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Foto: Breno e Gabriel Laprovitera

Por Luís Costa

Nos anos 50 da Oficina Brennand, mostra panorâmica repassa carreira do artista pernambucano em instituto que funciona no complexo em que instalou seu ateliê nos anos 1970.

Quando Francisco Brennand ocupou as ruínas da velha cerâmica que fora de seu pai, no bairro da Várzea, no Recife, ele escreveria em diário o espanto e a esperança que o lugar lhe despertava. “Sinto no ar, na sombria atmosfera destes enormes galpões semidestruídos, que algo está acontecendo ou na iminência de acontecer. Na penumbra dos corredores, fecho os olhos e aguardo o sonho…”.

Aos 50 anos de existência, a Oficina Brennand ganha uma exposição panorâmica da obra do artista, que morreu em dezembro de 2019, aos 92 anos. Devolver a Terra à Pedra que Era: 50 Anos da Oficina Brennand fica em cartaz até outubro de 2022 e conta com cerca de 200 itens, entre pinturas, esculturas, gravuras, serigrafias e documentos, muitos deles inéditos, abrangendo toda a trajetória do pernambucano.

O panorama apresenta obras garimpadas do acervo permanente do instituto – que abriga aproximadamente 3 mil peças –, de colecionadores e de museus de todo o país. Entre elas, algumas pouco conhecidas do grande público, como a Série Amazônica, presente na Bienal de São Paulo de 1971. “A gente vai ver o Brennand ceramista, o Brennand pintor, o Brennand que faz utilitários, o Brennand que está se relacionando com outros intelectuais e artistas”, afirma Júlia Rebouças, que assina a curadoria ao lado de Julieta González.

Foto: Breno e Gabriel Laprovitera

Quem hoje toca o legado do artista é sua sobrinha-neta e cineasta Marianna Brennand. Presidente da Oficina Brennand (oficializada como instituto sem fins lucrativos em setembro de 2019, meses antes da morte do artista). Ela conta que o tio-avô se preocupava não só com a preservação de sua obra, mas queria que a Oficina abrigasse programas culturais da cena artística do estado e do país. Para a nova fase, ela convidou um time com nomes como Lucas Pessôa, ex-diretor do Masp, que assumiu a diretoria, e a curadora Júlia Rebouças, com passagem pela Bienal de São Paulo.

Marianna lembra que a história da Oficina remonta a 1917, com a fundação da Cerâmica São João pelo pai de Brennand, Ricardo. Em 1971, quando Francisco quis recuperar a velha olaria, o lugar estava em ruínas. “O objetivo de Brennand era conservar o passado de experiência em torno da cerâmica. Apaixonado por ruínas, ele dizia que a ruína daquela fábrica ganhou contornos de romance e passou a ser um desafio, além de trazer importantes memórias da infância, pois era no espaço
abandonado que realizava suas brincadeiras infantis com os irmãos”, conta Marianna. “Agora é a nossa vez de dar continuidade ao legado de Francisco,
com uma instituição aberta, plural, democrática e inclusiva a partir do legado
deixado por Francisco, respeitando todas as características naturais e essenciais
da Oficina e seu entorno.”

Segundo Marianna, uma série de programações públicas e educativas serão desenvolvidas ao longo de 2022, como uma exposição inédita do artista plástico carioca Ernesto Neto, que instalará uma obra de grande porte comissionada pela Oficina.

Lucas Pessìa, Julieta Gonzales, Júlia Rebouças e Marianna Brennand. Foto: Rodolfo Loepert

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