Morta nessa quarta-feira (24), aos 83 anos e em sua casa na comuna suíça de Küsnach, Tina Turner será tão lembrada pelo rico catálogo musical que vendeu em 2021 para a gigante BMG – em um negócio estimado em mais de US$ 50 milhões (R$ 247,5 milhões) -, quanto pelo fato de ter sido um divisor de águas no que diz respeito ao controle do próprio destino profissional. E não é exagero dizer que, se hoje em dia popstars consagradas como Beyoncé e até mesmo Madonna gozam do privilégio de ser chefes de si mesmas, as duas e muitas de suas colegas devem isso à intérprete de “Proud Mary”.
A história de Turner sob os holofotes se divide em dois momentos, basicamente. O primeiro ato dela foi ao lado de seu ex-marido Ike Turner, com quem foi casada entre 1962 e 1978. Os dois foram uma das maiores sensações da música nas décadas de 1960 e 1970, mas em casa a situação era bem diferente. Vítima de constantes abusos físicos e psicológicos cometidos pelo cantor que a controlava de todas as formas possíveis, a relação traumática resultou no fim da parceria do casal como a dupla Ike & Tina Turner Revue, em 1976, e dois anos mais tarde em seu divórcio. Na época, todo mundo achou que Turner tinha sido condenada ao ostracismo.
Logo que ela se libertou do casamento abusivo, seu único pensamento era voltar a brilhar o quanto antes possível, e sem nunca mais depender de ninguém. E assim se deu aquele que é considerado um dos maiores “comebacks” da história do showbiz. No começo da década de 1980, Turner voltou a se apresentar ao vivo e, em 1984, lançou seu icônico álbum Private Dancer, no qual uma das principais faixas era “What’s Love Got to Do with It”. A canção em tom de testemunho liderou as paradas e o trabalho em estúdio levou o Grammy de Melhor Álbum daquele ano. Além de cantora, ela também foi sua produtora-executiva, algo até então pouco comum para as estrelas femininas.
Daí para frente, Turner nunca mais deixou de ser a diretora de seus trabalhos, o que além de total independência também passou a lhe garantir uma fatia bem maior dos lucros que gerava igualmente como mulher de negócios. Com mais de 100 milhões de discos vendidos, inúmeros “number ones” na lista da Billboard (inclusive um aos 44 anos, tornando-se a artista solo mais velha a figurar no ranking de singles mais populares compilado pela revista), e protagonizando turnês que bateram recordes de bilheteria, a cantora batizada Anna Mae Bullock conseguiu fazer com que Ike virasse apenas uma nota de rodapé em sua história. E escolheu sair de cena no auge, em 2000, àquela altura já namorando há tempos o executivo da indústria fonográfica suíço Erwin Bach.
Em 2013, depois de 27 anos juntos, Turner e Bach se casaram e fixaram residência em Küsnach, que fica no canto de Zurique, na Suíça, às margens do Lago Zurique. Ao contrário de muitas estrelas e astros do momento, que não se contentam com seus grandes feitos e vivem continuamente em busca do próximo, Turner se deu por satisfeita com os vários que conquistou de forma tão única que fica até difícil imaginar como alguém poderia tirá-la do pódio – aí incluída a fortuna de mais de US$ 250 milhões (R$ 1,24 bilhão) que soube muito bem acumular. Afinal, são raros os artistas que conseguem redefinir a maneira como suas próprias artes são consumidas e entendidas.