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Durante a pandemia, as lembranças de Alceu Valença vieram à tona. Isolando em sua casa no Rio de Janeiro, o cantor e compositor se inspirou em suas vivências para fazer quatro álbuns, entre eles: “Sem Pensar no Amanhã” e “Saudade”, que já estão disponíveis nas plataformas de streaming. A prova dessa carreira sólida? Diversos shows marcados na Europa, onde as restrições estão menos rígidas com o avanço da vacinação. Outro feito recente é que sua música “Anunciação”, um ícone da MPB lançado em 1983, virou um hit também entre as novas gerações.

Ao Glamurama, o músico de 75 anos comenta sobre seu passado, marcado por diversas referências culturais e lembranças únicas, e o presente, onde seu trabalho segue sendo muito representativo, principalmente quando o assunto é música nordestina.

“Eu nunca fui atrás de ninguém, nunca tive alguma coisa para me inspirar, vamos dizer assim. Muitas pessoas se inspiraram no Rolling Stones, Roberto Carlos. Essas pessoas são ótimas, não estou falando mal de ninguém, de maneira alguma. Já outros artistas se inspiraram em um sambista qualquer. Eu não, fiz minha obra. Faço o que eu quero, sempre fui dessa maneira”

Alceu Valença

Segundo o cantor, suas músicas têm diversas matrizes. “Nasci em uma pequena aldeia, digamos assim (em São Bento do Una – PE), onde tinha uma feira com violeiros, cordelistas e sanfonistas. Toda essa coisa que influenciou o próprio Luiz Gonzaga anos atrás. Quando eu ia para o mato, ouvia os aboios dos vaqueiros no meio da caatinga, e isso entrou no meu ouvido. Isso foi o que criou o forró, vários gêneros que vem daí”, diz ele.

Além do talento, Alceu estava no lugar certo, cercado de boa influência. “No Recife, a minha rua era absolutamente cultural, do lado esquerdo da minha rua, morava uma cantora lírica que era apaixonada por mim (risos), chamada Maria Parísio. Eu imitava ela cantando enquanto estava no banheiro. Ela que me empurrou. Ela trabalhava na rádio e me levava para os programas de rádio, foi lá que conheci e vi Genival Lacerda. Na frente da minha casa, tinha um dos maiores poetas do Brasil, Carlos Pena Filho, e do lado direito, era a casa Nelson Ferreira, um dos maiores compositores de frevo de Pernambuco. Além do mais, na minha rua passava, quando era Carnaval, maracatus, músicas dos índios, dos caboclinhos, passava frevo de bloco, que tem uma relação muito forte com a música portuguesa, e frevo de rua. Tinha tudo isso e eu absorvi”.

Na conversa, o cantor relembra como foi o contato com seu primeiro instrumento. “Meu pai não queria que eu fosse artista, porque dois irmãos dele, meus tios, que chegaram a acompanhar até um dos maiores ídolos do Brasil, Orlando Silva, não tiveram uma carreira de muito sucesso. Papai tinha medo de eu entrar para a música e me lascar. Até que um dia, quando eu tinha uns 16 anos, minha mãe mandou me chamarem, eu estava jogando futebol, e aí fomos para o centro de Recife fazer umas compras, ela me obrigou a ir. Quando chegamos lá, ela parou na frente de uma loja de instrumentos e pediu para eu escolher um. Fiquei com medo de pedir um violão e ser caro demais, pedi um cavaquinho. Dai, ela me respondeu dizendo que eu merecia o violão. Nisso, aprendi por mim mesmo, sem professor, nem nada.”

Play para conferir o álbum “Saudade”, que firma a parceria do cantor com o guitarrista Paulo Rafael, com quem trabalha regularmente há 46 anos, mais precisamente desde que acompanhou Alceu na defesa da música “Vou danado pra Catende” no festival Abertura, em 1975.

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