“Depois de tantas coisas que vivi, está sendo fundamental  falar:  ‘Pô,  que  foda,  eu  passei  por  isso’”, conta Luísa Sonza à Revista J.P

Com coleção que mistura a tropicalidade brasileira à irreverência da marca italiana, a cantora mostra a que veio | Fotos: Mauricio Nahas

Autêntica e vestida com a nova collab-desejo Moschino for Riachuelo, cantora é a capa da edição especial de 15 anos da revista JP.

POR LUCIANA FRANCA | STYLING RODRIGO POLACK | BELEZA PEDRO MOREIRA

Assim como a J.P, Luísa Sonza também  celebra  15  anos  de  carreira.  Sim,  você  leu  certo.  A  garota  da  capa  começou  a  cantar  profissionalmente aos 7 anos em uma banda de casamento  em  Tuparendi,  cidade  de  7  mil  habitantes no interior do Rio Grande do Sul. Mas, antes  disso,  Luísa  conta  que  era  requisitada  para  soltar  a  voz  nas  longas  viagens  de  carro que fazia com a família para manter o pai desperto ao volante. No repertório, sertanejo raiz.  Também  aprendeu  em  casa  a  gostar  de  rock nacional dos anos 1980 e Beatles.

Atualmente, diz ela, anda obcecada por Legião Urbana, Elis Regina e Cássia Eller. Foi há quatro anos que Luísa se lançou em carreira solo e, como não poderia ser diferente de sua geração, a internet foi seu primeiro palco. Em 2017, desbancou quatro youtubers da música e levou o prêmio de melhor cover da web no Prêmio Multishow com “Fica”, de Anavitória e Matheus & Kauan. Desde então, vive  uma  relação  agridoce  com  a  exposição  virtual.

A gaúcha de 23 anos contabiliza mais de 24 milhões de seguidores no Instagram, e é por lá que os fãs emanam amor e admiração ao  mesmo  tempo  que  outras  pessoas  destilam ofensas. Alguns episódios tomaram proporções  absurdas  em  sua  rede  social,  como  a  separação  do  humorista  Whindersson  Nunes, com quem ela se casou aos 19 anos, e o namoro com o cantor Vitão. “Passei a fazer terapia depois de entrar na internet, há uns quatro anos”, conta. Mas precisou tomar  uma  atitude  mais  radical  e  se  afastar  de  tudo para atravessar o pior momento, no início de junho, quando sofreu ataques de haters após a  morte  do  filho  prematuro  que  Whindersson  teve com outra mulher: Luísa se isolou no México e ficou sem acesso às redes sociais.

“Foi uma fuga, me fez muito bem, mas eu não estava lidando com a situação em si, estava fugindo. Precisei desse  tempo,  praticamente  fui  viver  uma  outra  realidade,  não  queria  voltar.  Fiquei  uns  15  dias  no México, mas tive que retornar para trabalhar e cumprir contratos e tal, não tinha como adiar mais as coisas”, relembra. “A gente tem que dosar  as  redes  sociais  todos  os  dias,  não  fugir  por  um tempo e voltar para a mesmice. Acho que o mundo tem que rever um pouco a forma como está  encarando  as  coisas,  tudo  se  baseia  muito  no  imediatismo,  no  número,  e  nem  sempre  o  imediato é o melhor”, reflete. Luísa  abre  o  jogo  de  como  vem  se  tratando. 

“Minha terapeuta me acompanha o tempo todo e  tomo  ansiolítico  e  antidepressivo  porque  as  crises de pânico ficaram fortes. Não tinha, sempre fui uma pessoa ansiosa, mas lidar com isso é bem  complicado  porque  é  uma  coisa  que  atormenta todos os dias.”

Luiza Sonza

A artista tem dimensão de que  é  espelho  para  muita  gente  e  por  isso  divide os altos e baixos da vida. “Gosto de falar por causa das pessoas que passam por isso dentro da sua  realidade  e  pensam:  ‘Ela  se  recuperou,  está  bem, e eu estou aqui e não estou aqui conseguindo, estou há anos com terapia, há anos tentando e não consigo’. Não é assim, sou um ser humano da mesma maneira, não é um conto de fadas, em que se dá a volta por cima, é tudo lindo. As coisas têm que ser levadas mais a sério.”

O  momento  de  fuga  impactou  inclusive  no  lançamento do aguardado segundo álbum, Doce 22,  que  foi  adiado  por  alguns  dias.  Hoje,  Luísa  colhe  os  louros  da  atual  fase  artística,  em  que  assume  as  próprias  rédeas  e,  não  à  toa,  tem  o  nome do disco tatuado no dorso da mão, como um lembrete de sua caminhada.

“A música sempre  foi  terapêutica. Estou  me  tornando  mais  madura e mais segura da minha música, da minha arte, do que eu sou, e consigo externalizar melhor  artisticamente”,  diz  ela,  que  passou  14  meses dedicando-se totalmente ao “Doce 22”, gravado em sua casa, em São Paulo, entre amigos, e  aprovando  cada  detalhe.  “A  melhor  parte  do  meu trabalho é criar, produzir, cantar. Isso é o que  me  encanta,  e  faz  eu  fazer  todo  o  resto  e  me desdobrar em várias. A parte mais desafiadora é saber lidar com a indústria, entender os mecanismos, observar, empresariar. Não existe formação para isso, não existe regra, é você dar tiro no escuro o tempo todo, arriscar o tempo todo.” 

Outro  reconhecimento  da  carreira  em  ascensão foi o convite para comandar seu próprio programa, “Prazer, Luísa”, do Multishow. Cada vez mais dona de si, a cantora passou a falar de outro assunto relevante, a bissexualidade.  “É  uma  coisa  natural.  Nunca  namorei  meninas,  mas  já  me  envolvi.  Me  sinto  uma  mulher livre. Sou uma pessoa tranquila em relação à sexualidade, não sou de ficar com muita gente. Mas já me interessei por homens e já me interessei por mulheres, e é isso.”

Solteira desde  o  fim  do  namoro  com  Vitão,  em  agosto,  ela  aproveita  as  delícias  de  estar  sozinha.  “É  muito  bom  fazer  o  que  quer,  a  hora  que  quiser. É um momento importante para mim, para  aproveitar  as  coisas  que  conquistei,  de  me sentir completa sozinha. Depois de tantas coisas que vivi, está sendo fundamental olhar e  falar:  ‘Pô,  que  foda,  eu  passei  por  isso,  eu  consegui e estou aqui, intacta’.” Luísa é assim, está  pronta  para  o  que  der  e  vier.  E  que  sua  caminhada siga mais suave e gentil.  

Fotos: Mauricio Nahas
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