“Liberdade de fazer o que quiser”, diz Wagner Moura ao se lançar como diretor em “Marighella”

Wagner Moura

Wagner Moura teve uma grande saga para lançar Marighella, sua primeira direção que conta a história do guerrilheiro baiano (interpretado por Seu Jorge), considerado o inimigo “número um” do regime militar. A obra, lançada primeiro em Berlim em 2019, já que teve dificuldades com a ANCINE (Agência Nacional do Cinema), será exibida nos principais cinemas do País no dia 4 de novembro, data do assassinato do protagonista. Depois de passar um período trabalhando em Los Angeles, estendido devido à pandemia, o ator chega feliz ao Brasil para mostrar seu “filho”, que já está movimentando o País.

“O filme é feito para o Brasil, para o brasileiro. Apesar de ter feito muito sucesso fora do país, fizemos a obra para cá. Tem sido lindo, abraçado com muito amor pelas pessoas que querem que o filme aconteça. Por ter vontade de ver essa história por aí, mesmo com todas as dificuldades”.

Wagner Moura, ator e diretor

Em entrevista ao GLMRM, Wagner comenta sobre o mergulho intensivo na história, diferente de quando apenas atua e entrega um personagem para determinado trabalho. “Fui diretor e produtor do filme. Então, financiamos, filmamos, depois os atores foram embora fazer outras coisas e continuei montando a obra por um ano. Depois passei outro ano inteiro só viajando com ele em festivais. Estamos aqui agora lançando o filme finalmente no Brasil. Há uma relação mais profunda”, afirma.

“Quero ser livre para trabalhar onde quiser, sempre. Isso nunca foi uma decisão difícil, foi algo natural. Na minha cabeça, o que está em primeiro lugar é a minha liberdade de fazer o que eu quiser”

Wagner Moura, ator e diretor, sobre “amarras de contrato” com emissoras e plataformas de streaming, que se lê abaixo

O diretor confessa que estava com saudade do País, mas que – mesmo longe – estava conectado. “Moro onde estou trabalhando. Aonde quer que esteja, estou conectado com o Brasil. Sempre lendo notícias, falando com as pessoas. Quando cheguei aqui, fisicamente, depois de dois anos de pandemia, não senti que estava tão distante. O que está sendo lindo e positivo é o fato de estar abraçando as pessoas que amo, recebendo o carinho delas com a estreia”, diz ele, que vai estrelar uma nova série da Apple TV+ ao lado de Elisabeth Moss.

Sem perfil nas redes sociais, Moura sente falta de ter um local para conversar com seu público. “Nunca quis ter redes sociais. No começo, achava algo bobo, superficial. A impressão que dava é que era uma revista de celebridades editada, que vendia uma imagem ali. A polarização nas redes sociais é algo muito feio, (como) o ataque, a violência, a covardia, é algo que não me interessa muito. Você perde muito tempo ali. Quero viver a vida com as pessoas perto de verdade. Não quero ficar com a minha cara na tela. No entanto, sinto falta de ter um canal de comunicação direto com as pessoas, de dizer o que penso”, desabafa.

“Cheguei a pensar em ter [algum perfil] uma época que sentia que precisava dizer algo, mas desisti logo. Acho chato. Não tenho vocação para aquilo”.

Wagner Moura sobre redes sociais
Wagner Moura | Crédito: Paulo Freitas

Sobre Pedro Paulo Soares

A primeira opção do diretor para interpretar Marighella era Mano Brown. No entanto, por conta das agendas, o rapper passou a participar do filme apenas com a música “Mil Faces de um Homem Leal”, tocada nos créditos finais do longa.

Sobre o podcast do artista, o “Mano a Mano”, Moura afirma que ouve com frequência. “Adoro. Gostei muito do episódio dele com o Fernando Holiday. Esse momento de polarização, achei muito bonito o convite que Brown fez. Tudo que Holiday falava, eu achava péssimo em tudo, continuo achando, mas senti empatia por ele. Acho importante isso agora, da gente poder se conectar com as pessoas, humanizar mais quem pensa diferente de você. O diálogo com os setores democráticos, com o fascismo não tem diálogo”, acrescenta.

Com o pé em 2022

O baiano, que assumiu que irá votar em Lula (pré-candidato à presidência pelo PT) no ano que vem, comenta sobre o atual momento político na esperança no que está por vir. “A gente vive um momento de reconstrução, que passa pela valorização da democracia. Independente de quem será o próximo presidente do Brasil, seja essa terceira via, Lula, ou outra pessoa da esquerda, qualquer um que assuma o próximo mandato, se afastará da tragédia que é o governo Bolsonaro.”

Wagner diz que a sua obra pode unir algumas lutas, acima de tudo, as que priorizam a democracia. “O filme é sobre alguém que lutou contra a ditadura militar e que levou um tiro no cinema gritando ‘viva a democracia’. Neste sentido, esse valor deveria unir. Você gostando de Marighella, ou não, deveria ser um valor caro a qualquer democrata no Brasil.”

“Essa pulsão, da direita de hoje, em nada se compara à revolução. Ela permeava a cultura do mundo nos anos 1960 e 1970”

Wagner Moura na coletiva de imprensa de “Marighella” em São Paulo

Outros trabalhos

O ator, um dos primeiros a investir em produções sem o envolvimento de emissoras, exalta seu desejo por independência na carreira. “Nunca tive um contrato com a Rede Globo. Todas as coisas que fiz eram por obra. Me contratavam para fazer uma coisa e eu ia lá e fazia. Se tivesse Netflix antes, eu ia lá e fazia uma coisa ali, outra aqui. Quero ser livre para trabalhar onde eu quiser, sempre. Isso nunca foi uma decisão difícil, foi algo natural. Na minha cabeça, o que está em primeiro lugar é a minha liberdade de fazer o que eu quiser, de trabalhar onde eu quiser”, revela ele, que costuma ser relembrado no Twitter por seu papel em “Paraíso Tropical”, quando atuou ao lado de Camila Pitanga.

Outro papel marcante em sua carreira foi o Capitão Nascimento em “Tropa de Elite”, filme dirigido por José Padilha. Wagner então reflete sobre a diferença dos personagens: “No Tropa 2, tivemos um personagem que ganhava consciência, diferente do personagem em Tropa 1. Ele [Capitão Nascimento] era marionete de um sistema muito maior do que ele imaginava. Essa tomada de consciência é importante todos nós termos. Marighella, pelo menos, é consciente do que é o Brasil naquela época. Deixamos o Capitão Nascimento no momento da consciência maior na segunda parte do filme.”

Kleber Mendonça Filho será o responsável por manter o ator no Brasil por mais tempo. O próximo trabalho do brasileiro será com o diretor de “Bacurau” e “Aquarius”. “Esse projeto ainda está muito na cabeça do Kleber. Sei algumas coisas sobre ele, mas acho prematuro falar sobre. Kleber é um cineasta político, os filmes dele possuem uma dimensão política. Tanto o Kleber, como eu, como o Padilha, temos que passar pelo humano”, reflete.

“Nosso primeiro interesse é pelos personagens e suas complexidades, que nos levam a uma segunda camada que é de compreensão política. Nosso material de trabalho é o ser humano e suas contradições”.

Wagner Moura
Sair da versão mobile