Os “Olhos Cheios” de beleza de Mirela Cabral

Os olhos refletem o que cada pessoa enxerga, e eu acredito nisso profundamente. Que uma mesma cena ou imagem pode ser interpretada de formas diferentes por cada um. Ao ver as pinturas de Mirela Cabral, essa ideia ganha ainda mais sentido, pois o seu olhar é único e cheio de beleza.

“Olhos Cheios” é o nome da primeira exposição individual da artista no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, que teve a abertura no último sábado, 3 de agosto. Com curadoria da crítica de arte Ligia Canongia, a mostra vai trazer 20 pinturas – 17 sobre tela e três sobre papel – distribuídas em três salas do Paço (Trono, Dossel e Amarela). Todas as obras são recentes, produzidas entre 2020 e 2024, mas a artista de 32 anos vem traçando um caminho consistente no mundo da arte.

Mirela é autodidata nas artes visuais, embora tenha estudado em programas de arte na Parsons Paris, na Academia de Cinema de Nova York (NYFA) e na Universidade da Califórnia (UCLA). Além disso, é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Cinema pela Faap, em São Paulo.

O conjunto apresentado em “Olhos Cheios”é de arte abstrata, embora ela tenha começado no figurativo. “Explodi a figura e ela se tornou paisagem, para ganhar mais pluralidade, mais rítmica e melhor negociação com o espaço”, diz.

Acompanho o trabalho de Mirela há algum tempo e adorei essa transformação e a forma como ela explora o espaço e as formas. Outro detalhe que me impressiona é a sua relação com o suporte das telas, enquanto está produzindo. Ela pinta a mesma tela em várias posições, e conta sobre essa dinâmica: “Sempre penso nas bordas, se o trabalho funciona em todos os sentidos”. Além disso, ela trabalha em várias pinturas simultaneamente, deixando uma influenciar a outra. Isso dá uma sensação de continuidade e evolução que é simplesmente maravilhosa.

Ela relata que a observação diária dos espaços, da arquitetura do ateliê, da rua, as experiências cotidianas e a pesquisa são elementos que a artista transporta para a tela. No passado, ela fotografava recortes de paisagem para usar como referência. Hoje, faz marcas na superfície com carvão “para esvaziar a mente e não tornar a tela branca tão intimidadora”.

Adoro essa ideia de deixar a memória e a intuição guiarem o processo criativo.

Ela me conta ainda que quer que o espectador encontre pistas e gestos sugestivos nas pinturas, sem compromisso com a representação fiel do que viu. “Deixo pistas para o observador encontrar o percurso da pintura na própria pintura”.

Não é lindo, isso? A curadora Ligia Canongia faz uma leitura ainda mais emocionante do trabalho de Mirela: “A pluralidade de gestos sucessivos e simultâneos, a diluição das formas e o relacionamento convulsivo das cores fazem dessa pintura uma verdadeira escrita automática, um complexo de planos justapostos, que jamais se estabilizam na superfície e que parecem se mover continuamente ao nosso olhar”.

Trajetória artística

Mirela Cabral nasceu, em 1992, em Salvador, e foi criada em São Paulo, onde mora e trabalha. Dedica-se inteiramente às artes visuais.  Em 2023, fez a individual Coisas Primeiras, na Paulo Darzé Galeria, em Salvador (BA) e Between Handrails, no Kupfer Project, em Londres, Inglaterra, sob curadoria de Penelope Kupfer.

Ainda no ano passado, participou da coletiva Acordes, no Espaço Largo das Artes, e da SP Arte, com a galeria Portas Vilaseca. Com a galeria Kogan Amaro, esteve na SP Arte de 2020, 2021 e 2022, e fez uma individual na Kogan Amaro de Zurique, Suíça, e outra mostra solo na Kogan Amaro de São Paulo, com curadoria de Agnaldo Farias, ambas em 2021.

Entre 2018 e 2020, participou da ArtRio, da Feira Latitude, da Feira Parte, na Galeria Emma Thomas, sob curadoria de Ricardo Resende, entre outras coletivas. Tem trabalhos nas coleções do Museu FAMA, Itu, São Paulo, e na Yuan Art Collection, de Lucerna, Suíça.

Se você, como eu, se encanta com a arte que fala aos olhos e ao coração, não pode perder ‘Olhos Cheios’. É realmente de encher os olhos.

 

 

Exposição “Olhos Cheios”

Mirela Cabral

Paço Imperial

Praça XV de novembro, 48, Centro, Rio de Janeiro

Com patrocínio de Paulo Darzé Galeria, “Olhos cheios fica em cartaz até 20 de outubro, de terça a domingo e feriados, das 12 às 18h.

 

 

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