Se você é da turma que no início dos anos 2000 ia em festas embaladas por música eletrônica, repletas de amigos e terminadas em algum “after” pelo amanhecer na casa de estranhos, todos movidos por substâncias aditivas e ilícitas, se identificará com “Electronica”. O novo livro do argentino Enzo Maqueira, lançado nesta sexta (30) no Brasil pela Editora Pontoedita, é ambientado entre as lembranças prazerosas dessa época e as bad trips da vida.
Tendo como protagonista uma professora que acabara de chegar aos trinta anos, que tem um relacionamento tedioso com um jornalista e possui um amante de 18 anos – seu aluno, inclusive – para poder se sentir jovem novamente, a obra ressalta as lembranças nostálgicas que vêm à sua mente quando o assunto é a rotina de diversão intensa que não tem mais espaço na vida adulta.
“Eu estava enfrentando a crise dos trinta e, de alguma maneira, assim como a professora, sentia que minha juventude tinha ficado para trás”, conta Enzo Maqueira ao GLMRM sobre a inspiração para a publicação. “Eu sentia que na minha vida atual não havia mais a possibilidade de me divertir como antes, de sentir as mesmas sensações, de deslumbrar-me com a vida e, particularmente, com a noite, com o sexo e as drogas que durante muitos anos estiveram presentes na minha vida”, completa.
Foi desse modo, olhando para os sentimentos que o perturbava quando entrou na terceira década de vida, que Maqueira fez nascer a personagem central de “Electronica”: a professora. Curiosamente, a protagonista não tem nome próprio, diferente das pessoas que a cercam na trama. “Para mim, não importam os nomes e sim as situações em que as pessoas estão atravessando”, explica o autor, editor, colunista, músico, ator e também professor, assim como a sua própria cria na obra.
“Não importa se é homem, mulher ou trans, todos sentimos que a juventude termina em algum momento e temos que avançar na vida, lidar com pressões como ser pai ou mãe e se questionar sobre o rumo em que estamos indo. É sobre isso o que eu queria tratar. Para que todos possam refletir sobre essa etapa da vida”.
Trilha sonora para os olhos
Assim como clássicos da cultura pop, sejam literários ou cinematográficos, “Electronica” é abrilhantado por referências musicais que fazem o leitor imaginar a trilha sonora de cada momento. Entre as páginas, é possível encontrar citações à artistas como Radiohead, Air, Tiësto, Red Hot Chili Peppers, entre outros.
“Minha relação com a música sempre foi muito emocional. Para mim, a música funciona como uma droga a mais e foi com a eletrônica que me encontrei. Eu sentia que não era possível me sentir mais vivo do que quando eu estava nessas festas de rave com drogas e música alta ao meu redor”, diz Maqueira, em vídeo, direto de Buenos Aires.
“Electronica” retrata uma juventude vivida nos anos 2000 e não tinha como o autor não mencionar bandas e artistas que fizeram parte de sua vida – e da de muita gente. “Air eu sigo escutando até hoje, principalmente os discos ‘Moon Safari’ e ‘Talkie Walkie’, e Tiësto tive que colocar no livro, pois foi responsável por uma das noites mais memoráveis da minha vida”, relembra.
“Trainspotting sul-americano”
Com tantas referências, não há como não comparar “Electronica” ao longa cult escocês “Trainspotting”, de Danny Boyle, que também tem como base a música, as festas, as drogas e as viagens à base de maconha, cocaína e doces, além das bad trips de personagens que odeiam as próprias vidas e buscam sentido na diversão que, infelizmente, se tornou uma lembrança distante.
“A diferença é que ‘Trainspotting’ retrata a classe operária e trabalhadora destruída por Margaret Thatcher, e ‘Electronica’ fala sobre uma classe média hiperescolarizada, de universitários que vivem na América do Sul no século 21”.
Além de “Electronica”, Enzo Maqueira é autor dos livros “El Impostor” (2011), “Ruda Macho” (2010), “Historias de Putas” (2008), “Cortázar, el Perseguidor De La Libertad” (2004) e “Cortázar, de Cronopios y Compromisos” (2003).
“Electronica” pode ser encontrado no site da Editora PONTOEDITA