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Baco Exu do Blues
Foto: Divulgação/Roncca

Baco Exu do Blues acaba de lançar “Quantas vezes você já foi amado?”. Com apenas 26 anos, depois de ganhar um prêmio no Festival de Cannes de 2019 com o curta-metragem correspondente ao álbum anterior, “Bluesman”, Diogo Moncorvo acaba de conquistar um espaço privilegiado na música. “QVVJFA?” está em quinto lugar entre os álbuns mais ouvidos em todo planeta, segundo o Spotify. A proeza aumenta, já que a posição no ranking foi conquistada poucos dias depois do lançamento do novo trabalho.

“É muito louco porque eu e minha equipe fazemos músicas todos os dias da nossa forma, do nosso canto e sem se expor muito. Saber que essa união chegou tão longe e de forma tão forte. Um disco todo feito em Salvador, fico emocionado demais.”

Baco Exu do Blues

Neste trabalho, Baco aborda negritude, religiosidade, amor e ódio. Tudo isso com frases marcantes e reflexivas, aspectos que quem acompanha o trabalho dele desde “Esú”, que o levou para as paradas de sucesso principalmente pela música “Te Amo Desgraça”, já sabe. Com 12 faixas, o novo álbum conta com as participações de Gal Costa e Vinicius de Moraes ( samples), além de Gloria Groove e Muse Maya.

Em conversa exclusiva com GLMRM, o rapper comenta como a música é sua terapia, denuncia a intolerância religiosa ainda em 2022, relembra quando foi cancelado na internet, além do novo trabalho, que segundo ele, é bem mais maduro. “Em “Bluesman” (2018) estava falando sobre o que me incomodavam naquele momento, estava sentindo as dores e gritando o mais alto que conseguia. Neste novo disco, tentei entender porque e de onde nasceu esse incômodo e como resolve-lo. Tanto nesse trabalho, como em “Bacanal” (2020) há mais profundidade e intensidade, no sentido de ter ido mais fundo na minha cabeça para conseguir desenterrar tudo o que estava escondido”, afirma Baco.

O artista escolheu temas que geralmente são polêmicos para os homens negros, como relacionamentos, raiva e saúde mental. “Consigo falar disso por me sentir seguro suficiente para mostrar meus pontos fracos para o mundo, mesmo sabendo que isso pode ser utilizado contra mim.”

Fotos: Divulgação/Roncco

“Me sinto firme porque me entendo mais que os outros. Quando você descobre seus pontos fracos, onde você erra, do que você tem medo é quando consegue fazer manutenção disso. Me sinto cada vez mais preparado e buscando minha melhor versão.”

Baco Exu do Blues

Estúdio como sala de terapia

O rapper conta que por mais que exponha seus sentimentos nas músicas, não consuma fazer isso com frequência na vida pessoal. “Sou horrível para falar as coisas que sinto, péssimo na realidade. A forma que encontrei de falar sobre meus sentimentos foi através de minha música. De vez em quando não falo sobre algo para as pessoas ao meu redor, mas se falei em uma canção, todo mundo já sabe o que está acontecendo comigo. Costumam dizer que para me conhecer basta acessar a minha discografia (risos). Se você ouvir, vai saber quase tudo que passei”, diz ele, que já gravou quatro álbuns de estúdio.

“A música é um local seguro para mim, como se fosse minha pré-terapia. Tudo que vou comentar na minha terapia falo antes na música. Ainda tenho que falar do meu modo, se não sair as palavras do meu jeito parece que as ideias não saíram. É todo um processo.”

Baco Exu do Blues

Segundo ele, homens negros esquecem muito deles mesmos. “É interessante fazer o exercício de se olhar para dentro, reservar 20 minutinhos do dia para avaliar como está se sentindo. Eu gosto de ficar quieto no meu canto, ficar sozinho, tirar um tempo para mim e ficar conversando comigo mesmo. Isso afeta diretamente lá na frente”, reflete.

Fotos: Divulgação/Roncco

A fuga dos singles

Indo contra a tendência da música atual, Baco não é um artista que lança muitos hits soltos e explica o porquê: “Tenho medo de singles porque com uma música não consigo dizer tudo que quero. Meus sentimentos são meio doido mesmo, então nunca sinto só uma coisa, sinto várias. Lançar um single parece que estou me restringindo de alguma forma. Eu preciso ser entendido completamente para ficar claro. Se alguém me interpreta mal de certa forma fico mal. Sou um artista de disco, quero ter uma discografia forte para as pessoas pensarem: ‘esse cara é fod*'”.

Mas, “Quantas vezes você já foi amado?” já tem seu hit: a música “20 ligações”, a mais ouvida do artista no Spotify: “Essa foi a última música a entrar no disco. Quando estou produzindo, as pessoas acham que me preocupo de fato com acertar em criar um hit, mas a real é que essa é a última coisa que penso. Vou só fazendo música e colocando de fato as que penso que tenha a ver com tudo que estou dizendo. Quando faço um disco tenho uma história para contar. Nisso vou criando várias linhas dessa mesma trama e coloco ali as músicas que mais se relacionam com o sentimento que quero e preciso passar”, entrega.

Intolerância religiosa

Com nome artístico totalmente ligado às religiões de matriz africana, o artista denunciou que recentemente foi vítima de intolerância por conta de sua crença. O caso ocorreu em São Paulo onde tentaram lhe agredir. “Pessoalmente foi a primeira vez que isso aconteceu, já na internet acontece todos os dias. É algo que de certa forma estou acostumado, é o peso pelo nome que escolhi”. Ele também frisa outra questão que convive diariamente. “Muitas pessoas perguntam porque as pessoas não gostam do Baco, ou mais do que isso, porque não aceitam a qualidade musical dele, eu sei o motivo, mas as pessoas não falam pelo motivo real. Não falo isso para me redimir de críticas não. Eu entendo quem não gosta do meu trabalho por certos motivos. Agora, pessoas que criticam de modo raso ou tentam me atacar pessoalmente, fica muito claro o que é”, diz.

“A escolha do meu nome artístico é justamente uma afronta e todo meu trabalho se baseia nisso. Por mais que incomode, acho que ajudo a entenderem que pessoas com religiões de matrizes africanas não são maldosas, maliciosas e nem monstros. Somos pessoas e pronto.”

Baco Exu do Blues
Fotos: Divulgação/Roncco

Inimigos?

Figura presente nas redes sociais, Baco foi vítima do temido cancelamento. No passado, espalharam boatos sobre um antigo relacionamento e, em outro capítulo, ele foi criticado por falar sobre Beyoncé de forma “sexual” em suas letras. Essas duas histórias foram esquecidas e hoje ele é figura presente no Instagram e no Twitter, em que acaba de ganhar o selo de verificado: “Essas criticas me abalaram por um tempo, depois só descartei e entendi que as pessoas se apegam muito às mentiras nas redes sociais. Depois que ela é espalhada não dão voz para desmentir. A galera quer ver o caos, a confusão, e depois que entendi esse interesse simplesmente deixei de lado. Não me interessa a opinião de quem não tem compromisso com a verdade.”

“Quando me defendi [dos cancelamentos], a primeira coisa que pensei é que estava cansado de tudo. Não tem opção, a forma de não conviver com isso é abaixar a cabeça, deixar os outros gritarem e falarem o que eu sou, mas isso não é uma opção para mim.”

Baco Exu do Blues

Para refletir sobre os tipos de ataque recebidos, Baco escreveu a música “Inimigos”. “Essa faixa foi muito mais um lugar de inimigos pessoais mesmo, desta questão de sofrer várias pequenas agressões a vida toda e muitas vezes ter que ficar calado, outras conseguir reagir. Essa faixa foi para me lembrar que preciso reagir, não posso mais ficar calado e abaixar a cabeça, seja por mim ou pelos meus também. Não posso presenciar isso e ficar calado. Não posso dar um passo para trás, tenho que ir para cima. Não é normal para uma pessoa negra sentir segurança, estamos sempre em estado de alerta”, finaliza ele, que toca dia 12 de março na Audio, em São Paulo.

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