Q&A com a artista Luciana Rique que abre a exposição “Sólido Volátil” no Rio de Janeiro

Com ateliê em Londres e no Rio de Janeiro, Luciana Rique é formada em economia pela New York University (2011) e tem a arte da fotografia como profissão. Sua pesquisa artística, que tem a fotografia como linguagem, se baseia em investigações acerca de percepções em geral não visíveis e insondáveis.

Luciana Rique por Thales Leite

A artista Luciana Rique realiza em 27 de setembro, próxima sexta-feira, vernissage acerca de “Sólido Volátil”, em seu ateliê, no Leblon. Sob a curadoria de Eder Chiodetto, a mostra traz 31 obras com novas técnicas produzidas pela artista em diferentes lugares do mundo. São criações que remetem, segundo ela, à situação “sólido”, “volátil”, uma contradição que inspira reflexão. Além disso, a exposição é parte do roteiro da ArtRio24. 

“Sólido Volátil” marca, pela primeira vez, diferentes tipos de obras, além da fotografia. Nela, a artista utiliza novos materiais como fórmica e vidro que, aplicados sobre as obras, saem do lugar de proteção e passam a integrar os trabalhos. Entre dípticos e polípticos, destaque para uma escultura que nasce a partir de uma fotografia na qual a agulha que outrora figurava impressa em pigmento mineral, agora ganha contornos reais e passa a existir enquanto corpo sólido, dentro de uma caixa de acrílico.

Luciana Rique falou com exclusividade com o GLMRM e contou um pouco mais sobre a exposição e sua técnica.

Considerando que tem ateliê no Rio de Janeiro e em Londres, como você enxerga o mercado de artes nessas duas cidades?

São mercados bem diferentes. Londres vibra arte, cultura e por ser uma capital mundial, o mercado é muito internacional. Tendo algumas das melhores escolas de artes do mundo, muitos artistas de todos os continentes vão estudar e seguir carreira lá. Eles estão olhando muito para artistas de mercados emergentes, e ultimamente esses artistas estão em alta. Londres também conta com alguns dos museus mais importantes do mundo e casas de leilões também. Então as exposições que fazem lá são incomparáveis com as do Rio de Janeiro. São produções gigantescas, com valores altíssimos, de empréstimo de obras, seguros etc. É possível aprofundar-se muito bem em qualquer tipo de arte, pois há muita escolha, muita opção e muita variedade.

Os preços praticados lá são bem maiores do que no Rio, já que o poder de compra lá é muito maior. O ticket médio é bem maior. O mercado do Rio é mais focado em artistas locais. Quando exposições de fora vêm para cá, geralmente já passaram por Londres numa escala bem maior. Aqui, pelo mercado de arte ser menor, acredito que jovens artistas têm mais chance de aparecerem e criarem conexões com galerias, instituições, museus.

“Sólido Volátil” abre praticamente concomitante a ArtRio e a exposição está no roteiro da feira. Qual sua expectativa para esse momento?

Minha expectativa é a melhor possível, estou muito animada. Gosto muito de abrir a exposição na semana da ArtRio, pois muitos artistas, curadores, galeristas de fora estão na cidade por causa da feira e é uma chance de mostrar meu trabalho para esse público que não necessariamente estaria no Rio. Essa semana pulsa arte no Rio, as pessoas estão mais dispostas a verem exposições e dedicarem seu tempo às artes. Ano passado, minha exposição “Entreato” abriu também na semana da ArtRio e foi um grande sucesso. Espero o mesmo para esse ano.

Podemos afirmar que seu trabalho tem um estilo abstrato e dá forma a elementos que não podem ser tocados?

Através do meu trabalho, acesso visualmente meu subconsciente. Ele é sensorial, espiritual, reflexivo e atemporal. Traduzo emoções que não consigo expressar com palavras. São sensações, vou criando e dando voz a um mundo não ouvido, não falado, não visto, camuflado. Desconstruo regras e formas, criando personagens fictícios que ganham voz, alma, força, que flutuam, levitam, dialogam entre si e se acolhem. Eles habitam um mundo sem gravidade. Parece que as coisas estão por escapar, nos dá vontade de entrar nelas, de atravessá-las. Há um silêncio, uma suspensão, e o trabalho acaba sendo terapêutico para quem tem a habilidade de contemplar. Elas nos fazem ver algo além do que é, a ler nas entrelinhas, a entrar numa fresta e não num lugar dado. Estou emocionalmente tateando um mundo novo. Atuo no campo da sinestesia, provoco sensações que não respondem tanto a nossa racionalidade.

 

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