De Nazaré da Mata, na Zona da Mata, Norte de Pernambuco, Luiz Lins anda conquistando seu espaço na música do seu modo. O cantor de 26 anos ganhou projeção em plataformas com canções como “Saudade” e “A Música Mais Triste do Ano”, essa última, inclusive, foi regravada por Ludmilla e Gloria Groove em uma nova roupagem no “Lud Session”. Taxado como cantor de rap e R&B, ele confessa que não gosta de ser colocado em uma caixinha específica, já que vive em constante transição. “Ter identidade não é necessariamente ter uma bandeira a qual você nunca vai abaixar. Penso que se entender mutante é importante também, me sinto dessa forma, tanto profissionalmente como pessoalmente. Eu nunca levantei uma bandeira do que sou, mas muitas pessoas desaprovam isso.”
“Recentemente, soltei um trabalho muito diferente do que já tinha feito e houve reprovação por parte do público. As pessoas reclamam quando tem mais do mesmo, mas, no fundo, é isso que elas querem. É isso que o mercado quer. Já eu sempre quero surpreender, estudo para isso.”
Luiz Lins sobre a música “Sem Você”
Em conversa com o GLMRM, Luiz relembra sua trajetória na música, que, segundo ele, é diferenciada por fugir do eixo São Paulo – Rio de Janeiro. “Tenho muito orgulho da minha raiz, sobre tudo de ser de Nazaré da Mata. Geograficamente, socialmente, as coisas aqui são bem diferentes. Para mim, é uma honra carregar a bandeira da minha cidade, do meu estado, em situações em que tenho contato com o eixo Rio – São Paulo, que normalmente é cruel”, afirma.
“O mercado musical me trata diferente. As pessoas nas redes sociais também fazem isso, não estão acostumadas a consumir coisas fora do eixo. Nada disso me abala. Quando penso na minha origem, isso me dá mais vontade de conquistar as coisas.”
Luiz Lins
Hobby que virou trabalho
A paixão do artista pela música começou cedo, mas sem muita pretensão. “O meu pai era instrumentista, cantava e compunha, não tive muito contato com essa parte dele, mas há uma carga sobre mim de alguma forma. Muita gente da minha família toca instrumento, mas ninguém trabalha com isso. Aos 13 anos, tive um interesse mais forte e comecei a sonhar com a música. Depois disso, tive banda de outros estilos e toco alguns instrumentos, mas nenhum muito bem (risos).”
O artista entrega que demorou para perceber que a paixão virou algo profissional. “Na vida adulta, após algumas experiências, tive contato com produção e as coisas foram se seguindo sozinhas. Fui descobrindo do que gostava, experimentando, comecei a gravar em casa”, relembra.
Segundo ele, o mundo online foi o grande trampolim para sua carreira. “Meu trabalho não tinha visibilidade, nada foi feito na rua. Tinha experimentações, gravava demos no celular, covers, até que fiz uma música autoral que ganhou repercussão na internet. Isso fez eu produzir coisas pensando no profissional mesmo, não mais só como um prazer, como algo que fazia só para mim, passei a ver potencial.”
Saúde mental
Na música ‘Eu Tô Bem’, Luiz fez questão de falar sobre saúde mental, tema que ainda é um tabu entre os homens. Ele afirma que houve uma piora no seu psicológico após seu trabalho ganhar reconhecimento. “Quanto mais projeção minha carreira tomou e toma, sinto problemas de projeção maiores. Notei uma piora mental em pouco tempo desde que isso se tornou uma carreira, porque a vida artística não combina com a minha personalidade. Não me preparei para isso. Fazer música é o que amo fazer, mas essa coisa toda da imagem, do ser artista mexe com a cabeça.”
“Estava observando um dia desses que não troco ideia sobre saúde mental com meus amigos homens não porque não quero trocar, mas sim porque a ideia não vem. Poucos amigos homens que tenho fazem terapia, são mais as mulheres. Penso que isso acontece pelo medo do homem de demonstrar fraqueza e insegurança. As pessoas têm medo de mexer na própria ferida.”
Luiz Lins
Ele então relata como está seu emocional atualmente. “Me sinto bem hoje com meu corpo, trabalho. Sinto alegria de viver a partir do meu trabalho. Estou em estado de paz, centrado para lidar com as coisas com calma. Nunca estive assim, estou experimentando esse momento bom da minha vida. Sobretudo no meu profissional, estou estudando, me profissionalizando. No pessoal, estou me olhando com carinho, respeito.”
Ludmilla e Gloria Groove
“A Música Mais Triste do Ano”, composição sua, foi interpretada na apresentação das cantoras em formato de medley. O vídeo teve tamanha repercussão que foi elogiado por Caetano Veloso e ganhou uma versão pagode no ‘Numanice’, projeto de Ludmilla. “Me senti satisfeito e, ao mesmo tempo, frustrado, para ser sincero. É muito legal ver pessoas de projeção e de outro eixo gravarem a música. Isso é bom, me dá acesso e abre portas, mas é esquisito como as coisas funcionam. Essa música existe há um tempo, é a minha música solo de maior projeção, mas o tratamento do público é diferente quando é regravado por outra pessoa. Isso me deixa um pouco frustrado, me faz eu me sentir meio insuficiente para o mercado”, comenta Luiz.
“Uma coisa é eu compor, cantar, produzir de forma independente, no meu nome, que sou fora do eixo Rio – São Paulo. Depois disso, a mesma música, na mão de uma pessoa do eixo, bateu de uma forma diferente.”
Luiz Lins
Luiz afirma que prefere ter o seu jeito do que se moldar para ser o que esperam de um músico. “Sei que não sou o padrão estético que o mercado espera de um artista, não tenho exatamente o mesmo trato com as redes sociais como parte dos artistas têm, vários fatores contribuem para que o meu trabalho não funcione na minha mão e dê certo na mão de outra pessoa, isso me deixa infeliz. Preciso reparar mais onde deixo o mercado e público carente de coisas que posso ser, mas que até agora não abri mão por conta da pessoa que sou, algo que sou muito fiel”, finaliza ele, que acaba de lançar “Dois Lados” com Bella Kahun.