André Barcinski relança ‘Barulho’, livro essencial para a música dos anos 90: ‘Capturou o espírito de uma época’

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Para os amantes de música no Brasil, o jornalista André Barcinski foi “a pessoa certa no lugar e na hora certa”. Rodando os EUA no final de 1991 para assistir e entrevistar algumas das bandas e músicos mais conceituados da época, o brasileiro viu a explosão do grunge acontecer diante de seu nariz, sem imaginar o quanto aquela cena impactaria a cultura pop. Os relatos, as entrevistas e os encontros foram publicados no ano seguinte em “Barulho – Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano”, livro vencedor do prêmio Jabuti de 1993 na categoria “Reportagem” e que acaba de ganhar uma nova edição de luxo, e ampliada, para celebrar os 30 anos do lançamento.

“Acho que dei muita sorte de estar nos Estados Unidos exatamente quando o Nirvana começou a estourar e em um período em que grandes discos eram lançados toda semana. Dei sorte de fazer o ‘Barulho’, pois capturou o espírito de uma época”, diz Barcinski ao GLMRM sobre a obra que apresenta material com Ramones, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, The Cramps, Jello Biafra, Mudhoney e muitos outros. “Era uma época em que havia poucas fontes de informações no Brasil, então, para muita gente, principalmente do interior e fora das capitais, o livro foi bem importante”, completa.

Autor de oito livros, criador e roteirista de “O Rei da TV”, série sobre Silvio Santos, e diretor da documental “História Secreta do Pop Brasileiro”, entre muitas outras atividades e lançamentos renomados durante a carreira, Barcinski relembra que as entrevistas e coberturas de shows na Terra do Tio Sam eram incertas, pois em uma era pré-internet onde tudo era agendado via fax, não havia garantia de que o combinado poderia realmente acontecer. “Muito ali era feito no improviso”, relata ele.

Inclusive, um dos arrependimentos do jornalista foi ter “esnobado” o Pearl Jam em uma dessas oportunidades que surgiu de repente.

“A assessora da Epic me ligou oferecendo para eu assistir a uma banda que estava tocando em São Francisco chamada Pearl Jam. Mas recusei e preferi ir a um outro show. Eles tinham acabado de lançar o ‘Ten’ e eu nem os conhecia. Hoje eu teria adorado ter visto-os em um local pequeno e ter entrevistado eles”.

Outro registro memorável eternizado em “Barulho” é a resenha do histórico show do Nirvana no Teatro Paramount, em Seattle. Até então, o trio liderado por Kurt Cobain era desconhecido para o público brasileiro. “Eu tinha combinado com a Sub Pop de entrevistar o Nirvana após esse show, só que cheguei nos EUA bem no dia do lançamento do ‘Nevermind’ e, nos 45 dias em que estive lá, eles passaram de uma banda desconhecida para a maior do mundo. Ou seja, ficou impossível. Esse show virou um acontecimento. Tinha MTV na porta, quinhentos jornalistas cobrindo… Eu cheguei a ir ao camarim, mas eles não tinham a menor condição de falar comigo”.

Capa de “Barulho 30 anos”. Foto: Divulgação

Versão deluxe

A nova edição do livro, intitulada “Barulho 30 Anos”, tem prefácio de Marcelo D2, traz o original na íntegra e mais uma segunda parte, “Mais Barulho”, com 70 páginas adicionais e 60 fotos inéditas de Alice in Chains, Black Sabbath, Eurythmics, Flaming Lips, Hole, Iggy Pop, L7, Legião Urbana, Moby, Soundgarden e muito mais. Deste novo material, Barcinski destaca e se orgulha de uma foto que tirou do último encontro entre Raul Seixas e Paulo Coelho em um show no Canecão, no Rio de Janeiro.

“É uma foto legal que foi muito reproduzida por aí e me dá um orgulho danado de ter tirado porque sou muito fã dos dois. Considero ela bem importante.”

Raul Seixas e Paulo Coelho. Foto: Andre Barcinski

Dos anos 90 à nova geração

Sem sombra de dúvidas, a versão original de “Barulho” guiou muita gente em direção aos bons sons na década de noventa, e é tida até hoje como um tipo de “bíblia do rock alternativo”. No entanto, sobre o relançamento, há uma questão interessante a ser levantada: será que trinta anos depois, a obra, que retrata artistas daquela época, conquistará a atenção dos jovens e da atual geração de consumidores de música? Para Barcinski, a resposta é positiva e o trabalho “com certeza continua relevante”.

“Eu fico impressionado com a minha filha de 14 anos que ama Nirvana. Outro artista que ela está ouvindo bastante é o The Cramps porque toca na série ‘Wandinha’ (da Netflix). As coisas são cíclicas, elas vão e voltam. Espero que muitos jovens possam ler o ‘Barulho 30 Anos’ e comecem a ouvir aquelas bandas.”

“Barulho 30 Anos” é um lançamento independente realizado pelo autor, e pode ser adquirido por meio de uma campanha de financiamento coletivo que fica no ar até 30 de abril. Confira em apoia.se/barulho30anos.

Joey Ramone em sua casa em NY. Foto: Andre Barcinski
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