Admiração de fã e orgulho de filho, assim Davi Moraes começa esse papo sobre a exposição dedicada à obra de seu pai, Moraes Moreira. Sob o título “Mancha de Dendê não sai”, a mostra registrou sucesso absoluto em Salvador (BA) e agora, a partir de 10 de dezembro às 10h, chega ao Museu Histórico da Cidade no Rio de Janeiro (RJ).
A exposição é realizada pela Maré Produções e Moraes Moreira, ainda em vida. É gratuita, única e exclusiva, apresentando uma retrospectiva abrangente da carreira do artista. Segundo a idealizadora e produtora cultural Fernanda Bezerra, “após atingirmos um público de 25 mil pessoas em Salvador, temos grandes expectativas de que o Rio de Janeiro, cidade que foi a segunda casa de Moraes Moreira, compareça em peso para prestigiar a exposição. O público carioca, assim como o baiano, tem uma forte ligação afetiva com o legado musical dele. Após o Rio, a exposição pretende circular por Fortaleza, Recife e Brasília”.
Como foi o processo de curadoria dessa exposição, iniciada pelo seu pai ainda em vida, até chegar ao formato que é hoje?
O processo de curadoria, depois que assumimos, buscou reunir tantas histórias importantes da música brasileira que meu pai protagonizou: desde o início com os “Novos Baianos”, passando pela transição para a carreira solo, até sua conexão com a família de Dodô e Osmar, Armandinho, tornando-se o primeiro cantor do trio elétrico e construindo uma história significativa com essa turma tão importante. Depois, tornou-se um artista que saiu da Bahia e levou a essência baiana para o Brasil com suas diversas facetas musicais, de diferentes estilos que ele conseguiu unir com naturalidade, sempre com variados parceiros – algo em que sempre me inspirei nele. Ele trabalhava de forma excepcional tanto sozinho, compondo diariamente com seu violão e escrevendo, quanto com grandes parceiros musicais, grandes poetas. Tivemos o desafio de reunir toda essa história rica para apresentar nesta exposição.
Quais sentimentos a exposição desperta no Davi filho e no Davi músico?
Como filho, desperta um imenso orgulho ao ver como ele é querido, e como sua música levou alegria para tantas pessoas, em casas, praças, avenidas, teatros, em todos os lugares por onde passou. Muito orgulho pela coragem que teve ao sair de Ituaçu e buscar viver da sua música, da sua arte.
E como músico, é um olhar de admiração profunda, de fã, pela quantidade de coisas que ele realizou, por ter suas músicas gravadas por tantos intérpretes importantes, cantoras, cantores, uma vasta gama de artistas que interpretaram suas músicas. Também pela trajetória vitoriosa, saindo de uma cidade pequena, indo para Salvador, depois São Paulo e Rio, em busca desse sonho. Uma trajetória muito vitoriosa, com uma assinatura muito forte, uma personalidade única. Um jeito singular de tocar violão, cantar e alcançar o coração das pessoas com emoção e alegria, marcas presentes na sua música.
É também um orgulho ter participado de diversos momentos dessa história como um parceiro fiel, onde aprendi muito. Aprendi a respeitar os colegas de estrada, a cativar as pessoas que estão conosco, a lidar com o público, a buscar meu estilo, minha voz dentro da minha jornada. Me espelho muito nele. Aprendi muito. Ele é minha grande referência.
No ano em que o País retomou sua efervescência cultural, qual a importância de levar o legado de Moraes Moreira para o público que já o conhecia e acompanhava sua carreira, assim como para os mais jovens e crianças?
É gratificante poder trazer a exposição que fez grande sucesso em Salvador para o Rio. 25 mil pessoas passaram pela mostra, incluindo crianças e grupos de escolares que puderam conhecer a história desse grande artista brasileiro. Na Bahia, tem um significado especial por ter sido onde começou a história da voz no trio elétrico, sendo o primeiro cantor do trio. Agora, no Rio, no Parque da Cidade, um local querido onde ele costumava buscar inspiração durante suas caminhadas. Morávamos perto do parque, e nessa retomada cultural, trazer essa exposição para um lugar onde nos sentimos próximos dele, onde sua obra é sentida de forma intensa pelos admiradores, fãs e por todos faz sentido. Para os mais jovens, é uma oportunidade de conhecer melhor. Aqueles que conhecem a história dos ‘Novos Baianos’ poderão também descobrir outras narrativas. Sinto que o legado está vivo, uma obra com longevidade que ultrapassa gerações. Ele tinha um público renovado, sempre com muitas pessoas novas na plateia. É alguém que transcende décadas, gerações, e sua obra permanece viva, através de várias facetas e, certamente, essa exposição é crucial para isso tudo.