Em uma obra que mistura bom humor, consciência social e lirismo, Paulina Chiziane constrói “Niketche: Uma História de Poligamia” por meio da narradora-personagem Rami. Esposa fiel e submissa, ela está casada há 20 anos com Tony quando descobre que o marido tem várias amantes e filhos espalhados por Moçambique. Rami, então, decide conhecer as mulheres do companheiro, uma a uma. A partir desse encontro, todas terão suas vidas completamente transformadas.
“Eu, Rami, sou a primeira-dama, a rainha mãe. O nosso lar é um polígono de seis pontos. Polígamo. Um hexágono amoroso”, narra ela. Marcado pelo fluxo de consciência da protagonista, que analisa seu lugar como mulher na sociedade moçambicana no período pós-guerra civil, “Niketche” traz uma reflexão sobre a realidade feminina de submissão enriquecida pela pluralidade cultural.
Grande vencedora do Prêmio Camões de 2021, uma das mais importantes honrarias da literatura em língua portuguesa, Paulina Chiziane é uma escritora moçambicana e a primeira do continente africano a receber o prêmio. Segundo o júri, sua obra, já publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras, retrata “os problemas da mulher moçambicana e africana” e constrói pontes entre a literatura e outras artes.
Chiziane recebeu o prêmio de € 100 mil (cerca de R$ 645 mil) pela conquista. Vale lembrar que, entre os vencedores da honraria entregue pelos governos de Portugal e Brasil, temos alguns representantes de terras brasileiras. Entre eles, Chico Buarque que, em 2019, foi consagrado grande vencedor. Três anos antes, em 2016, Raduan Nassar também levou o prêmio e marcou seu nome na história.