Dona de uma trajetória única e cheia de realizações, Claudia diz que não é uma mulher realizada. Carrega a certeza de que ainda há muito que conquistar e, aos 55 anos, acabou de iniciar o que chama de “o segundo ato” de sua vida.
“Não aceito ficar nesse lugar que a sociedade exige das mulheres da minha idade. E mais do que exige, faz toda uma preparação para que a gente chegue aos 50, 60 cagadas da cabeça, sentindo que acabou”, explica.
“Quando somos jovens, nos preparam para menstruar, parir, amamentar. Mas ninguém nos prepara para a menopausa. É como se a mulher não existisse a partir dali nem para os médicos. Não é preciso mais perder tempo com ela”, assegura.
“Ninguém nos prepara para a menopausa. É como se a mulher não existisse a partir dali nem para os médicos.”
Muito de sua potência, Claudia credita à mãe, a bailarina Odette Motta Raia, que morreu em 2019, aos 95. “Ela ficou viúva quando eu tinha 4 anos e minha irmã, Olenka, 9. Foi uma mulher absolutamente empoderada, que nos criou sozinha, com sua academia de dança”, recorda.
“Com minha mãe aprendi a não me calar. Quando fiz a minha primeira Playboy [em 1984, aos 17 anos, a atriz posou nua para a revista], ela perdeu metade de seus alunos. Fiquei me sentindo culpadérrima, mas minha mãe disse: ‘Não preciso dessa gente na minha escola, prefiro que saiam mesmo’.”
Para a filha, Sophia, se orgulha de ter construído uma base feminista tão sólida quanto a que recebeu da mãe. No entanto, reconhece que não é fácil ser “filha de Claudia Raia”.
“Sophia faz análise desde os 6 anos. Tive que aprender a ser coadjuvante da minha filha, porque, na vida, treinei para ser protagonista”, explica. “Não posso competir com ela em seus momentos de glória. Eu a assisto e a aplaudo assim como ela sempre faz comigo nas minhas estreias.”
Arte é posicionamento
Dos medos e arrependimentos que Claudia carrega de seu “primeiro ato” alguns estão relacionados à política. Nos últimos anos nos quais vimos servidas à mesa opiniões polarizadas regadas a fake news, a atriz diz temer uma possível volta à ditadura.
“Tenho medo de me calarem a boca como artista, como aconteceu no passado deste país e parece que foi meia hora atrás. Essa ameaça ainda nos ronda e me assusta”, pontua.
Claudia também prefere não apoiar nenhum político em disputas eleitorais. Lição aprendida com o trauma de 1989, quando emprestou sua imagem em favor de um certo caçador de marajás.
“O que passei por aquela situação do Fernando Collor, não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse, faria campanha para ela. Não preciso ficar falando qual é meu posicionamento político porque ele está implícito. Eu faço arte.”
“O que passei por aquela situação do Fernando Collor, não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse, faria campanha para ela.”
O próximo “posicionamento político” de Claudia, portanto, atende pelo nome de Tarsila do Amaral (1886-1973). A atriz prepara um musical baseado na trajetória da pintora, um dos maiores ícones da arte brasileira. A direção do espetáculo será de José Possi Neto e roteiro de Anna Toledo.
As fotos de Claudia caracterizada como Tarsila impressionam: até a sobrinha-neta da pintora, Tarsilinha, se emocionou com a semelhança. “Foi ela quem me procurou para fazer o musical. Veio assim, endereçada, dizendo que só faria se eu topasse”, empolga-se. O espetáculo está previsto para novembro, com Claudia executando as primeiras cenas de seu segundo ato.
A íntegra da entrevista e ensaio está na edição 176 da Revista J.P, já nas bancas.
Fotos: Renam Christofoletti
Styling: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Beleza: Ale de Souza
Direção de arte: Jeff Leal
Edição de estilo e produção executiva: Ana Elisa Meyer
Assistente de styling: Larissa Oliveira
Produção de moda: Julie Marques e Matheus Spindola
Assistente de beleza: Ivan Pasciscenai
Assistentes de fotografia: Edu Malta e Erick Gianezzi
Manicure: Rose Luna
Tratamento de imagem: Eddie Mendes Retouch Image
Agradecimento: Loja Teo