaram em poderosos instrumentos de resistência à opressão racial, desafiando o sistema segregacionista e reivindicando seus direitos, além de serem grandes difusores da conscientização cultural afro na maior festa de rua do planeta.

Selecionamos os 10 mais tradicionais blocos afro de Salvador:

A Mulherada 

 

O Instituto A Mulherada é uma entidade de direito privado da sociedade civil sem fins lucrativos do movimento de mulheres negras. Este ano, completa 21 anos de existência e, caminhando com o objetivo de inclusão das participantes em eventos culturais e no carnaval de Salvador, preservando a cultura afrodescendente, criou a banda percussiva feminina formada por adolescentes de 14 a 17 anos e por jovens negras.

Nesta trajetória, com o intuito de dar mais visibilidade à luta por igualdade de gênero e respeito à diversidade, vem trabalhando com ações afirmativas, através da arte, educação e cultura. Em razão da necessidade de proporcionar a inclusão sociocultural e educativa às adolescentes, jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade social do Centro Histórico e adjacência, não descansa de sua responsabilidade social e constantemente busca parcerias, voluntariado, apoios financeiros e doações.

Cortejo Afro

Às margens da Bacia do Cobre, no Parque São Bartolomeu, em Salvador–BA, nos limites do Ilê Axé Oyá, nasce a Entidade Cultural Cortejo Afro, em 2 de julho de 1998. O grupo foi idealizado pelo artista plástico Alberto Pitta que, há mais de 40 anos, desenvolve trabalhos ligados à estética e cultura africana. “Na área social, desenvolvemos trabalhos durante o ano inteiro, como Seminários e Exposições; Cursos de formação profissional; Intercâmbios culturais e Feiras de incentivo ao empreendedorismo, respeitando a diversidade e visando o desenvolvimento, que resultam nos desfiles do Bloco Cortejo, que geram trabalho e renda para nossa comunidade, há 25 anos. A nossa vertente musical é a Banda Cortejo Afro, que unem dança, música e artes visuais em um mesmo espetáculo. Nas apresentações, o grupo ressalta a autenticidade das influências africanas em nossa música, promovendo experiências estéticas e releituras musicais inovadoras.” E também transmite alto astral através de suas roupas exuberantes, elegantes e sofisticadas, e por meio de coreografias ricas em movimentos ligados à cultura afro.

Didá

Com mais de 30 anos de atuação, Didá, que significa o poder da criação na língua Yorubá, é a primeira banda brasileira feminina afro percussiva, guardiã do legado de Neguinho do Samba. Em sua sede no bairro do Maciel Pelourinho, na cidade de Salvador, promove atividades socioeducativas gratuitas para mulheres e crianças.

Filhos do Congo

São três as gerações do Filhos do Congo na cultura negra baiana. Sua formação mais antiga era o Congo d’África, criado no início da década de 1920, na região do Dique do Tororó, pelo babalorixá e estivador conhecido como Velho Rodrigo. Com sua morte, o bloco teve as atividades suspensas e ressurgiu sob a liderança do seu filho, conhecido como Salvador, entre 1946 e 1949, já com o atual nome.

A reativação como se conhece atualmente acontece no ano de 1979, por Ednaldo Santana dos Santos, conhecido a partir de então como Nadinho do Congo, que recebeu a tarefa de levar o afoxé para as ruas e preservar seu legado como missão espiritual. O Afoxé Filhos do Congo segue abordando a temática afro e exaltando sua ancestralidade na folia baiana. Referência no segmento, a agremiação desenvolve atividades e projetos voltados à emancipação cultural, financeira e educacional de jovens e adultos negros.

O trabalho acontece de forma integrada com a comunidade de Cajazeiras (Boca da Mata), onde funciona sua sede, e seu entorno, com o auxílio de apoiadores nacionais e internacionais, como o embaixador do Congo e a rainha Diambi Kabatusuila, da República Democrática do Congo, que desfilou no bloco no Carnaval 2019.

Filhos de Gandhy

Fundado por estivadores do Porto de Salvador em fevereiro de 1949, Afoxé Filhos de Gandhy foi inspirado nos princípios de não violência e paz do ativista indiano Mahatma Gandhi e tem também como característica todo repertório com o ritmo africano ijexá, de origem nigeriana, e cânticos em iorubá. Com raízes profundas na religiosidade de matriz africana, as saídas só acontecem após obrigações religiosas, como o padê para Exu, feito no Largo do Pelourinho, para abrir os caminhos e pedir proteção, além do milho branco, que é dispensado ao longo do circuito.

A sede da agremiação funciona o ano inteiro, onde ficam a administração e a quadra de ensaios, que abriga atividades com a comunidade. Além do Carnaval, o Filhos de Gandhy tem um calendário religioso, participando de festas como a Lavagem do Bonfim, a Lavagem de Itapuã, a Festa de Iemanjá, a Festa de Santa Luzia, a Festa de Santa Bárbara, entre outras.

Ilê Aiyê 

A história do Ilê Aiyê mistura-se à história da vida de Mãe Hilda e do terreiro Ilê Axé Jitolu.

Por aproximadamente 20 anos, o terreiro serviu ao bloco como diretoria, secretaria, salão de costura e recepção de associados. A conexão entre os dois transcende o espaço: o Ilê tem em Mãe Hilda sua fonte de inspiração, conselho e apoio; e na religião sua fortaleza e sustentação.

No Carnaval, o Curuzu é palco de um ato cultural-religioso, a bênção para a saída do bloco, que se manifesta com uma orquestra de dezenas de percussionistas e o coral negro em uma celebração. Até 2009, Mãe Hilda foi a responsável por esse cortejo real, que oferece milho branco cozido e pipoca, alimentos de predileção de Oxalá, orixá da paz, e de Obaluaê, patrono da saúde. Em seguida, uma revoada de pombas brancas anuncia a saída da Deusa do Ébano e o início do desfile de Carnaval do grupo, na subida da ladeira do Curuzu. Atualmente, o ritual é realizado pela filha e sucessora de Mãe Hilda, Hildelice Benta dos Santos (Salvador, 1960), a Doné Hildelice.

Malê Debalê

Entidade do movimento negro que resiste há mais de três décadas no cenário musical baiano, o Bloco Afro Malê Debalê marcou os anos 80 e 90 pela afirmação da luta contra o racismo e pela ocupação de espaços pelo povo negro. O Malê se consagra através de canções, danças e fantasias que levam para os circuitos do Carnaval de Salvador questionamentos e reflexões sobre a história e vida de seu povo.

O Malê Debalê nasceu de jovens moradores de Itapuã, em consonância com outros que residiam em outros bairros como o Garcia e o Tororó. De fora, os jovens traziam a vivência de outras entidades culturais negras como o Melô do Banzo, Apaches do Tororó, Ilê Aiyê, Badauê e Diplomatas de Amaralina.

O nome “Malê” é em homenagem aos negros muçulmanos que, em 1835, realizaram um importante feito na história do Brasil, intitulado Revolta dos Malês. Já o nome “Debalê”, criado pelos fundadores do bloco, traduz, de acordo com o fundador Josélio de Araújo, uma conotação de “positividade”, felicidade, ou qualquer tradução de caráter afirmativo.

Muzenza do Reggae 

Conhecido como o Bloco do Reggae, Muzenza foi criado no mesmo mês e ano da morte de Bob Marley, maio de 1981, no bairro da Liberdade, localizado hoje no Pelourinho. O Bloco Afro Muzenza dissemina as mensagens de amor e liberdade emblemáticas na música do ícone jamaicano. Muzenza é o termo Bantu utilizado para designar os iniciados no candomblé de nação Angola.

Olodum

Olodum é um dos blocos mais conhecidos não só da Bahia, mas do Brasil. Criado em 1979, no coração do Centro Histórico de Salvador, é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado da Bahia, sendo uma das mais notáveis manifestações musicais do mundo. A palavra “Olodum” tem suas raízes na língua yorubá e, nos rituais religiosos do candomblé, representa “Deus dos Deuses” ou “Deus Maior”, referindo-se a Olodumaré, o criador do Universo. Embora não seja associado a um orixá específico, é reverenciado como a divindade suprema.

Os Negões 

O bloco afro Os Negões foi criado em 1982 por um grupo de militantes, artistas e esportistas (em sua maioria jogadores de basquete) que frequentavam juntos as festas de largo de Salvador, mas no Carnaval sempre se dividiam entre os diversos blocos afro da cidade. Para não continuarem separados durante a folia, decidiram criar o bloco Os Negões de 1,80m. Em 1995, passaram a permitir o ingresso de mulheres e homens com menos de 1,80m de altura. Em 2000, o bloco criou o Fórum das Entidades Negras, juntamente com Ilê Aiyê, Muzenza e Malê Debalê, entre outras ações voltadas à comunidade negra.

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