Melody copiou Ariana Grande? Produtor musical explica diferença entre plágio e sample

Foto: Reprodução/Instagram

Um dos assuntos que mais rendeu nas redes sociais essa semana foi o plágio musical. A canção “Assalto Perigoso”, da brasileira Melody, foi apontada como cópia de “Positions”, de Ariana Grande, – inclusive, rendeu uma briga com Anitta -, e, possivelmente por isso, a canção da paulistana de 15 anos chegou a atingir mais de 40 milhões de plays. No entanto, a faixa foi removida da Apple Music e do YouTube.

Para entender melhor como funciona um plágio, o GLMRM conversou com Rico Manzano, produtor musical com mais de 10 anos de experiência, sobre os limites do mundo da música.

O produtor começa dizendo que o plágio não tem uma definição legal muito clara, por isso é avaliado caso a caso por um perito: “Acho que a questão não é tão simples, vamos ter que ressignificar o que é plágio, o que é criação e recriação. É preciso entender quais são os caminhos da composição hoje em dia, porque vai mudar muita coisa.”

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“O plágio é quando uma música usa elementos muito parecidos de outra em sua composição”, explica Manzano.

Sobre o caso de Melody e Ariana Grande, ele opina: “Melody, por exemplo, usou exatamente a mesma melodia da música da Ariana Grande em uma harmonia muito parecida. Se configura como um plágio, não tem como não ser. Só não é exatamente a mesma letra.”

Apesar desse caso, Manzano reforça as dificuldades em identificar e comprovar um plágio. “É uma análise muito além da melodia e muito além da música parecer ou não com outra”, diz. “Depois de identificar, você ainda precisa comprovar que o suposto plagiador teve acesso à sua música e que ele agiu de má fé na situação,” ressalta.

Mas, o que é o sample?

Já o sample é quando se retira um pedaço de uma gravação, que tecnicamente se chama fonograma e a utiliza em outra música, explica Manzano. “Na música eletrônica, por exemplo, isso é muito comum. É normal usar até o mesmo material para produzir o gênero,” completa.

“Nós vamos ter músicas parecidas às vezes e como lidar com essa situação é algo que vamos ter que entender no futuro. Meu medo é que tudo se torne plágio daqui alguns anos”

O produtor ainda discorre sobre as influências no meio musical: “Estamos o tempo todo juntando influências e criando a partir do que recebemos, então é comum fazer uma melodia parecida, por exemplo. Afinal, trabalhamos com referências também.”

Legalmente, para utilizar um sample é preciso autorização tanto do produtor fonográfico – que é quem financiou ou viabilizou aquela gravação, o dono daquele fonograma -, quanto dos compositores da obra.

“O que as pessoas não entendem é que não existe brecha para direitos autorais. Você não pode usar nem um segundo da música de alguém sem pedir autorização ou fazer um acordo. O problema é que ainda não existe fiscalização suficiente para isso, mas é questão de tempo para a tecnologia avançar,” ressalta.

Manzano também relembra que na década de 1980 o hip hop usou muitos samples, mas que naquela época era ainda mais difícil de rastrear. “A música “Changes”, do 2Pac, foi feita em cima de um sample”, exemplifica.

Acusados de plágio

Melody está longe de ser a primeira acusada de cometer plágio. Até Adele passou pelo mesmo. A cantora pop inglesa foi acusada de plagiar o compositor da música “Mulheres”, que ficou famosa na voz de Martinho da Vila.

“Acho que o problema da Adele é que bateu tudo, melodia, referência e até o tom. Então é complicado”, opina Manzano.

Segundo o produtor, neste caso existe uma repetição de melodia de 88 compassos que resulta em 87% da música. “Li uma vez que 8 compassos são o suficiente para configurar plágio, mas isso não se sustenta. Vai muito além.”

A música “Million Years Ago”, do álbum “25”, de Adele, se assemelha no tom e harmonia da música de Martinho. “O produtor e co-autor [do álbum de Adele] é ligado em música brasileira, então, são muitos fatores que fazem a gente achar que ali tem elementos reais de plágio.”

Já o funkeiro Kevin O Chris, com a música “Dentro do Carro”, foi acusado de plagiar os Beatles no clássico “Day Tripper”. A canção brasileira chegou a cair dos streamings e uma nova versão precisou ser gravada.

Forró com versão em inglês, pode?

Assim como qualquer outra música, os forrós que ganham versões em inglês no Brasil também têm que ter autorização para serem feitas. Caso contrário, configuram plágio.

“Esses forrós são muito regionais, então, é difícil descobrirem, mas se alguém denunciar vai cair do streaming, e aí vai ter processo ou acordo”, finaliza Manzano.

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